Pagando a aposta pro meu primo. PARTE 67
Ele deu um passo para dentro, e a porta se fechou com um clique suave que ecoou no quarto silencioso. A única luz vinha da tela da TV, projetando sombras em seu rosto.
— Eu vim te buscar para levar pra festa — disse ele, avançando em minha direção.
Recuei instintivamente, mas peguei uma toalha dobrada na cômoda e estendi a ele. — Não me leve a mal, mas eu não vou.
Ele aceitou a toalha, enxugando o rosto e os cabelos molhados lentamente, como se ganhasse tempo. Seus olhos não me largavam. — Então joga a real — pediu, a voz mais suave agora. — Me diz o motivo pelo qual não quer ir.
Sentei novamente na cama, afundando levemente no colchão. A série ainda corria na TV, com o som ao fundo. — Não tem clima! — soltei, olhando para as mãos. — É outra realidade, entende? Não quero ir como primo ou como ex-namorado. Não quero dar satisfação sobre a gente pra ninguém. Sem contar que a Amanda... ainda não me desce. Eu tento, mas não me desce!
Ele se sentou ao meu lado, o peso dele alterou o equilíbrio da cama.
— A festa é minha — disse, com um sorriso triste —, e eu quero você lá. E foda-se o que eles vão pensar. Quanto à Amanda... acho que está na hora de você dar um voto de confiança pra ela, assim como eu dei um pro seu irmão.
— Eu tento, mas o ranço é maior.
Foi então que ele me tocou — pela primeira vez naquela noite. Seu braço deslizou por trás das minhas costas, num abraço lateral que era ao mesmo tempo familiar e estranho. — Agora se arruma e vamos para lá — sussurrou, seu hálito quente perto do meu ouvido. — Nossa família nos espera.
Meu corpo tensionou.
— Anderson, eu não vou! Não é assim que as coisas se resolvem! Pelo menos não dessa vez. Não é só porque você veio me buscar que eu tenho que ir atrás de você feito um cachorro.
Ele fechou os olhos, respirando fundo. Quando os abriu, havia uma faísca de impaciência neles. — Então me diz: o problema sou eu?
— Nesse caso, acho que eu sou o problema. — Falei.
A voz dele se afiou, ganhando um tom cortante que parecia cortar o ar entre nós.
— Fala! Eu vim de longe, pensando em comemorar meu aniversário com a família e, claro, com você. Você ainda está puto com o lance daquela foto?
A resposta escapou-me antes que eu pudesse contê-la:
— Falando em foto…por que não trouxe a piranha pra conhecer a família? Assim ela se habituava mais rápido.
Seus olhos incendiaram-se.
— Vai ficar nesse ciúme infantil? Se a gente estivesse junto, até entenderia. Mas não estamos. Porra, Renato! Já superamos coisas piores quando namoramos.
— Você não fez muito diferente quando ficou sabendo que fiquei com o Pedro, lembra? Aliás, você fez pior: preferiu terminar comigo.
Ele levantou-se.
—Vai ficar jogando na minha cara agora? Esquece isso! É passado! Tanto o Pedro quanto a mina da foto! — gritou, a voz rachando de raiva. — Não quer esquecer? Não quer me perdoar? Tudo bem. Mas não diga que eu não tentei. Acha que vim aqui só por causa dessa maldita festa? Claro que não, Renato. Você… a gente… é o motivo de eu ter vindo. Precisava que a gente se resolvesse.
Fiquei calado, observando ele verbalizar com uma sinceridade que doía.
— Só que agora eu não sei se realmente fiz a coisa certa — ele continuou, a voz quebrando. — Vai que você já tá em outra vibe, com outro cara...
Continuei olhando, incapaz de formular palavras.
— Eu não estou com ninguém! Fiquei sim com alguém, mas não fiz nada do que você não tenha feito. Só que eu não vou ficar esperando alguém que se encontra em outro estado, sabe lá fazendo o que...
Ele balançou a cabeça, inconformado.
— O que você quer, Anderson? Me diga! Pode parecer egoísmo da minha parte não aguentar um relacionamento a distância, mas não é. Já cansei de explicar, para você e na época para o Manuel. Eu preciso de toque, de presença. E você fala de ciúme... mas lembra das suas crises? Você já me agrediu com um cinto, Anderson. Isso pra mim é ciúme. E não estou jogando isso na sua cara agora; naquela época, eu já tinha te perdoado.
Ele paralisou, como se eu tivesse golpeado seu estômago. Seus olhos se arregalaram, e pude ver o peso daquela memória voltando para assombrá-lo. Provavelmente não contava que eu desenterrasse isso.
Quando finalmente falou, sua voz saiu rouca e com os olhos que tentavam segurar as lágrimas que tentavam sair:
— Ouça bem, Renato. Eu te amo muito. Você, sem sombra de dúvidas, é a pessoa que mais amei — e amo ainda. Contigo eu vivi coisas que nenhuma outra pessoa, homem ou mulher, jamais me proporcionou. Coisas que marcaram quem eu sou. Então, por favor, tira dessa cabeça que não foi suficiente. Porque pra mim… pra mim você sempre foi mais do que suficiente.
Ele fez uma pausa, engolindo seco, os olhos fixos em mim mas firmes:
— Foi você quem me mostrou que eu podia ser melhor. Lutei por você, me tornei alguém que eu nem sabia que podia ser. Cara, eu cresci tanto ao seu lado… aprendi a amar de um jeito que nem eu mesmo conhecia.
A voz dele baixou, tomando um tom mais íntimo e dolorido:
— Só que de um tempo pra cá, principalmente depois que eu terminei com você lá em Joinville — e eu já te falei, me arrependo amargamente disso —, parece que abrimos um abismo entre a gente..
A voz de Anderson cortou o ar, carregada de uma frustração que beirava a dor. Suas palavras não eram um ataque, mas uma exposição crua do que sentia.
— Renato, não vê que sigo tentando? Que ainda estou aqui? Que não desisti? Mas parece que tudo o que eu faço não é bem recebido por você E nada parece ser o suficiente pra acabar com essa distância. E isso… isso cansa, Renato. De verdade
Por um momento, fiquei em silêncio, sentindo o peso daquela declaração. Ele tinha razão em parte, e eu precisava ser honesto.
— Vejo, Anderson. Vejo cada coisa.
Minha voz saiu mais suave do que eu esperava.
— Noto o esforço, a paciência. O meu silêncio não é falta de notar, é medo de me acostumar de novo com algo que já me fez falta demais. Você desistiu de nós uma vez. Como eu confio que não vai acontecer de novo?
Olhei nos olhos dele, permitindo que ele visse a própria dúvida que me consumia.
— Eu não sei! — admitiu ele, as palavras saindo num sopro de desespero. — Eu só sei que quero resolver nossa situação. Sabe quando você sabe que quer algo, mas não tem ideia de como conseguir isso? Eu me sinto assim. Então, se tem uma coisa em específico que eu possa fazer, diga-me… me dê um sinal, qualquer coisa.
Ele parecia mais frágil agora, menos o homem seguro que minutos atrás comandava a situação.
Fiquei em silêncio por um instante, respirando fundo. A raiva estava em mim deu lugar a uma estranha calma.
— Anderson — disse, olhando nos olhos dele com uma serenidade que parecia nova até para mim, — você tem a faca e o queijo na mão. Pode parecer que não sabe, mas lá no fundo… você sabe.
Ele respirou fundo, como se buscasse forças para a última confissão:
Anderson: Olha, a responsabilidade pelo fim é minha, e eu carrego ela todo dia. O que eu não consigo carregar sozinho é a responsabilidade de consertar sozinho. De adivinhar o caminho inteiro de volta.
Sua voz perde um pouco a firmeza, mostrando a vulnerabilidade por trás da reclamação:
— Eu tô pedindo pra gente dividir isso. Eu assumo meu erro. Eu assumo a vontade de voltar. Vim aqui pra gente conversar, pra tentar uma última chance de voltar. Mas você está irredutível.
Anderson segura a cabeça com as mãos, a frustração transbordando em um tom quase suplicante.
— Me diz alguma coisa, pelo amor de Deus! Um sim, um não, um “vai embora”, um “fica”… qualquer coisa. Só não me deixa nesse vazio absoluto.
Ele me olha, seus ombros tensos, esperando qualquer reação minha.
As palavras dele ecoam, mas não encontram nada dentro de mim para se agarrar. Quando minha voz finalmente sai, é um sopro quase inaudível, plano e vazio.
— Eu não sei. Simplesmente… não sei o que fazer.
— Então tá tranquilo… não vou insistir — Lamentou ele.
Ele se dirigiu à porta, seus ombros curvados sob o peso da despedida.
— Vou voltar pra festa sem você, mas saiba que essa foi a última tentativa. Me dói dizer isso, mas tem coisas que a gente perde e não recupera. Acho que você é uma dessas coisas que perdi. Me desculpa por tudo, mas saiba que fui sincero e honesto com você.
Ele tocou na maçaneta, abriu a porta e saiu sem olhar para trás.
Um vazio imenso se abriu dentro de mim, e uma sensação aguda de perda me atravessou. Num único instante, um turbilhão de lembranças e arrependimentos me invadiu.
Ele veio. Ele se expôs. Ele pediu.
E eu… eu fiquei parado. Enrijecido pelo medo, pela desconfiança, pelo orgulho ferido. "Não sei", foi tudo o que eu consegui dizer.
Será que eu fui frio?
Ele não veio com exigências, não veio com chantagem ou manipulação. Ele veio quebrado, exposto, admitindo não saber, pedindo para tentar, não para dominar. E na minha ânsia de me proteger, de não assumir o risco de me machucar de novo, eu… eu criei uma muralha.
Ele veio aqui na melhor das intenções. E eu não facilitei as coisas.
O arrependimento agora era diferente. Não era mais sobre o que ele fez. Era sobre o que eu estava fazendo. Naquele exato momento. Deixando ele ir embora, levando aquela última imagem minha: estática, fechada, indecisa.
É assim antes que minha razão pudesse intervir, meus pés já estavam se movendo. Decidi ir atrás dele.
Ele já estava na sala, caminhando em direção à porta de saída, quando eu apareci no topo da escada.
—Anderson! — gritei, minha voz ecoando no silêncio. — Por favor, não vá embora. Fica!
Ele parou. Seu corpo ficou tenso por um momento, hesitante. Então, lentamente, ele se virou.
Desci os degraus apressadamente, acabando com a distância entre nós. Lágrimas escorriam silenciosas por seu rosto. Ele as enxugou com as costas da mão, num gesto rápido e quase envergonhado.
—Estão esperando por mim — ele sussurrou, a voz grossa de emoção.
— Então eu vou com você! — declarei, sem hesitar.
Um sorriso frágil, mas genuíno, surgiu naquela face que segundos antes estava marcada pela dor. Era como ver o sol depois de uma tempestade.
— Mas você vai ter que esperar eu me arrumar — alertei, já me virando para subir as escadas.
Ouvi sua voz aliviada e um pouco mais leve vindo da sala:
— Isso é moleza pra mim. Só não demore.
Subi as escadas correndo. No banheiro, tirei a roupa rápido, liguei uma playlist no celular e entrei no chuveiro. A água quente escorreu pelo meu corpo, e o atrito na pele foi lavando a ansiedade, aos poucos. Passei sabonete, lavei o cabelo e deixei o shampoo agir. De olhos fechados, comecei a enxaguar.
Quando abri os olhos, levei um susto: Anderson estava encostado na pia, me encarando.
— Posso entrar aí?
Levei um susto. — Nossa, você tá aí? Não te vi...
Ele riu baixo. — A intenção não era te assustar, não. Só queria me juntar a você. Vou entrar.
Não era mais um pedido. Era um aviso.
Olhei pra ele, querendo dar uma desculpa, mesmo desejando que ele ficasse.
— A gente vai se atrasar, Ander...
Meus olhos falaram por mim. Eu olhava cada pedaço do corpo dele que aparecia enquanto ele tirava a roupa.
Quando ele abriu o box e entrou, a atmosfera mudou. A água molhou seus cabelos escuros, escorreu pelos músculos do peito enquanto ele se aproximava. Seus braços me envolveram com familiaridade, como se nunca tivéssemos nos separado.
Sua boca encontrou meu pescoço com uma precisão que me fez gemer. A barba dele roçava minha pele, causando arrepios - ele sabia perfeitamente que aquele era meu ponto fraco.
Meu corpo todo entregava tudo o que eu sentia, e ele percebeu. Não deu tempo: nossas bocas se encontraram num beijo quente, Um beijo profundo, molhado, faminto. Nossas línguas se encontraram com uma urgência que falava de todos os dias que passamos separados. Eu gemi em sua boca, e ele sorriu contra meus lábios antes de me roubar outro beijo.
Suas mãos percorriam meu corpo com autoridade - uma na minha nuca, controladora, puxando meus cabelos levemente enquanto me beijava. A outra desceu pelas minhas costas, apertou minha bunda e me puxou contra seu quadril, onde eu já sentia sua pica dura pressionando contra minha coxa.
— Fica tranquilo — ele sussurrou no meu ouvido, entre um beijo e outro no pescoço. — Só relaxa.
Deixei minhas mãos descerem pelas costas dele, sentindo os músculos tensionados, a pele macia e quente. Ele me virou de costas, me apoiando na parede do box, e beijou meus ombros, minhas costas, enquanto suas mãos desciam pela minha cintura. Era como se estivesse refazendo a rota do meu corpo, marcando com toques onde a saudade tinha ficado.
— Quero que você seja meu presente hoje — sussurrou no meu ouvido, enquanto suas mãos desciam pelas minhas costas.
Tentei me afastar, mas meu corpo já traía minha resistência.
—Eu sei que você quer... Diga! — insistiu, mordiscando meu lóbulo.
— Querer eu quero. Não sei se devo — consegui responder, ofegante.
Ele segurou meu queixo, trazendo nossos rostos para perto até que nossos lábios quase se tocassem.
— Não só deve como pode, porque eu também quero — sua respiração quente batia em meu rosto.
Decidi que ali não era o momento.
— Não acho uma boa ideia! — consegui me desvencilhar, afastando-me um passo.
Seus olhos percorreram meu corpo ainda excitado, depois o dele.
— Mas por que, Renato? Olha o meu estado, olha o seu! — gestos amplos indicavam nossa evidente excitação.
— Eu sei — respondi, cruzando os braços. — Aliás, era para você estar me esperando lá na sala. Subiu porque quis.
Ele deu uma risada amarga.
— Eu não acredito que você vai me deixar na mão assim!
Peguei a toalha e a envolvi em meu corpo, falando:
— Se quiser gozar, bate uma aí. Eu vou pro quarto me arrumar.
Vou para o meu quarto e escolho um look para um dia chuvoso em uma festa em família: calça jeans escura, um moletom de algodão azul bebê e um tênis. Passei um perfume suave, dei uma última olhada no espelho e desci para a sala, onde ele mexia no celular.
Desci a escada e perguntei, com um sorriso deboche:
—E aí? Conseguiu se aliviar depois que eu saí?
Quando me viu, ele levantou, os olhos percorrendo meu corpo num relance rápido, e respondeu:
—Você é um vacilão… Mas o que é teu, tá guardado. E muito bem guardado.
Ele abriu a porta, e eu a tranquei atrás de nós enquanto ele se encaminhava para o carro. Enquanto trancava o portão, uma pergunta me veio à mente: Quem deu a chave a ele?
Entrei no carro ainda rindo, e ele não perdeu tempo:
—Tá rindo de quê?
— É que me veio uma pergunta: quem te deu a chave da minha casa?
Ele riu, manobrando com uma mão só:
— Para isso, montamos uma força-tarefa. Falei com seu irmão, ele topou me ajudar com a chave — e antes que você reclame, tive autorização do seu pai.
— Olha… — revirei os olhos. — Só posso concluir que andam conspirando contra mim.
— Mas a nosso favor! — ele retrucou. — E pensar que, em outro tempo, isso seria impossível…
— Verdade — concordei, olhando pela janela.
No meio do percurso, ele admitiu, a voz mais baixa:
— Só não entendi por que você não deixou as coisas rolarem lá. Você tava curtindo… e eu também. Não tinha motivo pra cortar o clima.
Respondi na mesma hora:
— Porque as coisas mudaram, Anderson! A gente precisa conversar, acertar alguns pontos antes. Não vamos transar como dois animais no cio.
Ele riu, e o olhar se acendeu:
— Se eu te disser que meu tesão não perde nem pra animais no cio, você acredita? Mas lembre-se: até meia-noite, ainda é dia.
Saquei a mensagem e provoquei:
— Cinderela que o diga! Mas por que tá dizendo isso?
— Porque eu ainda tô com tesão — ele falou, com uma segurança que quase me derrubou. — E você ainda vai ser meu.
Ri, abanando a cabeça.
— Já que você tá dizendo…
— Renato — a voz dele ficou séria, mas suave. — Ainda vamos conversar a sós. Não hoje… mas antes que eu volte pra Joinville.
Quando chegamos ao portão da casa da minha tia, um frio na barriga tomou conta de mim. Parecia a primeira vez que eu pisava ali. Anderson pousou a mão no meu braço, firme:
— Respira. E não liga pro que vão pensar. Eles não sabem nem a metade do que a gente viveu.
Ao entrar, percorri o ambiente com o olhar. Ele tinha razão: estavam apenas os da família, nem mesmo o Naldo – pelo qual ele tinha um respeito enorme – foi convidado. Era realmente uma celebração íntima, como ele disse.
A simplicidade do número de convidados, no entanto, não se refletia na festa. Uma mesa farta exibia um bolo elaborado, docinhos delicados, bombons finos e, é claro, o irresistível churrasco. Minha tia nos avistou e veio rapidamente em nossa direção.
— Estava já ficando preocupada! — disse ela, me abraçando.
Anderson deu de ombros, com um sorriso malandro.
— A culpa é do Renato, que demorou uma era para se arrumar.
Ela me olhou, sorridente:
—Tudo bem, o importante é que chegaram. Uma pena a chuva, mas estamos todos aqui.
Passei pela Amanda e acenei para ela e para Sidney, seu namorado. Em seguida, me aproximei de Letícia e do meu irmão.
— Pensei seriamente em voltar lá em casa para ver o que estava acontecendo — Ricardo disse, sérião.
Soltei uma risada.
—E aí? — ele insistiu. — Tudo tranquilo?
— Mais ou menos — respondi, ainda sorrindo. — A gente meio que falou umas verdades um para o outro, mas estamos em paz. Pelo menos por enquanto.
Letícia deu um sorriso:
— Que bom! Já é um começo.
— Vocês voltaram? — perguntou meu irmão, direto ao ponto.
— Não — neguei com a cabeça. — Como eu disse, é uma trégua. Mas vamos conversar antes dele voltar para Joinville.
Anderson chegou à mesa e se acomodou entre nós. Com um sorriso maroto, exibiu e balançou a chave da minha casa — que reconheci na hora — como se fosse um troféu, antes de entregá-la ao Ricardo.
— Valeu, mano!
Ricardo piscou para mim e respondeu:
— Tamo junto, pô! Fechamento total. Podem contar comigo.
Anderson completou, rindo:
— Pode crer! Seu irmão até deu uma enrolada, mas eu sabia que ele viria, mesmo que fosse amarrado.
Eu ri da cena, mas por dentro sabia que a verdade era outra. Aquela versão heroica que ele contava era só fachada. Se eu não tivesse corrido atrás dele no corredor, se meu instinto não tivesse falado mais alto que o orgulho, ele teria ido embora sozinho. E eu, com certeza, não estaria ali agora, dividindo a mesma mesa com ele. Era curioso como, às vezes, as histórias que contamos escondem as frágeis verdades que realmente as moveram.
Ali na festa, Anderson fazia de tudo para me agradar, até parecia que eu era o aniversariante e não ele. Enchia meu prato com as melhores porções de carne, me servia refrigerante e ficava atento a cada necessidade. Me cuidava com uma dedicação que só se vê em casais, e eu notava um brilho especial no seu olhar, como se aquela cumplicidade fosse um jogo secreto que só nós dois entendíamos.
Foi nesse clima que meu pai se aproximou, inicialmente todo sorridente e satisfeito com a festa. Mas veio o primeiro mole:
— Que bom que vocês se acertaram! Fico muitíssimo feliz, Anderson! — disse, batendo no ombro dele. — Esses dias mesmo eu falei pro Renato: vocês estavam perdidos, precisavam decidir o que queriam. Porque eu sei que se gostam! Só de falar do seu nome, os olhos dele brilham.
Olhei para Anderson, esperando algum sinal de constrangimento. Em vez disso, encontrei um sorriso satisfeito e descontraído. Ele parecia gostar da ideia, parecia se alimentar daquela percepção de todos ao nosso redor de que tínhamos reatado. Era como se, naquele espaço entre a verdade e a aparência, ele encontrasse o terreno perfeito para reconquistar meu coração.
Anderson, sem qualquer hesitação, respondeu ao meu pai:
— Obrigado Tio. Sem a sua ajuda, essa aproximação não teria sido possível.
Decidi então entrar no jogo, brincando com meu pai:
— Agora o senhor está conspirando contra o seu próprio filho, é?
Ele me cutucou o braço, rindo.
— Ah, filho! Duvido que você não tenha gostado... tanto que está aqui, não está? Vá enganar outro!
Minha mãe se aproximou, com um sorriso maroto estampado no rosto.
— Só você, Anderson, para fazer ele aparecer aqui!
Ele riu, sacana, e piscou para mim.
— É que eu sei pedir com jeitinho.
Ela me olhou, depois voltou os olhos para ele, fingindo seriedade.
— Então me ensina suas técnicas! Preciso começar a usar com o Renato.
Meus pais se afastaram, rindo entre si, e Anderson se inclinou para mim, falando baixinho:
— Pelo visto o povo já deu como certa a nossa volta.
Esbocei um sorriso, mantendo o jogo.
— E você, pelo visto, tá adorando a propaganda enganosa. Só pra constar: não voltamos.
Ele me encarou com um misto de desafio e diversão nos olhos.
— Você é um vacilão,Renato. Mas só para te atualizar: falta isso daqui — fez um gesto preciso com o indicador e o polegar, mostrando uma distância mínima entre eles.
Não disse nada, apenas balancei a cabeça e ri, incapaz de disfarçar a onda de afeto que aquela cena provocou em mim.
Foi quando o Sidney se aproximou, apertou minha mão e perguntou:
— Oi Renato, tudo bem? Você tem um minuto para mim e para a Amanda?
Olhei para Anderson, sentindo que talvez fosse a hora de ceder ao fluxo da noite.
—Tenho, sim.
— Ela está na sala — ele disse, e eu o segui, deixando para trás a mesa.
Sentei-me no sofá pequeno enquanto ele se acomodava no oposto ao lado dela. Sidney deu as mãos à Amanda com um gesto encorajador.
— Faz tempo que queríamos ter esta conversa com você — começou Amanda, voz trêmula.
Sidney se inclinou para frente, suas mãos entrelaçadas transmitindo uma serenidade deliberada.
—Renato, a Amanda me contou tudo o que causou, e sei que não é pouca coisa. Ela tem ciência disso e assume total responsabilidade.
Respirei fundo, sentindo o peso de meses de silêncio começando a rachar. Se ela quisesse falar, teria que me ouvir também. A tensão que carregava há tanto tempo finalmente encontrou uma válvula de escape.
– Éramos melhores amigos. Eu dormia no seu quarto. Mudei para o quarto do Anderson a seu pedido, porque você disse, e com razão, que eu era um rapaz e era melhor dividir o quarto com ele.
Minha voz era firme – Mas tudo mudou quando me assumi gay. Na época, nos afastamos. Até que você descobriu que eu estava com seu irmão.
Meu olhar perfurou o dela, sem deixar espaço para fuga.
– E você ficou louca, Amanda. Obcecada. Começou a perseguir a gente, até chegar ao ponto de envenenar meu próprio irmão contra mim e manipulá-lo. Você foi ruim. Foi egoísta. Só pensou no seu ciúme doentio, na sua raiva. Não pensou no seu irmão, que teve que sair de casa por causa da sua homofobia e da sua família.
Ela tentou se defender:
– Você tem que tentar me entender também! Descobrir que meu irmão… que já saiu com várias das minhas amigas… estava se envolvendo com você, meu primo, que era tão próximo… Me fez reagir daquele jeito. Foi errado, eu sei! Mas qualquer um na nossa família teria reagido assim.
– Não! – cortei, secamente. – Não mesmo. Há uma diferença crucial entre você e o resto da nossa família: eles tiveram seu momento de negação, mas evoluíram. Eles nos apoiam. Meus pais foram os primeiros. Você… você escolheu persistir no ódio.
– E o que você me diz de Daniel? – ela atirou, desesperada para mudar o foco. – Não acha que eu me senti traída?
Sidney nos olhou, perplexo. – Daniel… é o seu ex, né, Amanda?
– Sim – antecipei a resposta, mantendo o controle da narrativa. – Daniel é o ex dela. Um cara que, na época, a amava muito. Mas Amanda sempre teve um ciúme possessivo dele. Ele era motivo de piada entre os meninos por ser tão controlado por ela, tão pau mandado.
– Tá, entendi isso – disse Sidney, confuso. – Só não sei onde vocês querem chegar com esse assunto.
– Daniel e ele tiveram um caso, segundo o Renato, depois que nós terminamos – explicou Amanda, com amargura. – Me senti traída. Afinal, depois de pegar meu irmão, foi se engraçar com meu ex. Admito, meu ódio por você, Renato, inflamou. Eu queria me vingar a todo custo.
Soltei uma risada sarcástica e cortante.
– Amanda, você precisa botar na sua cabeça que, naquela época, eu só tinha olhos para o seu irmão. Não vou mentir: não achava seu namorado um gato? Achava, sim. Mas jamais, jamais pegaria ele estando com seu irmão, e ele namorando você! Eu não sou esse tipo de "viado" que você idealizou na sua cabeça doentia.
Ela continuou me encarando, exigindo uma resposta que já não existia.
– Sabe de uma coisa? – disse, minha voz baixa agora, carregada de uma fadiga infinita. – O Daniel realmente começou a me cantar, a jogar indiretas, antes mesmo de vocês terminarem. E eu nunca, nunca dei ideia. Não por ele, mas por lealdade ao seu irmão. E a você, na época minha amiga. Só fiquei com o Daniel numa noite, meses depois que você conseguiu destruir meu relacionamento e eu tinha terminado com seu irmão. Uma noite. Uma única noite que você soube e usou como a grande justificativa para tudo.
Fiz uma pausa, deixando o silêncio pesar.
– Você não reagiu por ciúme de Daniel. Você não reagiu por traição. Você reagiu porque não suportava a ideia de que dois homens – seu irmão e seu primo – podiam se amar sem a sua permissão. E quando um terceiro, o seu ex, entrou na equação, você usou isso como desculpa para tornar seu ódio legítimo. Foi tudo uma grande desculpa para a sua homofobia.
Eles me ouviam em silêncio. Sidney, por sua vez, alternava o olhar entre Amanda e eu, como um mediador à espera do momento certo.
— Eu sei que a religião de vocês condena o que eu sou, como se eu tivesse escolhido ser gay. O que pensam, eu não sei, nem quero saber — continuei, a voz carregada de um cansaço antigo. — Mas se me vêem como um endemoniado, é melhor terminarmos aqui. Não mudo quem sou, e estou cortando toda energia ruim da minha vida.
Amanda baixou os olhos. Sidney, com uma calma que contrastava com a tempestade no meu peito, prosseguiu:
— Não, Renato. É exatamente por respeitar quem você é que esta conversa é importante. Para que possam perdoar e seguir. Ela é da igreja agora, vive uma nova vida.
Um surto de amargura me veio.
— Ser da igreja não quer dizer nada! Muitos vivem vida dupla! A própria Amanda dizia que ia pra igreja e ia pra outros lugares que nem preciso falar.
— Você está certo — ele assentiu, sem negar. — Mas há um versículo que diz que as coisas velhas ficaram para trás. Amanda se converteu em uma igreja radical e, por um tempo, seguiu um evangelho de ódio. Usou a religião como arma. Mas a Amanda que está aqui hoje é diferente. Mudou de igreja, e foi na nova, onde se pratica uma fé genuína, que a conheci e vi uma transformação real.
Amanda ergueu os olhos, agora sinceros.
— É a verdade, Renato. Me arrependo de cada coisa. Sei que não facilitei. Mas hoje é diferente. Me dê essa oportunidade de mostrar que aquela Amanda morreu.
O silêncio que se seguiu foi pesado, mas não mais hostil. Era o som de uma ferida sendo, finalmente, limpa. Então, fiz a pergunta crucial.
— E se um dia eu voltar com o seu irmão? Como será?
Sidney se inclinou para responder, mas Amanda tocou seu braço.
— Deixa comigo, amor.
Ela me fitou, os olhos límpidos e sérios.
— Renato, eu não vou ser contra. Aprendi que o seu modo de vida não precisa ser o meu para que eu te respeite e te ame como família. A salvação é individual. Cada um de nós responde por si. Se você e meu irmão encontrarem a felicidade um no outro de novo, quem sou eu para interferir? Minha função é orar por vocês, e amar vocês, ponto final.
Fiquei em silêncio, processando. Era a resposta mais verdadeira. Uma última barreira interior desmanchou-se.
— É por isso que estamos aqui, Renato — Sidney completou. — O tempo passou. Você mudou, Amanda também. Está na hora de fazerem as pazes.
— Na verdade, eu é que devo te pedir perdão — Amanda tomou a palavra, o voz trêmula mas firme. — Renato, estou com o coração renovado. Você me perdoa? É capaz de liberar perdão sobre a minha vida?
Olhei para ela. Se era teatro, Hollywood estava perdendo uma grande atriz.
— Amanda, hoje eu e seu irmão falamos de você. Você era um dos motivos pelos quais eu me negava a vir. Mas ele me disse para te dar um voto de confiança. E depois de ouvir tudo que ouvi... eu te perdôo. Mas não pense que vou esquecer tudo de uma hora pra outra. Não sou assim.
— Só o fato de você ter liberado o perdão já é o suficiente — Sidney disse. — O perdão é um processo. Vocês vão trabalhar isso no dia a dia.
Ele então sugeriu uma oração. A sugestão me pegou de surpresa, mas o tom era genuíno. Por respeito, aceitei.
Formamos um círculo, entrelaçando as mãos. Em voz suave, Sidney agradeceu a Deus pelo momento de perdão. Um silêncio quente pairou sobre nós, como um nó que se desata sem estalo.
Ao abrir os olhos, encontrei o olhar sereno de Amanda e o sorriso tranquilo de Sidney.
— Posso pedir que se abracem? Para selar este momento?
Amanda me olhou, buscando permissão. Ao meu aceno, ela veio e me abraçou, sussurrando um "obrigada" sincero. Sidney nos envolveu em um abraço coletivo, breve mas significativo.
— Vamos voltar para a festa — ele sugeriu.
Amanda me lançou um último olhar grato antes de saírem. Os segui e por um instante, senti um peso finalmente se dissipar.
No caminho de volta, senti que todos os olhares estavam voltados para nós. Antes de me sentar, Sidney sugeriu que eu ficasse um pouco mais com eles. Aceitei o convite e me juntei aos meus tios. Era claro que todos ali sabiam o que havia acontecido dentro da casa. Minha tia me abraçou em silêncio, num gesto que dizia mais que palavras. Anderson, de longe, acompanhava tudo — e quando nossos olhares se encontraram, ele sorriu e balançou a cabeça em aprovação, num aceno que confirmava: eu havia feito a coisa certa.
O pouco tempo que fiquei ali me permitiu conhecer um pouco de Sidney. Aos 26 anos, ele era o que muitos chamariam de hetero padrão: branco, cabelos castanhos, bigode cuidadosamente aparado, um pouco acima do peso. Seu visual impecável devia ser benefício da loja de roupas que mantinha no centro da cidade.
Conversei um pouco sobre minha vida com ele, e sua reação foi mais acolhedora do que esperava. Chegou a brincar, dizendo que se precisasse de um contador no futuro, já sabia com quem falar. O ambiente descontraído me fez baixar um pouco a guarda, ainda que soubesse que a reconciliação com Amanda seria um caminho mais longo.
Pouco depois, me despedi e voltei para onde meu irmão Ricardo e Anderson estavam sentados. Ao me aproximar, Ricardo me olhou com uma expressão de preocupação.
— Está tudo bem? — ele perguntou, seu olhar atento.
— Está sim — respondi, sentando-me ao lado dele.
Então me virei para Anderson, cujos olhos não haviam me largado desde que saí da casa.
— E por aqui? —perguntei, buscando em seu rosto alguma reação.
Ele segurou meu olhar por um instante, seus lábios formando um sorriso suave antes que as palavras saíssem:
— Melhor agora.
A maneira como ele disse isso — tão simples, mas carregada de significado — fez algo dentro de mim se acalmar. Seus joelhos tocaram os meus debaixo da mesa, um contato discreto que falava mais do que qualquer discurso. Enquanto o som das conversas ao redor continuava, aquele pequeno círculo entre nós parecia ter encontrado seu próprio equilíbrio.
O tempo foi passando e num certo comecei a notar que Anderson conferia o celular com uma frequência suspeita.
— Por que tanta olhada pra essa tela? — perguntei, inclinando-me para ele.
— Tô vendo a hora — ele respondeu, num tom neutro que não me convenceu.
— Pra quê? — insisti, curioso. — Tem algum compromisso depois da festa.
Ele esboçou um sorriso contido.
— Às cinco em ponto o parabéns vai cantar.
Voltamos a interagir com os outros, mas agora eu também ficava de olho no relógio, envolvido pelo ar de expectativa que ele criou. Quando os ponteiros, reais ou imaginários, marcaram 17h, ele se virou para mim com um sorriso largo e os olhos brilhantes.
— Tá preparado?
— Preparado pra quê? — fingi desconfiança, embora já soubesse.
— Pro parabéns! — ele anunciou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Antes que eu pudesse reagir, ele ergueu o copo e bateu o garfo com força, produzindo um tilintar estridente que cortou o burburinho.
— Gente! Atenção aqui! — ele gritou, com uma voz de comemoração que ecoou pelo jardim. — Vamos cantar o parabéns… pra mim!
A galera riu da graça, da surpresa daquela declaração. E num movimento espontâneo, todos se aglomeram ao redor da mesa onde o bolo estava. Minha tia, sorridente, acendeu as velas. Nem foi preciso apagar as luzes; o sol da tarde ainda dourava tudo, como se o próprio dia se recusasse a terminar antes daquela celebração.
Nossos parentes cantavam parabéns e batiam palmas, e no centro daquilo tudo, ele também batia palma e ria, olhando diretamente para mim. Ao meu lado, Ricardo e Letícia seguiam a melodia, mas eu mal conseguia me concentrar, preso naquele olhar que parecia querer falar comigo através da distância e do barulho.
Quando o parabéns acabou, Ricardo puxou o coro:
—Discurso! Discurso!
E todos seguiram, inclusive eu.
Ele ergueu as mãos, pedindo silêncio, e pegou o copo.
—Vou fazer um discurso breve, porque todo mundo quer comer bolo — começou, arrancando risos. — Mas, primeiramente, quero agradecer a cada um que está aqui. Todos nós sabemos que, num passado recente, nos reunir no mesmo lugar era quase impossível.
O ambiente se aquietou.
— Bom, o que vou falar aqui vai pegar alguns de vocês de surpresa…
A voz de Anderson soou firme, mas dava pra perceber o esforço para mantê-la estável.
— Como sabem, minha vida deu um giro de 360 graus. Tive que ir pra longe trabalhar, recomeçar do zero. E não foi fácil. Pouca gente sabe o que vivi lá, mas consegui me reerguer e me estabilizar. Só que…
Ele fez uma pausa, e seus olhos percorreram o ambiente, como se buscassem coragem.
— Não me sinto cem por cento lá. Sinto que meu ciclo por aquelas bandas já se encerrou. E acho que talvez seja a hora de voltar pra cá, porque meu lugar é aqui. Junto da minha família, e de quem eu amo.
Engoli seco. Minhas mãos estavam suando, e o coração batia forte no peito.
— Pensei muito nisso, conversei com o Ricardo — ele olhou para meu irmão, que acenou com a cabeça, confirmando — e ele me incentivou. Cheguei à conclusão de que talvez seja o momento certo de voltar pra casa.
Foi então que escutei minha tia gritar e chorar de alegria. Anderson, ao ver a mãe emocionada, sorriu e também se comoveu. Sua voz falhou um pouco ao continuar:
— Tô voltando, pai e mãe. Não sei se me aceitariam de volta, mas gostaria muito de morar aqui com vocês de novo. Se não rolar, tudo bem, eu entendo.
Meu tio, com os olhos marejados, respondeu de forma simples, mas carregada de significado:
— Essa casa sempre foi sua, filho. Pode voltar.
Minha tia já se levantava para abraçá-lo, mas ele ergueu a mão, suave.
— Calma… ainda não terminei.
Ele pigarreou, respirou fundo e continuou, agora olhando diretamente para mim.
— Família… não é segredo pra ninguém aqui a minha relação com o Renato. A gente terminou, mas ainda temos muito o que conversar e resolver.
Todos os olhos voltaram para mim. Senti as pernas fracas, como se o chão fosse desaparecer.
— Renato… o que eu quero dizer pra você é que a minha volta para Volta Redonda também é uma tentativa de voltar… de me reaproximar. Porque viver longe de você está sendo horrível.
O silêncio que se seguiu foi quente, intenso, carregado de emoção. Eu não sabia o que dizer. Fiquei parado, tentando digerir cada palavra, cada camada de significado naquela declaração feita diante de todos.
Até que Ricardo se inclinou e sussurrou baixo no meu ouvido, num tom de cumplicidade que me ancorou de volta à realidade:
—Eu te falei, mano! Ele é amarrado em você, tá ligado?
E então, como se tivessem liberado o ar preso em todos os pulmões, o povo explodiu em aplausos. E eu, ainda sem palavras, deixei que um sorriso pequeno, quase desacreditado, surgisse no rosto — o primeiro de muitos que, eu sentia, estavam por vir.
Ele mal acabou o discurso e eu me afastei em direção à mesa. Não por desdém, mas porque sentia o peso dos olhares, a expectativa silenciosa por uma resposta. Era como se ele tivesse colocado uma responsabilidade enorme sobre meus ombros, tornando-me o motivo central da sua volta.
Ainda o vi, à distância, anunciando que o primeiro pedaço de bolo era para sua mãe. Pouco depois, aproximou-se com dois pratos, entregando-me um com um pedaço generoso. Sentou-se ao meu lado. Por um momento, o silêncio foi preenchido apenas pelo ato simples de degustar o doce.
— E aí, não vai falar nada não? — ele perguntou, com um sorriso que tentava disfarçar a insegurança. O medo da minha reação estava claro em seus olhos.
— Sobre sua volta? — indaguei, dando-lhe uma abertura.
— Sim! — confirmou de imediato, ansioso.
— Não esperava! De verdade. Que bom que estará de volta. Seus pais, de fato, adoraram a notícia — expliquei, mantendo minha resposta focada na família.
— Mas eu quero saber se você gostou, o que acha disso. Meus pais eu já sei. Quero saber de ti — ele insistiu, falando sério.
— Claro que gostei! Até porque aqui você estará com os seus. Não se sentirá sozinho.
— Sendo assim — ele encostou-se mais próximo, baixando a voz —, aquele papo de relacionamento a distância não serve mais como pretexto, concorda?
— Sim, mas teremos que conversar.
— Eu sei. E podemos conversar até o dia doze. Mas hoje... hoje eu tenho uma proposta pra te fazer.
— Uma proposta? Diga — repliquei, lambendo os dedos sujos de chantilly.
— Continuar aquilo que começamos na sua casa. Sem compromisso.
Ri da ousadia, e num tom irônico, brinquei:
—Então quer dizer que aqueles beijos não foram suficientes?
Ele riu, sacando a ironia.
—Você me conhece, foi bom, mas quero mais. Você inteirinho como presente, o pacote completo.
— Mas você já me tem como presente! Eu ter vindo aqui, ter perdoado a Amanda... já é um presente e tanto.
Ele não se deu por vencido, seu olhar era ímã e fogo.
—Mas sempre tem a cereja do bolo. E no nosso caso... uma noite juntos. Num motel. Deixo você escolher qualquer um. Seria fechar a noite com chave de ouro.
Segurei seu olhar, o sabor do bolo ainda doce na minha boca, o sabor dele ainda mais doce na minha memória. Um sorriso lento se desenhou nos meus lábios.
— Sua cara nem queima né, Anderson. — Suspirei, fingindo uma relutância que já não sentia. — Mas já que é a cereja do bolo... tudo bem. Eu escolho o motel.
— Sério?! — perguntou ele, ainda não crendo que eu estava topando.
— Sim, só porque gostei do discurso, mas lembrando que será uma noite de sexo sem compromisso. A gente tem muito o que conversar.
— Eu tô ligado, Renato! Vou pegar o carro do meu pai e a gente vai.
— Não. A gente vai esperar a festa acabar. Eu vou pra casa me preparar e você me pega lá em casa.
Aceitar não significava me entregar de vez, mas era um novo capítulo que se iniciava — e, no fundo, eu mal podia esperar para vivê-lo.
Pouco tempo depois, comecei a sentir que era a hora. O ápice emocional já tinha passado, e ansiedade começava a falar mais alto. Manifestei o desejo de ir embora para meus pais, que, compreensivos, concordaram que era o momento exato.
— Já fizemos nossa parte por hoje — disse minha mãe, tocando meu ombro com carinho.
Me levantei e fui até meus tios, que ainda conversavam perto da mesa de bebidas.
—Tio, tia... vou indo. Muito obrigado por tudo, de coração.
— Ora essa, Renato! Essa casa é sua, querido — disse minha tia, puxando-me para um abraço.
— Aparece quando quiser, nem precisa avisar — completou meu tio, com um sorriso que não deixava dúvidas sobre a sinceridade.
Em seguida, me aproximei de Amanda, que conversava baixo com Sidney, apoiada no ombro dele.
—Vou indo, Amanda. Até logo, Sidney.
Ela se virou, e seu rosto ainda carregava um ar de gratidão.
—Obrigada de novo, Renato. Por ter ouvido, por ter...
Cortei-a com um sorriso e uma brincadeira:
—Pelo amor de Deus, Amanda! Toda vez que me ver vai ficar me agradecendo? Vira essa página, mulher!
Ela riu, sem graça, mas aliviada. Sidney apertou minha mão com firmeza e, com um olhar de cumplicidade, disse apenas:
—Vai lá, Renato. Se cuida.
Meu irmão, como se estivesse só esperando um sinal, apareceu ao meu lado com as chaves do carro na mão.
—Aproveitei o bonde e vou junto. Tô morto.
E assim, saímos. Sem alarde, sem discursos, mas com um clima de dever cumprido e, quem diria, um fio de esperança no ar.
O caminho de casa foi tranquilo. Meus pais, no banco da frente, comentavam sobre a festa e, não disfarçavam o orgulho, me elogiando por ter ido e por ter enfrentado a conversa com a Amanda.
— Eu não sei porque o espanto — disse, olhando a paisagem noturna pela janela. — Eu sempre soube me comportar em festas. Saí de cabeça erguida, da mesma maneira que entrei.
— A gente sabe disso, filho — minha mãe respondeu, suave. — Mas o lance da Amanda… foi realmente inesperado. E muito bonito.
Meu pai concordou pelo retrovisor:
— E o Anderson dizendo que vai voltar? Isso foi de cair o queixo.
Houve um silêncio no carro, um vácuo claramente armado para que eu dissesse algo. Deixei que pausa ficasse no ar por um instante antes de soltar, com naturalidade calculada:
— Pois é. Ele vai voltar. Pra ficar de vez.
Percebi o olhar rápido que meus pais trocaram. Antes que conseguissem formular a próxima pergunta, cortei qualquer tentativa:
—E, aliás, chegando em casa, eu vou me arrumar. Tenho um after com ele, inclusive.
— Tem o quê? — indagou minha mãe, confusa.
— After! — ri, sabendo que nem ela nem meu pai estariam familiarizados com o termo. Expliquei logo em seguida: — Vou sair com o Anderson! Ele vai me buscar daqui a pouco. É o tempo de eu tomar um banho e me arrumar.
Meu pai soltou uma risada baixa, divertida:
— After… vocês, jovens, complicam os nomes das coisas.
Mas minha mãe, sempre prática, puxou a realidade para o centro:
— Renato, amanhã você trabalha!
— Mãe, eu sei — respondi, num tom que tentava equilibrar paciência e firmeza. — Pode ficar tranquila, vou trabalhar sim. Eu sei dos meus compromissos.
Ela resmungou algo inaudível, mas foi meu pai quem, com um suspiro de quem entende que os filhos precisam viver, deu a palavra final:
—Deixa ele. Ele já é homem.
Subi para o banheiro com um misto de pressa e antecipação. A água quente do chuveiro escorreu pelo meu corpo, lavando simbolicamente o cansaço da festa e preparando-me para o que estava por vir. Fiz uma higiene anal cuidadosa, daquelas que são ao mesmo vez práticas e ritualísticas. Ao sair, sequei-me com a toalha e passei um hidratante de aroma suave pela pele, sentindo-a macia ao toque.
No quarto, escolhi um look deliberadamente leve e confortável: uma camiseta de algodão, um shorts e um tênis. A lógica era simples — onde quer que fôssemos, eu estaria pronto para tirar aquelas roupas tão logo entrásemos. Havia uma liberdade tácita nesse pensamento.
Estava me arrumando quando o celular vibrou. Era Anderson.
—Tô no portão.
— Já desço — respondi, baixinho.
Desci as escadas e encontrei meus pais na sala, vendo TV. Pareciam tranquilos, mas senti seus olhares discretos me seguindo.
—Tô indo, gente — avisei, tentando soar natural.
Minha mãe apenas acenou, e meu pai disse:
— Se divirtam. Qualquer coisa ligue.
Saí e lá fora, o carro estava com o motor ligado, e Anderson me esperava ao volante. Ao me ver, seus olhos acenderam. Abri a porta do passageiro e, antes mesmo de entrar, soltei com um sorriso provocante:
— E aí, tá preparado? Vai encarar?
Entrei no carro e fechei a porta. Ele me olhou, e eu vi aquele fogo familiar, misturado com uma determinação que não via nele há tempos.
— Nunca tive tão pronto quanto agora — ele disse, e a voz saiu grave, promissora.
Deu partida e, enquanto saía, deslizei a mão sobre sua coxa, num gesto que era tanto de afeto quanto de confirmação. A noite mal começaral.
— Para onde vamos? — Ele perguntou.
— Estava brincando, pra mim tanto faz. — eu respondi.
— Não! Faço questão que você escolha. O combinado não sai caro.
— Então vamos no Loves Motel (nome fictício) Gosto dele. — respondi.
Um sorriso de canto de boca se desenhou em seu rosto enquanto ele ligou o som. Uma melodia suave preencheu o carro, e seguimos.
O carro deslizava pela avenida iluminada, envolvido pela trilha sonora suave que ele escolhera. De repente, ele voltou ao assunto que parecia ocupar seus pensamentos.
— Você viu a reação da minha mãe, né? — Anderson perguntou, as mãos firmes no volante enquanto navegávamos pelas ruas iluminadas. — Foi a coisa mais espontânea do mundo.
— Sim, ela é quem mais queria você de volta. — respondi, observando como seu rosto se suavizava ao falar da mãe.— Dava pra ver nos olhos dela a alegria.
Ele sorriu, e seguiu contando com crescente entusiasmo:
— Já meu pai é mais contido, você sabe como ele é. Mas depois veio até mim e simplesmente disse: 'Finalmente, já era hora'.
Aproveitando que o assunto estava aberto, perguntei:
— Mas essa decisão veio do nada? Foi algo repentino?
— Bom, como você sabe — explicou, baixando levemente o volume do rádio — eu vinha me sentindo muito sozinho em Joinville. Já pensava em voltar há algum tempo, mas foi depois de uma conversa com o Ricardo que tudo clareou. — Seus olhos brilharam ao mencionar o meu irmão. — Ele me encorajou, disse que eu não precisava passar por tudo sozinho lá longe, sendo que aqui tenho família e amigos. Chegou a se prontificar a me ajudar a arrumar um emprego.
— E você lógico aceitou? — questionei, curioso.
— Mais ou menos — ele continuou, fazendo uma curva suave. Acabei entrando em contato com a empresa onde trabalhava antes de ir para Joinville. Conversei com o dono, expliquei que tinha interesse em voltar e que agora era encarregado. Estamos negociando, mas parece que vou conseguir a vaga.
O carro fez a curva final e, como uma promessa solene sob a luz do crepúsculo, o letreiro do Loves Motel surgiu à frente, com suas letras em néon cintilando.
Ele parou próximo à recepção, desceu rapidamente o vidro e trocou algumas palavras baixas com a atendente atrás do vidro fumê, que lhe entregou com uma chave na mão, murmurou:
— Quarto 15.
Seguimos pela ala sul até encontrar o número prateado cravado no portão. Estacionou, fechou o portão, e então estendeu a mão para mim. Subimos a escada estreita de mãos dadas, os degraus de concreto ecoando sob nossos passos, sem trocar uma única palavra – o ar entre nós já era denso de significado.
Ao fechar a porta do quarto, ele se apoiou nela por um instante, ficando de frente para mim. Seus olhos escuros percorreram meu rosto com uma intensidade que quase parecia física antes que um sorriso lento surgisse em seus lábios.
— Finalmente a sós — ele sussurrou, a voz mais grave. — E no motel que você pediu.
Encostei-me na parede oposta, cruzando os braços.
— Quer que eu agradeça?
Ele concordou com um único aceno de cabeça, seu olhar me penetrando como um toque concreto.
— Claro.
Ele aproximou o rosto do meu ouvido; o sussurro era quente, quase um convite.
— Você tem a noite toda pra me agradecer.
Olhei pra ele e retruquei:
— A noite toda não! Eu trabalho cedo.
Um arrepio percorreu minha espinha, mas não houve tempo pra resposta — ele já tinha tomado a decisão.
Ele me puxou com força e nossos corpos se colaram, enquanto nossos lábios se encontravam em um beijo faminto.
— Agora quero você todo — sussurrou em meu ouvido, molhando os lábios em meu pescoço.
Minhas mãos percorriam seu corpo com urgência, puxando e arrancando qualquer peça de roupa que encontrassem pela frente. As roupas iam sendo lançadas no chão conforme o tesão aumentava, cada peça que caía era um passo mais perto da completa entrega.
Quando ficamos apenas de cueca, dava para ver o quanto nós dois desejávamos aquilo. nosso corpos literalmente nos entregava: a respiração ofegante, o suor na pele, o volume de nossas picas duras nas cuecas. Ele me puxou para outro beijo, mais profundo ainda, enquanto suas mãos desciam por minhas costas, puxando a cueca para baixo num movimento rápido.
Ele se levantou e se encostou na parede, sua pica pulsava e meus olhos percorrem o corpo dele até encontrar aquela pica, e eu me perco completamente, desejo chupar aquele homem. Então, olho para o meu primo. Nossos olhares se encontram e, com uma intensidade que me deixa sem ar, ele sinaliza com a cabeça para baixo, um comando silencioso e claro:
— Me chupa!
Era o sinal que eu esperava. Aquele gesto simples, carregado de toda uma história proibida, foi como liberar uma fera dentro de mim. Num instante, toda a hesitação se foi, substituída por uma necessidade pura e obscena.
Delicadamente, levei a ponta até meus lábios, envolvendo-a com cuidado enquanto lambia o líquido salgado que gotejava, fazendo-me salivar instantaneamente. Até que cai de boca literalmente naquela rola grossa, engolindo meu próprio gemido junto com a ponta.
Minha mão já estava envolvendo o que a boca não conseguia, punhetando com força enquanto chupava com uma fome que parecia inesgotável. Desci a atenção até as bolas, lambendo e chupando toda aquela área com vontade, perdendo-me no seu cheiro e sabor.
— Você estava com saudade dessa pica, eu sei — ele afirmou, voz rouca.
Eu estava tão concentrado em chupá-lo que nem me dei ao trabalho de responder.
— Olha pra mim — ele ordenou, puxando meus cabelos para que eu o encarasse. — Olha pro teu macho enquanto mama.
Quando levantei os olhos, encontrei seu sorriso largo de satisfação ao ver minha boca envolvendo seu membro.
— Tava com saudade, não tava?
Tirei o pau da boca por um instante: — Claro que tava! Você é gostoso demais, Anderson.
Devolvi o sorriso enquanto ele batia com o pau no meu rosto — era exatamente o que eu queria. Ele me botou pra mamar novamente.
— Também estava com saudade dessa sua boquinha, desse corpinho. Mas hoje mato essa saudade porque hoje você é meu — declarou. — Meu presentinho.
Balancei a cabeça em concordância, sem interromper o boquete.
— Sendo meu presente, posso te usar hoje?
Ao ouvir, tive um receio passageiro, me lembrei do Anderson agressivo que muitas vezes ultrapassara a linha do prazer. Mas eu também tinha consciência de que esse comportamento sempre vinha quando ele estava com ciúmes ou alterado - o que não era o caso agora. E essa certeza só aumentava meu tesão. Acenei novamente, me entregando completamente ao momento.
— Quero te pegar gostoso! Matar a saudade que tenho metendo nesse seu rabo. — Disse sentindo minha mamada.
Antes que eu pudesse reagir, ele começou a foder minha boca com força, fazendo-me engasgar, depois me puxava para beijar minha boca, só para me empurrar de volta ao seu pau.
— Vai me chupar muito hoje! — ele gritava, enquanto eu me afogava em seu prazer, engasgando com sua rola profundamente enfiada na minha garganta. — Ninguém mandou você me negar fogo hoje lá na sua casa!
Suas palavras eram interrompidas por gemidos, e ele puxava meus cabelos com força, pausando só para eu recuperar o fôlego.
— Me deixou com tesão acumulado o dia todo, agora aguenta! — Ele voltou a empurrar seu pau na minha boca, e eu sentia suas pernas tremendo de prazer.
Aquele domínio só me excitava mais. Ele sabia que me tinha completamente.
De repente, ele se curvou e me beijou profundamente.
— Voce sabe que eu só paro de meter na sua boca só depois de sentir o gosto da minha pica— ele riu, e então me deu um tapa na face, não muito forte, mas suficiente para dar um estalo. — Abre essa boca e mama com vontade! Quero sentir o gosto do meu pau na sua língua! Agora cai de boca!
Obedeci imediatamente — longe de ser um sacrifício, era onde eu mais queria estar: de joelhos, admirando seu rosto contorcido de prazer.
Ele começou a socar com força total na minha garganta, parando apenas para me deixar recuperar o fôlego antes de recomeçar.
Parecia que todo o desejo acumulado transbordava em cada movimento.
— CARALHOOOO! — ele gemeu, segurando minha cabeça enquanto seu pau pulsava dentro de mim. — Que tesão da porra!
— Tá gostando macho? Provoque.
Engoli o pau dele novamente até a garganta, foi ele quem ditou a profundidade, empurrando minha nuca com uma pressão constante. Só me liberava quando meus olhos lacrimejavam ou eu engasgava, e ele então sussurrava: "De novo". E eu ia, de novo e de novo, até perder a conta.
Quando parava para tomar ar, minha vista se perdia naquela pica enorme - veias grossas por todo o corpo do pau, formando um relevo que eu conhecia tão bem.
A cabeça avermelhada e inchada parecia me olhar também. O cheiro masculino, intenso e familiar, envolvia meus sentidos enquanto minha língua percorria essas veias salientes, sentindo sua textura única sob meus lábios.
— Tá olhando tanto assim porque? — ele perguntou, segurando o pau na minha frente. — Só lembra que essa pica toda é sua hoje.
— Caralho! Esse pedaço de carne é gostoso — consegui falar, antes de engolir novamente aquela rola que me deixava em um estado de completa entrega.
Ele me puxou para outro beijo, dessa vez satisfeito.
— Agora sim — sussurrou contra meus lábios. — Tá com gosto de minha pica. E é só o começo... Espera só até quando essa rola sair da sua boquinha e entrar no seu cuzinho.
Ofegante, ele me deu a mão para me levantar. Seu olhar dizia o quanto estava satisfeito.
—Vamos pra cama! — anunciou, puxando-me suavemente.
Dei alguns passos em direção ao centro do quarto, mas ele me deteve com um gesto firme.
— Aqui na beirada — corrigiu, voz grave e cheia de intenção. — E de quatro.
Enquanto me posicionava como ele pedira, joelhos apoiado próximo a borda do colchão. Ele se aproximou por trás, e suas mãos começaram a acariciar minhas nádegas com uma mistura de posse e ternura.
— Isso — sussurrou, admirado. — Assim você fica perfeito.
Então se ajoelhou atrás de mim, segurou minhas nádegas com mais firmeza e levou a boca até meu buraco. Gemi, ofegante, quando sua língua começou a trabalhar — devorando, sugando, comandando cada centímetro de meu buraco.
— Gosta, não é, Renato? — ele perguntou, erguendo o rosto molhado por um instante. — Você fica tão gostoso se empinando, se entregando todo pra mim.
Ele ergueu o rosto molhado, os olhos escuros e intensos, mas eu não deixei que continuasse.
— Fala menos e trabalha mais! — eu disse, a voz saindo entrecortada, mas firme. — Tá muito bom sua língua aí no meu buraquinho… não para.
Ele riu baixo, um som de surpresa e aprovação, antes de mergulhar de volta com ainda mais determinação. Suas mãos se fecharam em meus quadris, puxando-me com mais força contra seu rosto, e eu enterrei os dedos nos lençóis, gemendo alto quando sua língua encontrou novamente meu ponto mais sensível. Ele obedeceu — sem mais palavras, apenas ações profundas, lambidas lentas e sugadas que me faziam perder o controle. E eu, de quatro na beirada da cama, me entreguei completamente àquele silêncio eloquente, repleto apenas de sons de prazer.
Até que ele acrescentou mais intensidade, agora usando os dedos. Dois dedos deslizaram para dentro, e eu arquei as costas, gemendo alto quando eles encontraram exatamente o ponto que me fazia perder o controle.
— É isso — ele incentivou, entre lambidas e pequenas mordidas. — Quero ouvir você gemer mais. Essa noite é nossa.
Seus dedos deslizavam suavemente, enquanto eu, inquieto, recebia cada toque. Meu corpo reagia com o empinar do meu corpo e gemidos abafados. Ele apenas observava, compreendendo meu desejo não verbalizado.
Foi então que seus dedos pararam. Senti suas mãos firmes envolverem meus quadris, posicionando-se atrás de mim. A ponta quente de seu pau pressionou suavemente minha entrada.
— Posso? — sussurrou próximo ao meu ouvido. — Você quer?
Balancei a cabeça em afirmação, empinando ainda mais o corpo num convite silencioso. Era tudo que conseguia fazer naquele momento - oferecer-me completamente aquele homem.
Tentou entrar em mim e estava difícil, aí então usou o cuspe e tentou novamente.
Aos poucos e com paciência a pica foi entrando, e quando grande parte daquele pau estava dentro, comecei a fazer um vai e vem com a cintura, fazendo ele começar a me foder.
Ele meteu gostoso e profundo, e nós dois gememos ao mesmo tempo. Cada socada era certeira, ritmada, e eu me entreguei por completo.
—Ah, Anderson!… Você tinha que voltar logo agora? — soltei, entre gemidos.
Ele riu, um som baixo e rouco, enquanto sua mão dava um tapa suave que logo se transformou em uma pegada firme, me puxando contra ele.
—Tô voltando, priminho — sussurrou, sua voz um rugido íntimo no meu ouvido. — Mas se você não estiver curtindo, a gente para. Agora.
Ele parou os movimentos,criando uma tensão insuportável.
— Por favor, não para!, supliquei, ofegante. — Continua... Eu quero é isso, estar aqui com você me fudendo.
— Era o que eu imaginava — ele resmungou, satisfeito. — Então rebola. Rebola gostoso para o seu primo.
E, atendendo ao meu pedido, ele começou a se mover de novo, mais profundo e mais devagar, como prometendo que a noite mal havia começado. Ele segurava minha cintura com força, acelerando o ritmo.
—Você nem imagina quantas punhetas eu bati pensando nessa sua bunda — confessou, ofegante. — Nessa bunda branquinha, redondinha, que é só minha...
— Ah, Anderson! Isso… assim mesmo! — gritei, enquanto ele começava a socar forte e profundo.
Ele segurou minha perna levantada com uma mão, e com a outra me puxava pelos quadris, encontrando um ritmo que me fazia perder o controle.
— Gosta dessa rola, não é? Eu estava precisando disso — ele falava entre gemidos, suas metidas cada vez mais selvagens.
— Eu também … sempre tive saudade! — respondi, entre gemidos cortados, me entregando completamente àquele homem que me possuía com tanta convicção.
Ele se inclinou sobre minhas costas, envolvendo-me com seu braço.
—Essa bunda sempre foi minha, Renato — rosnou no meu ouvido, acelerando ainda mais. — E vou te lembrar disso todinha noite.
Foi quando Anderson me virou de lado na cama e começou a entrar em mim num ritmo que permitia troca de respirações, de olhares, de carícias — cada movimento seu dentro de mim era como uma pergunta e uma resposta ao mesmo tempo. Ele sussurrou no meu ouvido, a voz rouca e quente:
— Você me faz perder a linha, Renato…
Minha voz saiu submissa:
— Nem sei o que dizer… Olha para mim, totalmente entregue a você…
Me levantei com urgência, me posicionei de frango assado, oferecendo-me completamente a ele:
—Então vem.
Do meu lado, escutei a respiração acelerada de Anderson, ele se masturbava lentamente, enquanto me observava.
— Tô gostando dessa sua versão mais safada, primo… — ele rugiu, a voz embargada de tesão. — Você pediu… agora aguenta.
Em um movimento contínuo, ele se aproximou. Suas mãos fortes seguraram minhas coxas , e então, senti — não apenas a entrada, mas uma possessão. Ao ser penetrado, soltei um suspiro fundo e mordi os lábios, envolvendo suas pernas com as minhas, puxando-o para mais perto ainda. Nossos corpos encontraram um ritmo único, ofegantes e suados, como se o mundo lá fora tivesse deixado de existir. Cada centímetro avançava como uma lâmina quente, me ivandindo de prazer, não de dor.
E no meu ouvido, sussurrou:
— É assim que eu gosto… todo seu corpinho é meu.
Ele me encarava, e eu não desviava o olhar — naquela hora, não havia mais segredos, nem defesas. Quando gozei, puxei-o contra meu peito, enterrei o rosto em seu pescoço e gemei abafado, enquanto ele me envolvia com mais força. Ele ainda não parava — e, entre uma investida e outra, rosnou no meu ouvido: — Gozou, né, safado?
Então, o ritmo mudou. Suas investidas ficaram mais intensas, aceleradas, e meus gemidos se soltaram sem controle, enquanto meu corpo vibrava com cada impacto. Ele me pediu para ficar de quatro, e eu obedeci, arqueando as costas. Ele voltou a entrar em mim, agora por trás, beijando meu pescoço, mordiscando meu ombro, dominando cada centímetro do meu corpo e da minha atenção.
Até que ele anunciou, ofegante:
— Tô quase… você tá pronto pra beber meu leite?
Respondi na hora, no automático, entre um gemido e um suspiro:
— Seu presente adora proteína…
Ele acelerou ainda mais, as mãos firmes na minha cintura, até que de repente se afastou, puxando-me pela cintura em sua direção. Jatos quentes atingiram meu rosto, minha boca, meu queixo — e eu aceitei, bebi, me entreguei àquele sabor salgado que era só nosso.
Então ele caiu ao meu lado na cama, ofegante, com aquele sorriso bobo e satisfeito estampado no rosto.
Passou a mão devagar na minha bunda, num gesto de posse doce, e confessou:
— Eu estava precisando disso…
— Dá pra perceber — respondi, me enrolando ao seu lado e abraçando ele pela cintura, ainda ofegante.
Com a cabeça apoiada em seu peito, eu sentia o coração dele acelerado, sua respiração pesada e ofegante ecoando no meu ouvido.
— Vai se acostumando — ele disse, a voz um rosnado cansado — que quando eu voltar, isso aqui vira rotina.
Foi então que eu me mexi, criando um pequeno espaço entre nossos corpos suados.
—Ei, calma aí. — Minha voz era suave, mas firme. — Tá tudo bom, tá tudo incrível… mas a gente precisa definir umas coisas. Conversar. Não pense que só porque estamos aqui, transando como animais, que não precisamos colocar as cartas na mesa. O que está rolando, pelo menos por enquanto, é só sexo. Como era no começo, lembra? Sem compromisso.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, que pareceram uma eternidade. Sua mão, que acariciava meu braço, parou.
—Eu sei que ainda não voltamos — respondeu, por fim, a voz mais contida. — Mas só o fato de você estar aqui, assim… já mostra que há uma possibilidade. Nós temos pontos a ajustar, eu sei. Mas pensa com carinho. Eu vou estar aqui, junto contigo. Agora, é só eu e você. E mais ninguém.
— Anderson, eu ainda te amo — confessei, as palavras saindo num sussurro carregado de verdade. — E quero ter você ao meu lado. Mas, pra recomeçarmos de verdade, precisamos resolver o passado. Tudo aquilo que ainda nos assombra.
— E quando seria essa conversa? — ele perguntou, automaticamente. — Amanhã?
— Ou é amanhã, ou no seu retorno — sugeri, sentando-me na cama.
— É melhor que seja amanhã — ele decidiu, erguendo-se. — Assim eu vou para Joinville sem nenhuma pendência ou preocupação.
Ele caminhou até o criado-mudo, onde o menu do motel listava os preços das bebidas. Não sei por quanto tempo ficou ali analisando; a exaustão finalmente me venceu e eu apaguei, o corpo pesado e a mente confusa.
Acordei o vendo tomar um gole de uma cerveja. Ele riu ao ver meus olhos se abrindo.
—Já foi melhor, hein! — zombou, com um sorriso maroto. — Agora dá uma e apaga?
Esfreguei os olhos, ainda sonolento, e retribuí o sorriso.
—Também, né? Você nem teve pena de mim. Nosso corpo trabalhou muito hoje.
Ele acabou a cerveja de um só gole, colocou a garrafa vazia na mesa e estendeu a mão para mim.
—Vamos. Hora de tomar um banho e ir embora.
Anderson me guiou em direção à área do banho, onde uma ducha ampla e uma banheira de hidromassagem nos aguardavam. Sem dizer uma palavra, ele girou a torneira, e a água morna começou a cair, criando uma cortina de vapor que envolvia nossos corpos ainda ardentes. Ele me puxou para debaixo do jato, e a água escorria por nossos cabelos, rostos e ombros, misturando-se ao suor e ao cansaço do que havíamos vivido.
Nos beijamos sob a água, um beijo lento e profundo, cheio de um sabor doce de reconciliação e desejo. Foi então que ele parou, encostou a testa na minha e sussurrou, com um sorriso que eu ouvi mais do que vi:
—Sabe… Para uma data tão importante, até que compensou ter vindo pra VR. E sem sombra de dúvidas… você foi o melhor presente que eu podia ganhar hoje.
Sorri, envolvendo meus braços ao seu redor. — Você aparecer lá em casa pra me buscar… foi a surpresa que eu nem sabia que precisava, Anderson.
Ele me envolveu por trás, seus braços fortes fechando-se ao redor do meu peito, e encostou o queixo no meu ombro. A água caía sobre nós, aquecendo mais do que a pele.
Ficamos assim, por um momento que ele pegou o sabonete e começou a ensaboar minhas costas.. Enquanto ele ensaboava minhas costas, senti o silêncio dele se alongar. Virei-me e o encontrei com os olhos fixos em mim, profundos e pensativos.
— O que foi? Por que tá me olhando assim? — perguntei, passando a mão pelo seu rosto.
Ele suspirou, um som que se misturou com o barulho da água. — Só estava pensando… no quanto a gente perdeu quando eu fui para Joinville. Momentos, risadas, noites… — Sua voz era carregada de uma nostalgia quente. — Mas estar aqui com você agora só confirma uma coisa pra mim: cara, é você. Eu gosto mesmo é de estar ao seu lado.
Sorri, sentindo um calor percorrer meu corpo. — Eu sei disso, seu bobo. Tanto que o carinha lá de baixo já tá dando sinal de vida! — disse, olhando para baixo.
Ele seguiu meu olhar e riu baixo. — Pois é… Acho que ele quer mais.
Desliguei o chuveiro, e o silêncio súbito foi preenchido pela nossa respiração ofegante. Em vez de apagar, o fogo entre nós só crescia. Mais uma vez nos beijamos ali mesmo, com uma urgência que deixava claro que a noite ainda não tinha acabado.
— Dessa vez — sussurrei, quebrando o beijo — eu quem dito as regras.
Ele me encarou, os olhos escuros de desejo e curiosidade, esperando meu próximo movimento. Empurrei-o suavemente contra a parede fria e desci, beijando seu peito até chegar aos mamilos. Dediquei bons minutos ali, lambendo e mordiscando de leve, até ouvi-lo gemer, um som rouco e involuntário: — Porra, Renato…
— Tá gemendo porque tá gostoso? — provoquei, olhando para cima. — Você disse que eu ia levar rola a noite toda… Tudo bem. Mas eu vou fechar a noite com chave de ouro.
Girei seu corpo e o empurrei contra a parede. — Agora vou te chupar. E não quero suas mãos em mim — ordenei, a voz firme. — Só curte.
Ajoelhei-me e envolvi seu membro com a boca, sentindo aquela pica grossa e dura deslizar entre meus lábios. Ele no início apenas observava, mas, conforme me dedicava, senti seu corpo tensionar, suas mãos se fechando em punhos. — Quer que eu pare? — perguntei, tirando a boca por um instante. — Se gozar agora, não vai me comer, hein? Então se controla.
Voltei ao trabalho, e agora ele não só gemia, mas se contorcia, implorando baixo: — Para… Para, Renato, que eu vou gozar!
Levantamo-nos e fomos para a banheira, onde nos beijamos com uma fome renovada, seus dedos percorrendo meu corpo molhado. Coloquei-me de quatro, com as mãos apoiadas na borda da banheira, oferecendo-me a ele. — Tá olhando o quê, Anderson? — provoquei. — Usa essa língua no meu cu. Nem precisei pedir duas vezes; ele se moveu com uma velocidade que fez a água transbordar. — Você não queria isso? — gemi, enquanto ele me devorava com a boca, e eu rebolava, perdido no movimento daquela língua.
Ele se levantou e entrou em mim devagar, enchendo-me completamente. — Isso… mete devagar — gemi, arqueando as costas. — Mata sua vontade de me foder. Foi a deixa que ele precisava; suas mãos seguraram meus quadris, e ele começou a me possuir com uma força que me fez estremecer, cada investida mais profunda, mais selvagem.
— Vamos pra cama — supliquei, ofegante. Mal nos secamos, deitando-nos na cama ainda molhados. Subi por cima dele, cavalgando-o com determinação. Quando suas mãos tentaram guiar meu ritmo, eu as empurrei. — Coloca as mãos atrás da cabeça — ordenei. — Só curte. E ele obedeceu, rendendo-se ao meu controle.
Nossos olhares se encontravam, carregados de desejo e entrega. — Isso, filho da puta! Senta com vontade! — ele rosnou.
— Você gosta quando eu sento assim? — provoquei, rebolando lentamente.
— Puta que pariu, Renato… Rebola gostoso, isso — ele suplicou.
Acelerei o ritmo, sentando freneticamente, fazendo-o fechar os olhos e gemer. — Calma, Renato, assim eu gozo!
— Se controla— retruquei, desacelerando e voltando a um movimento sensual, enquanto ele me olhava, completamente dominado. Decidi que era hora de encerrarmos; eu ainda tinha o trabalho pela manhã. Cavalguei-o com uma intensidade final, suplicando: — Me fode, Anderson!
Foi quando suas mãos firmes seguraram minha cintura, e ele tomou o controle pelos últimos instantes. — Toma pica, porra! — ele urrou, suas investidas profundas e precisas, até que seu gozo explodiu dentro de mim, seguido por um rugido abafado. Meu próprio orgasmo veio em ondas, jorrando sobre seu peito e pescoço, enquanto desabava sobre ele, exausto e completamente preenchido.
Só depois daquela segunda—e intensa— rodada, conseguimos tomar um banho de verdade. A água morna escorria sobre nossos corpos, limpando o suor e o gozo que grudavam na pele, lavando também a intensidade dos últimos momentos. Foi um banho silencioso, mas não desconfortável; era o cansaço bom de quem se entregou por completo, agora se recompondo. Vestimos nossas roupas em um acordo tácito, o ar ainda pesado do cheio do sexo e da promessa de uma conversa pendente.
Entramos no carro e ele parou na recepção e pagou a estadia com um gesto rápido, com cartão via aproximação. Só então ele partiu em disparada.
No caminho, o silêncio foi quebrado por sua voz, mais serena agora: — Te pego amanhã na faculdade. Pra gente… conversar. — Seus olhos encontraram os meus por um segundo no retrovisor, e eu apenas acenei.
Quando chegou ao portão da minha casa, ele não saiu imediatamente. Ficou ali, com o motor ligado, esperando até que eu abrisse a porta e entrasse, como um gesto silencioso de cuidado — ou talvez de que aquilo, de alguma forma, importava.
Subi as escadas silenciosamente, evitando o menor ruído. Ao entrar no meu quarto, me joguei na cama, ainda com aquelas roupas. A exaustão batia forte, mas a mente rodava a mil. Olhei para o relógio no criado-mudo: faltavam ainda três longas horas para o despertador tocar. Três horas para tentar dormir.
Acordei com minha mãe batendo na porta e gritando que eu ia me atrasar. Do meu lado, o celular não parava de tocar. Levantei rápido, tomei um banho super rápido, ainda me secando enquanto corria para vestir minhas roupas. Olhei para o relógio: estava realmente atrasado. Escovei os dentes às pressas e desci para a cozinha.
Minha mãe não perdeu a chance de comentar:
— Pela sua cara, tenho certeza que chegou tarde hoje. Acordei no meio da madrugada e você não estava no quarto.
Meu pai, que me esperava para dar carona, deu uma olhada para mim e riu:
— Você tá com a típica cara de ressaca, filho. Parece que tomou todas!
— Vamos, pai! — respondi, evitando o assunto. — Tomo café lá na empresa, tranquilo.
Ele se levantou, enquanto minha mãe insistia:
—Pelo menos come alguma coisa, Renato! Não dá pra sair de estômago vazio.
— Relaxa, mãe! Como alguma coisa na padaria ao lado. Ah, e hoje devo chegar um pouco mais tarde, tá?
Entrei no carro com meu pai e, como de costume, fomos conversando pelo caminho. Em um momento, ele disse, sem me olhar diretamente:
— Que bom que você e o Anderson voltaram!
— Não voltamos pai — respondi, tentando disfarçar. — Saímos pra conversar ontem e vamos terminar a conversa hoje. Ainda temos muito o que acertar.
Menti, é claro. Como ia contar que fomos para um motel? Melhor deixar quieto. Ele podia até imaginar alguma coisa, mas eu não ia confirmar.
Parando no sinal, meu pai virou para mim e falou sério:
— Aproveita que ele está aqui e disposto a conversar. Mas não se sinta pressionado, certo? Siga sua intuição.
Respirei fundo e soltei:
— Pai, ele disse que eu sou um dos principais motivos dele voltar.
Meu pai acenou com a cabeça, como se já soubesse.
— Ele me pediu permissão antes de ir te buscar. Disse que a festa não faria sentido sem você. Gostei da atitude dele, filho. Foi legal.
Quando chegamos perto do trabalho, ele finalizou com um tom firme e tranquilo:
— Olha, independente do que decidir, pode contar comigo. Estou do seu lado nessa.
Desci do carro com aquela frase ecoando na mente — um misto de alívio e ansiedade pela conversa que ainda estava por vir.
Entrei na contabilidade e fui direto para a minha sala. Liguei o computador e, antes de começar, passei na recepção para pegar um café. Fiquei ali tomando devagar, estranhando o fato de ainda não ter visto a Luana. Naquela hora, ela já deveria estar ao meu lado, contando as novidades do fim de semana.
Foi quando o Pedro apareceu, pegando outro copo de café.
— E aí, Renato? Tudo bem? Como foi o fim de semana? — perguntou.
— Foi tranquilo, positivo — respondi, sem me estender.
— Ah, e a Luana não vem hoje. Está de atestado.
— O que foi que houve? Perguntei.
— Ela tá queimando com febre, enjoada. Deve ser um vírus.
Então, ele me fez um pedido:
—Você pode me dar uma força na recepção hoje? Pode usar o computador daqui e ir fazendo suas coisas com calma. E, se puder, fica até a hora de fechar.
Não recusei. Era uma situação atípica, sem motivo para dizer não. Mas, por dentro, fiquei muito chateado. Só que não demonstrei. Justo no dia em que eu estava cansado pra caramba e precisava me encontrar com o Anderson depois da faculdade…
Me sentei na mesa da recepção. Decidi fazer apenas o básico. Com tanto sono, não dava pra cumprir duas funções direito. Foquei no trabalho dela: atender telefone, transferir as chamadas para o Pedro e receber quem chegasse. Para minha surpresa, a função era até tranquila. Deu até para colocar uma música e acessar a internet — coisa que no meu setor era mais difícil, com tantos números e planilhas.
Quando deu 10 horas, pedi permissão para ir comprar algo para comer.
—Também tô a fim — disse o Pedro — Fica tranquilo, eu vou.
Ele trouxe salgados assados e refrigerante. Agradeci, e ele completou:
—É o mínimo que posso fazer, já que você está me ajudando.
Foi aí que tocou no assunto do Happy Hour:
—Faz tempo que a gente não vai lá no bar do Jefferson. Tem moral de ir um dia desses?
—Pô, só se for sábado — respondi. — Sexta eu tô na faculdade.
— Claro, pô! Pode ser — ele respondeu na hora.
Tentei me explicar, para não parecer desinteressado:
— Pode parecer que não quero mais ir pro nosso happy hour, mas não é isso. Tô numa correria só.
— Que isso, Renato! — ele cortou. — Eu sei como é. Já vivi tudo isso que você tá vivendo: trabalhar e estudar exige demais da gente.
Ele confirmou que iria marcar e seguiu para a sala.
Na hora do almoço, fui até minha mesa, coloquei o despertador do celular e apaguei. Nem precisei comer — os salgados que ele trouxe ainda me sustentavam.
Acordei mais leve. Tinha dormido menos de uma hora, mas aquele cochilo me reanimou. Voltei para a recepção e mandei uma mensagem para o Anderson, confirmando se ele iria me buscar. A resposta veio na hora:
— Sim. Que horas?
— Aparece por volta das 21h. Vou tentar sair mais cedo — respondi.
No fim do expediente, ajudei o Pedro a desligar os computadores e fechar o portão. Ele ofereceu carona, mas recusei.
— Você tem seus compromissos, e eu os meus.
Chamei um Uber e corri para a faculdade, chegando atrasado. Pedi licença ao entrar e sentei perto dos meus amigos. Entre uma anotação e outra, conversamos baixinho. Contei sobre meu fim de semana, o aniversário do Anderson e a noite no motel. Também disse que teríamos uma conversa importante depois da aula, e que, por isso, sairia mais cedo.
— Infelizmente, não vão conhecê-lo hoje — expliquei.
O Erick, sempre debochado, soltou:
— Tá com vergonha do seu homem ou com medo que a gente roube ele?
A Driele interveio:
— Para de perturbar o cara! Ele tá compartilhando algo importante e você só faz piada.
— Mas fiquem tranquilos — completei. — Em breve vocês vão conhecê-lo. Ele está voltando para VR.
Fui chamado a atenção pelo professor, que continuava explicando a matéria. Dali em diante, só abri a boca novamente quando o relógio marcou nove da noite. Me despedi da Driele e do Erick, peguei minhas coisas e saí, com o coração acelerado. A conversa que definiria tudo ainda estava por vir.
Quando saí da faculdade, Anderson estava parado a poucos metros do portão: bermuda jeans desbotada, uma regata vermelha que deixava seus braços à mostra, e tênis preto. Quando me aproximei, me deu um abraço e pude sentir seu cheiro característico do perfume que sempre usava.
— Podemos? — perguntei, referindo-me ao nosso combinado.
— Podemos, sim — ele respondeu, ajustando a mochila no ombro. — Mas você vai ter que andar um pouco. Não encontrei vaga aqui perto.
Caminhamos lado a lado, e ele perguntou onde seria a nossa conversa.
— Pensei em algo mais simples — expliquei. — Nada de restaurante ou lanchonete. Que tal uma praça?
Ele riu, surpreso.
— Sério isso?
— Sim, por que não? — indaguei, encolhendo os ombros.
— Pô, então vamos lá na Praça do Ginásio — sugeriu. — É perto de casa.
— Por mim, tudo bem — concordei.
Anderson havia estacionado o carro do meu tio duas ruas depois da faculdade. De lá, seguimos em direção ao ginásio. Havia uma tensão palpável entre nós. Queríamos resolver tudo o que ficou pendente, mas não tínhamos certeza de como aquilo se desenrolaria.
No caminho, ele comentou que tinha dormido até as onze da manhã.
— Bom pra você, né? — respondi. — Já eu quase me atrasei para o trabalho. Tive que dormir na hora do almoço.
Ele riu de novo, com um tom provocante.
— Mas admite: compensou!
Olhei para ele e sorri, sem conseguir disfarçar.
— Não estou dizendo que não compensou. Só estou dizendo que mal dormi, e meu corpo pede cama.
— O carro do Naldo tá ali — observou Anderson, apontando para o veículo estacionado perto do ginásio escuro. — Ele deve estar lá dentro ainda, teve roda hoje.
Ele ficou em silêncio, observando a construção que tantas memórias guardava.
— Sinto falta da roda — confessou ele, quebrando o silêncio. — Estar ali era tipo uma terapia pra mim.
Sorri com saudade.
— Voltando, você pode retomar seu lugar de aluno favorito do Naldo.
Ele riu, com um tom debochado que conheço bem:
— Não sei se ainda serei o favorito, não. O Manuel tá dando pro Naldo algo que eu não vou poder dar.
O comentário me pegou desprevenido, e soltei uma risada.
— Parece que as coisas mudaram mesmo — comentei, sacudindo a cabeça.
— Mudaram — ele confirmou, o humor dando lugar à sinceridade. — Mas o importante é que eu mudei também. E quero recomeçar do jeito certo dessa vez.
Anderson me guiou até um canto mais isolado da praça, onde uma mesa de concreto e dois bancos rústicos nos aguardavam sob a luz prateada do poste. Era um lugar simples, mas calmo — perfeito para o que precisávamos encarar.
Sentamos um de frente para o outro, e antes que eu encontrasse as palavras, ele suspirou fundo, seus braços repousando sobre a mesa. Seu cheiro, aquele mesmo que eu guardava na memória, trouxe de volta um turbilhão de lembranças. Seus olhos encontraram os meus, e a pergunta veio direta, sem rodeios:
— O que a gente precisa resolver para voltarmos?
Encostei-me ao banco, sentindo o peso da pergunta.
— Na verdade, é isso que eu vim ouvir de você — respondi, segurando seu olhar. — Precisamos definir tudo, Anderson. Do zero.
— Como assim "tudo"? — Ele inclinou-se para a frente, a testa levemente franzida. — Você sempre disse que relacionamento à distância não dava certo. Mas eu tô voltando, Renato. Volto pra ficar.
— Eu sei. E você não imagina como fiquei feliz com isso — falei, baixando a voz. — Mas não pode ser só "voltar" como se nada tivesse acontecido. Dessa vez, a gente precisa fazer diferente.
— Então me diz como. O que você quer mudar?
— Quero a gente sozinho — declarei, sentindo o coração bater mais forte. — Sem interferência, sem plateia, sem terceiros. Nosso relacionamento sempre teve muita gente no meio, e isso nos afastou. Se for pra recomeçar, quero que seja você e eu. Só nós dois.
Ele ficou em silêncio por um instante, o olhar percorrendo cada linha do meu rosto como se lesse ali todas as minhas inseguranças e esperanças.
— Renato — disse por fim, com uma seriedade que me prendeu —, se a gente voltar, não vai ser segredo para ninguém. Vamos ser um casal de verdade. E se der certo essa vaga que estou negociando… quero alugar um lugar nosso. Um cantinho só nosso, como a gente sempre falava. Lembra da casa de foda ? Daqueles dias só nós dois?
Lembrei. E, pelo sorriso que surgiu no canto da sua boca, ele também.
— Dessa vez — ele completou, estendendo a mão sobre a mesa —, não vai ter Manuel, não vai ter crise. Vai ser só eu e você.
— Sabe, Anderson, tem um ponto importante sobre essa possível volta: acho que não vai rolar a gente morar junto agora — falei, tentando dosar minha voz para não sobrar como uma rejeição. — Minha vida tá uma correria só. Entre a faculdade, os gastos, e até hoje não tirei minha habilitação. É tudo meio apertado. Meu irmão até usa o carro que meu pai me deu, porque eu nem sei dirigir.
Fiz uma pausa e olhei pra ele, vendo seu rosto fechar sutilmente.
— Acho melhor a gente ir com calma, cada um na sua casa, curtindo a família — finalizei, tentando trazer leveza. — Principalmente você, que acabou de voltar e precisa reconectar com todo mundo.
— Isso a gente resolve juntos quando eu estiver de volta — ele rebateu, sem perder o foco. — E olha, sobre sua habilitação… Que tal a gente pegar o carro quando eu voltar e eu te levar pra treinar num estacionamento vazio ou em ruas afastadas? Aos poucos você pega o jeito.
Ele encostou a mão na minha, com um sorriso confiante. — Nada que a gente não dê um jeito quando estivermos juntos de verdade.
A porta do ginásio rangeu ao ser aberta, e por ela surgiu Naldo, seguido por Felipe. Quando nos viram, Naldo veio em nossa direção com aquele jeito marrento de sempre, cumprimentando a gente com um aperto de mão. Felipe estava com os cabelos ainda molhados, um sinal claro de que tinha acabado de tomar banho ali dentro — e tudo indicava que eles não haviam ficado apenas nos golpes de capoeira.
Felipe também nos cumprimentou, um pouco mais reservado.
— Fala, rapaziada! Tão aí do lado de fora por quê? Poderiam ter entrado! — disse Naldo, olhando entre eu e Anderson.
Foi Anderson quem respondeu, seguro:
— Pô, Naldo, a gente veio mesmo pra ter um papo sério, resolver uns bagulho entre nós. Vimos teu carro, mas sabia que você estava ocupado… não quis atrapalhar.
Naldo esboçou um sorriso maroto e olhou pra mim:
— Tá sussa! Espero que vocês se acertem. Mas sério, Anderson… quando vier pra VR de novo, aparece na roda, viu? Você sempre tem seu lugar com a gente.
Foi então que Anderson, talvez na empolgação ou para mostrar confiança, soltou:
— Pode deixar, Naldo. Dessa vez tô voltando pra ficar. E com certeza vou voltar pra roda.
Aquilo me pegou desprevenido. Fiquei imediatamente com o rosto fechado.
Naldo nem disfarçou a felicidade:
— Que notícia boa, mano! Tô te aguardando!
E, antes de sair Felipe me abraçou e disse:
— Nem precisa falar nada…— sussurrou ele, apertando meu ombro. — Tô na torcida.
Só então Naldo e Felipe entraram no carro e foram embora.
Mal o carro sumiu, Anderson já estava me encarando.
— Tá bolado porque, Renato? É por causa do Naldo?
— Não é por conta do Naldo — falei, firme. — É o que você disse para ele. Você realmente acha que ele não vai contar pro Manuel? Você deu de bandeja uma informação que nem a gente tinha fechado direito.
— Mas uma hora o Manuel ia saber! — ele rebateu, agora visivelmente irritado.
— A questão não é ele saber, Anderson. A questão é como e quando! Agora, por Naldo? Depois de tudo que a gente passou?
Ele calou, olhando pro chão.
— Tá bom... eu dei mole. Não pensei antes de falar — ele admitiu, esfregando a nuca num gesto clássico de quem reconhece o deslize. Sua admiração pelo Naldo era genuína, mas ele viu que, naquele contexto, soou como uma fuga. — É que o Naldo é um cara que considero pra caramba, mas... você tem razão. Vamos focar naquilo que viemos fazer aqui.
Ele respirou fundo, como se estivesse se livrando do peso da própria impulsividade, e então seu olhar se firmou em mim, limpo e determinado.
— Então, diz aí... por onde a gente começa de verdade?
Eu senti uma ponta de alívio. Aquele era o Anderson que eu conhecia: direto e corajoso o suficiente para admitir quando errava. Era tudo o que eu precisava para dar o próximo passo.
— Acho que para um bom começo de conversa, a gente tem que falar tudo — respondi, minha voz firme mas sem acusação. — Jogar fora o que não foi revelado. Os segredos que ficaram em 'off'... Qualquer coisa que ainda não dissemos um para o outro, talvez por medo de magoar, ou com medo de que isso colocasse nossa relação em risco.
Anderson me olhava tentando entender o rumo da conversa, meio atônito, como se eu tivesse puxado algo que ele não esperava.
— Anderson… tem algo que você esconde de mim? Algo que lá na frente possa de fato acabar com o que a gente está tentando reconstruir?
Ele franziu a testa na mesma hora.
— Que papo é esse, Renato?
Senti minha impaciência subindo. Respirei fundo e fui direto.
— Existe alguma coisa que você não me contou? Alguma pendência, alguma história mal resolvida? É isso que eu tô perguntando.
Ele estranhou, cruzou os braços e me olhou desconfiado.
— Tá perguntando isso por quê? Tá sabendo de alguma coisa?
Eu quase ri de nervoso.
— Eu não tô sabendo de nada. Mas só pelo seu comentário já dá pra perceber que tem algo. Então vamos jogar tudo no ventilador logo — falei firme, encarando ele sem desviar. — É pra isso que estamos aqui. Essa é a hora de falar o que ficou entalado. De revelar o que ficou escondido. De colocar pra fora o que a gente viveu com outras pessoas.
Engoli seco. Um nó quente subiu na garganta, mas continuei:
— Porque tem coisa que a gente nunca conversou direito, e você sabe disso.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Os dedos batiam de leve na mesa de concreto, denunciando o nervosismo que ele tentava esconder. O ar entre nós ficou pesado, quase denso.
— Mas será que isso ajudaria em alguma coisa? — ele perguntou, olhando pra longe. — Pra mim, isso só ia acabar afastando a gente.
Me inclinei um pouco pra frente.
— Pensa comigo. Quando você descobriu o que rolou entre mim e o Pedro, você terminou comigo na hora. Nem quis entender, mesmo sabendo que o Manuel te contou por vingança.
Parei um instante e completei:
— Eu tô tentando evitar exatamente isso.
Anderson mudou a expressão na hora. Não gostou do assunto.
— Eu ainda acho furada ficar desenterrando o passado, Renato. Pra quê reviver isso tudo?
Decidi cutucar. Era a única forma dele soltar alguma coisa.
— Tá com medo do quê? De se comprometer? Ou é porque tem algo tão pesado que você acha melhor enterrar pra sempre?
Ele revirou os olhos, irritado.
— Quer saber a real? Ter até tem… mas nada que vá comprometer a gente. Pelo menos é o que eu acho.
Aproveitei a brecha e fui firme:
— Então fala. Coloca pra fora. Sem julgamento. Se a gente tá falando de recomeço, não pode ter surpresa depois.
Olhei direto pra ele.
— Preciso que você me conte tudo. Qualquer coisa que você ainda não teve coragem de me dizer. Inclusive o que você tem medo de assumir.
— Você tem razão — ele disse, simplesmente. — Só que... é um lugar meio perigoso pra se entrar.
— Eu sei — concordei.
Eu sabia que estava abrindo uma porta perigosa. Não fazia ideia do que ele poderia revelar. Mas era a única maneira de fechar de vez o ciclo complicado que ficou entre nós.
Toquei de leve o braço dele, num gesto de apoio, não de cobrança.
— E olha… eu também tenho coisas pra dizer. Então fica tranquilo. Você não vai ser o único a abrir a boca aqui.
Ele respirou fundo e me encarou com uma intensidade que fez meu peito acelerar. Era a expressão de quem está prestes a abrir um arquivo que evitou durante meses.
— Quem começa? — ele perguntou num tom sério.
Eu respondi sem titubear:
— Pra mim, tanto faz. Quer que eu comece?
— Fique a vontade. — disse ele.
Respirei fundo, sentindo a importância do momento.
— Tá. Mas, Anderson, independente do que sair daqui… sem julgamentos, ok?
— Claro. — A palavra saiu suave, mas firme, como um porto seguro na escuridão.
E naquela pausa, sob a luz baixa do poste e o silêncio da praça vazia, senti que estávamos finalmente prestes a atravessar juntos uma linha que há muito tempo nos separava.
— Bom, você já sabe que já fiquei com Daniel e com Pedro, porém a primeira coisa que quero que você saiba é a respeito do Pedro... — comecei, sentindo o peso daquela conversa.
— Porra, logo desse cara?! — Anderson soltou, o rosto já fechando. Tem mais coisa que não tô sabendo? Rolou outras vezes?
— Tem detalhes que você precisa ouvir. Recebeu a notícia pela metade, e eu quero ser transparente. Mas só conto se você me prometer que não vai explodir.
— Fala logo, Renato. Tô fora de jogo emocional, mas preciso saber.
— O que rolou com o Pedro não foi combinado. O Manuel, no entanto, alimentou a situação. Ele provocava o pai, fazia chamada de vídeo com o Pedro enquanto a gente transava. Primeiramente Pedro achou que era uma menina até ele me revelar na chamada. Teve um dia que o pai dele entrou no quarto do Manuel e assistiu nossa transa.
— Que MERDA! — ele disse — Manuel é um filho da puta…Continua.
— Na noite que rolou com o Pedro, o Manuel tinha chamado o Dinei pra dormir junto. Aparentemente, ele queria uma suruba, mas ninguém topou. Até o Pedro estranhou. Acabei dormindo na sala, ele estava lá... Aconteceu naturalmente, sem violência. O Manuel chegou a bater na porta — não pra impedir, mas talvez pra entrar na jogada. Mas Pedro nem sequer abriu a porta. O que posso garantir é que com Pedro só rolou uma vez. Ele insistiu depois, mas eu cortei. Hoje a relação é profissional; quando saímos, ele desabafa, mas é só.
— Vou te mandar um papo reto. Quando fiquei sabendo de você e do Pedro, eu me surpreendi de verdade. Nem imaginava que ele curtia essa parada. Pô, Pedro é um coroa boa pinta, vida estabilizada, presença… não vou negar: deu um ciúme do caralho lá em Joinville. Mas é isso. Só queria botar pra fora.
Eu olhei para ele e senti o peso daquela admiração misturada com rancor.
— É por isso que toquei no assunto do Pedro. O propósito aqui é deixar tudo claro.
Anderson respirou fundo, seus olhos perdidos por um instante no vazio da praça antes de voltarem a mim.
— Renato, eu nunca tive nada contra o Pedro. Até o dia em que o Maldito filho dele me contou tudo. Sei que Pedro te ajudou pra caralho. Te colocou na empresa, te deixou morar na casa de foda. E eu entendo perfeitamente por que ele não é chegado em mim. Eu dei motivo. A visão que ele tem de mim é aquela que eu mesmo construí.
Ele fez uma pausa, e sua voz baixou, carregada de uma rara aceitação.
— E tá tudo certo. Às vezes a gente colhe o que planta. Só queria que você soubesse que eu vejo as coisas hoje. E que respeito o espaço que Pedro tem na sua vida..
Obrigado por me entender. — eu disse.
— Tem mais, não é? Já tô vendo seu rosto. — comentou ele.
— Tem... Mas agora é sua vez —falei.
Ele não desviou o olhar. Pelo contrário, assentiu lentamente, Ele suspirou mais uma vez, como se estivesse tirando um peso do peito, e começou:
— Na época em que a gente começou a ficar, eu ainda curtia outras garotas. A casa de foda era meu point, e eu aproveitava sem pensar muito. Você sabe.
Ele fez uma pausa, e eu senti que algo difícil viria.
— Tinha uma mina em especial que mexia muito comigo. Sempre que ela me chamava, eu chegava junto. A gente não namorava, mas a química era forte..
Ele me olhou, como se buscasse permissão para seguir.
— Só que aí você entrou na minha vida… foi me conquistando, e eu comecei a ficar com vocês dois.
Fiquei em silêncio. Ele baixou a voz:
— Um dia, na casa de foda, ela apareceu aflita. Disse que achava que estava grávida e que eu era o pai.
Meu coração pareceu parar.
— Renato, eu não estava preparado. Perguntei se ela tinha certeza. Ela disse que a menstruação estava atrasada e que o teste de farmácia deu positivo. Perguntei se ela queria ter a criança, e ela ficou em dúvida. Aí, ela me perguntou o que eu achava.
Ele respirou fundo, como se carregasse aquilo por anos.
— Fui sincero: falei que ser pai naquele momento não estava nos meus planos. Pedi pra ela fazer um exame numa clínica para confirmar. Dei a grana e ela fez… e deu positivo. Foi uma bomba. O único que contei foi o Manuel. Ele me aconselhou a assumir a criança, mas não a ela. Disse que ela queria me amarrar.
Ele fechou os olhos, revivendo aquele desespero.
— Tempos depois, ela me ligou. Tinha perdido o bebê. Foi um aborto natural. E não vou mentir: na hora, agradeci a Deus. Antes de desligar, ela me chamou de insensível, de repugnante, e mandou eu pro inferno.
O silêncio que se seguiu foi denso.
— Eu conheço ela? — perguntei, segurando a respiração.
Ele balançou a cabeça.
— Nao… ela malhava na academia perto do Ginásio. Depois daquela ligação, nunca mais falou comigo. Nem olhava na minha cara. Até que do nada ela sumiu, aí fiquei sabendo que ela tinha se mudado com os pais pra outra cidade. Foi aí que eu, Manuel e você nos firmando como trisal.
— Mas ela perdeu mesmo o bebê? — perguntei, a dúvida corroendo por dentro. — Não tem chance de ela ter mentido?
— Perdeu sim — ele afirmou, com uma certeza quase triste. — Ela demorou pra se mudar e nesse tempo a barriga nunca cresceu, e uma amiga dela me garantiu que a mina nunca teve filho. Pode soar frio, mas acho que até ela entendeu que a gente não estava preparado.
Respirei fundo, tentando processar tudo.
— Calma, Anderson! Isso é muita informação pra minha cabeça. Deixa eu entender: esse aborto… foi espontâneo, ou você pediu pra ela abortar?
Ele me encarou, indignado.
— Claro que não pedi, Renato! Posso ter sido babaca em muita coisa, admito que falei que não estava pronto. Mas pedir uma coisa dessas? Jamais. Não teria coragem.
Havia alívio e remorso em sua voz.
— E se aquela criança tivesse nascido? — ele seguiu, baixando a voz. — Talvez eu tivesse seguido outro caminho, um onde você não estivesse. A vida prega essas peças…
— A gente na imaturidade faz coisas sem pensar — completei. — E paga o preço.
Ele suspirou, esfregando o rosto.
— Porra, Renato… Se quiser me condenar, pode. Sei que fui otário. A gente errou muito… mas pelo menos estamos aqui tentando acertar.
Respirei fundo, tentando controlar a turbulência dentro de mim.
— Uma coisa você precisa admitir: nisso, o Manuel foi leal a você. Manteve seu segredo.
Ele concordou relutantemente:
— Por esse lado, sim. Mas por outro... não.
Minha respiração estava tão presa que mal conseguia puxar o ar. O nervosismo tomava conta de mim, mas eu precisava saber.
— Por que tá dizendo isso?
Ele encarou minha reação antes de soltar:
— Lembra quando o Cristiano deu em cima de mim em Angra? — Pois é, Renato, aquela não foi a única vez. Quando voltamos pra Volta Redonda, ele nem disfarçava quando você não estava por perto. Olha, vou ser sincero: se eu quisesse, pegava ali mesmo. Você sabe disso. Mas não peguei. E olha que o Manuel ficava me incentivando a pegar o cara.
Pausou, como se revivesse a cena.
— Ele alegava que, assim, você terminaria seu namoro com o Cristiano, e que assim , como o perdoou por ter ficado com o Dinei, me perdoaria por ficar com Cristiano também. Mas eu não via dessa forma. Uma coisa era eu me envolver com seu namorado, outra completamente diferente era Manuel se envolver com um amigo seu.
— É sério isso? — soltei, indignado.
Anderson concordou com a cabeça, sério.
— É. Mas eu te provei o quanto o Cristiano é um viado infiel. Você viu. Se eu fosse um filho da puta, podia ter ficado com ele — talvez você nem ficaria sabendo, ou, como o Manuel dizia, até me perdoaria. Mas seria uma sacanagem da minha parte. E, se parar pra pensar, o Manuel só me incentivava pra tentar diminuir a própria culpa por te traido com o Dinei em Angra.
Respirei fundo, aliviado.
— Gente… por um minuto, pensei que você tinha ficado com Cristiano.
Ele riu, me tranquilizando.
— Calma, como eu disse: não fiquei! Cristiano é até bonitinho, mas meu ranço por ele era maior. Até porque ele ocupava um cargo que sempre foi destinado a mim, o de namorado.
A revelação me chocou. Fiquei parado, processando cada palavra, enquanto o verdadeiro jogo de manipulação do Manuel finalmente vinha à tona.
— O Dinei foi só o primeiro que Manuel pegou — ele falou, o riso baixo e irônico ecoando na noite. — Depois dele, veio o Naldo. E, tudo bem, até dei um empurrãozinho, mas ele queria mesmo. Só não assumia. Vai saber quantos ele pegou lá em Joinville…
Ele fez uma pausa, e seus olhos encontraram os meus com uma seriedade que quase me fez tremer.
— Agora me fala a real: quem tá pegando o Manuel hoje?
— Até onde eu sei, ainda é o Naldo — respondi, mantendo a voz firme,
Ele balançou a cabeça devagar, com um ar de quem sabia de coisas que eu nem imaginava. O silêncio que se seguiu foi pesado, cortado apenas pelo barulho distante dos carros na avenida.
— É isso, Renato. Naquela época ele curtiu a foda com o Naldo, fez cu doce mas curtiu.— Anderson completou, o tom carregado de uma amarga compreensão. — Tanto que eles estão se pegando hoje. Isso só prova que, pra ele, sempre foi sobre o que ele queria, não sobre o que sentia pela gente.
Parei por um momento, deixando as palavras dele ecoarem na noite silenciosa. Tudo aquilo fazia um sentido doloroso.
— Realmente, faz sentido o que você está dizendo — admiti, sentindo o peso daquela conclusão. — Mas não viemos aqui para falar das putarias que o Manuel viveu enquanto éramos um casal. Viemos para conversar sobre nós. Sobre a nossa situação, o nosso futuro.
Anderson balançou a cabeça, um gesto de resignação.
— Renato, eu entendo, mas infelizmente a nossa relação sempre esteve atrelada a ele. Só estou trazendo à tona o que aconteceu pelas suas costas, para você entender o jogo todo. Mas…
Ele fez uma pausa, olhando-me diretamente nos olhos.
— Agora é a sua vez. Pode falar. Estou ouvindo.
Respirei fundo, sentindo que era o momento de ser tão honesto quanto ele havia sido.
— Preciso te contar uma coisa sobre o Naldo — comecei, sentindo o peso daquela revelação.
Anderson virou-se para mim, os olhos fixos, como se pressentisse que algo grave vinha por aí:
— O que tem o Naldo? Não me fala que...
— Para! Deixa eu explicar direito — cortei, antes que ele imaginasse o pior.
— Então fala. Tô ouvindo.
— Na época em que eu namorava o Cristiano, nós fomos ficar atrás do ginásio depois da aula. Estávamos no bem e bom, até que o Naldo me viu chupando o Cristiano. Fugimos, mas ele usou isso para me ameaçar. Disse que poderia criar um caso na prefeitura e complicar minha vida e a da minha família.
— Não! Você está de sacanagem comigo! — Falou Anderson.
Não dei espaço pra questionamentos e continuei:
— Até que um dia decidi encontrar com ele e resolver toda situação. Gil foi comigo. Chegando lá o Naldo estava com maldade era claro isso. Ele queria que eu entrasse na sala onde ele guarda os instrumentos com ele e não era pra conversar, diante de minha recusa Gil se ofereceu pra ir no meu lugar... Só que o Naldo não satisfeito me obrigou a fazer um boquete.
— CARALHO, RENATO! — ele explodiu, as palavras saindo como um soco. Você fez um boquete nele? Você fez?
A expressão de Anderson mudou na hora. Seu rosto, antes relaxado, contraiu-se. Vi seus músculos da mandíbula tensionarem, mas não era raiva voltada para mim — era uma incredulidade profunda, quase uma recusa em acreditar.
— Fiz — admiti, minha voz saindo mais baixa do que um sussurro. Não tinha escolha, Anderson. Eu era um moleque assustado. Se fosse hoje… se fosse hoje, eu teria cuspido na cara dele e vazado, eu teria te contado.
— Caralho, véi! Naldo é um pau no cu. Vacilão! Você tinha que ter me contado. — A explosão saiu rouca, carregada de uma raiva instantânea que parecia que nem ele esperava ter aquela reação.
Ele ficou pensativo. Respirava fundo, ofegante, os olhos fixos no vácuo à frente, como se estivesse processando cada imagem que minha confissão trazia. Quando finalmente se virou para mim:
— Agora tudo faz sentido... — ele falou, mais calmo, mas com raiva visível. Lembro do churrasco na casa dele, você querendo ir embora logo de manhã. Sua birra com ele... Tudo se encaixa.
— É. Agora você sabe.
O silêncio era denso, mas não mais sufocante.
— Quando eu voltar, vou ter um papo reto com o Naldo — ele disse, a voz firme e perigosa. Vou deixar bem claro que sei de tudo, vou dizer que ele pode fazer o que quiser, mas sem ameaçar ninguém. E vou citar seu nome.
— Anderson, para... — tentei acalmar. A gente veio aqui pra resolver nossas coisas, não pra criar mais confusão. Quero resolver as coisas pendentes no passado, não revirar.
— Tá certo! — ele revirou os olhos, ainda quente. Mas escuta: Naldo é um predador. Já vi ele com um monte de mina... Ele gosta.
— Eu sei como o cara podre que ele é — respondi. baixando a voz.
— Ele sabia da gente? Na época? — Anderson perguntou, fixando o olhar em mim.
— Não. Acredito eu que ele achava que eu só ficava com o Cristiano.
— Menos mal… — ele falou, mais para si mesmo, os olhos perdidos por um segundo. — Foi o que pensei. O Naldo não faria isso. Não desse jeito. Se ele soubesse que éramos um casal, tenho certeza que não teria feito.
— E isso muda alguma coisa? — revidei, a frustração começando a ferver dentro de mim. — Anderson, ele me chantageou. Ponto. Isso não se justifica, mesmo que ele não soubesse de nós! Eu estava assustado, me senti encurralado!
Ele balançou a cabeça devagar, como se seu cérebro estivesse processando a informação contra a vontade. Suas mãos, que estavam sobre a mesa, fecharam-se levemente.
— Não tô dizendo que foi certo, Renato… — a voz dele saiu contida, quase cansada. — Só… ele não sabia da nossa situação. Se soubesse que a gente tinha algo, tenho certeza que teria pensado duas vezes. Mas talvez… talvez ele só te visse como mais um, como mais uma presa, e não como…
Ele não terminou. O ar entre a gente ficou carregado daquilo que não era dito.
— Como alguém que importava para você? — completei, suavizando o tom, tentando baixar a guarda que tinha erguido.
— É. — A palavra saiu como um sopro, e ele baixou a cabeça, olhando para as próprias mãos.
Olhei fixamente para ele. A pergunta que tanto temia saiu antes que eu pudesse pará-la:
— Você está defendendo ele, é isso? Defendendo o Naldo, mesmo depois de saber que ele me chantageou?
Anderson pareceu levar um choque físico. Seus olhos se arregalaram e ele ergueu as mãos, num gesto quase defensivo.
— Não tô defendendo! — a voz dele soou áspera, cortante. — Só… tentando entender como alguém que eu admiro, que eu tenho como uma inspiração na roda, pôde fazer uma merda dessas. No seu caso, Renato, ele foi completamente errado. Foi abuso. Foi covardia. Mas em relação ao Gil… — Ele fez uma pausa, procurando as palavras. — Você mesmo contou que o Gil se jogou. Que implorou. Que gostava daquilo. São situações diferentes!
— Diferentes? — minha voz falhou, um misto de incredulidade e dor. — Como podem ser diferentes?
— Porque com você foi chantagem! Foi medo, foi imposição! — ele argumentou, a voz elevando-se um tom. — Seu amigo se deixou ser usado. Ele quis. Ele pediu. Ele gostou a ponto de ir morar com o cara! Você acha que se ele odiasse cada segundo, teria construído uma relação daquelas? Por isso é diferente. Uma coisa é um abuso, outra é um combinado… uma troca, mas consentida.
— Você pode falar o que quiser mas pra mim, Naldo é nojento — declarei, a raiva agora clara na minha voz. — É impressionante como a gente muda de opinião sobre certas pessoas depois de certos acontecimentos. E com Naldo foi justamente assim. Eu achava ele um negro lindo, um coroa com presença, aquele tipo que chama atenção em qualquer lugar, mesmo ele sendo um marrent… Mas sabe quando a gente descobre que a embalagem não tem nada a ver com o conteúdo? Ele é um desses. Usa o charme, o cargo, a influência… Tudo só para o seu bel prazer. E o pior é que as pessoas caem. Caem porque ele sabe como mostrar só o lado que convém.
Anderson não respondeu imediatamente. Ficou em silêncio, mas sua respiração estava mais pesada, seus ombros tensos. Eu conseguia ver a fúria nele, mas agora ela parecia ter encontrado um alvo mais definido.
— De verdade — continuei, decidido a deixar claro cada pedaço da minha repulsa. — Não é só pela chantagem. Não é só por ele ter tentado me usar e me feito fazer o que eu não queria… É por tudo que eu testemunhei depois. A forma como ele tratou o Gil. Como se fosse um brinquedo, um objeto descartável. E o pior é que o Gil se submetia. Agora o Felipe parece seguir o mesmo caminho. Não entendo como alguém pode se encantar por um cara desses… mas fazer o que? Foi assim com o Gil, com o Felipe, com a Amanda, e sabe-se lá mais com quem.
Anderson me escutava. Seus olhos não saíam dos meus, e eu via não apenas a fúria, mas uma dor genuína neles. Era como se cada uma das minhas palavras estivesse repintando a imagem que ele tinha de um homem que, em muitos aspectos, havia sido uma referência.
— Renato… ele sempre foi assim — a voz de Anderson saiu grave, arrastada, como se cada palavra custasse a sair. — Um cara pegador, sem freio. Eu sei de histórias, das mulheres, da fama… mas eu não imaginei, nunca passou pela minha cabeça, que ele tivesse tentado chegar em você. E muito menos desse jeito. Isso muda tudo e claro me deixa puto. Me deixa puto com ele, e me deixa puto comigo mesmo.q
— Eu sei — falei, baixando o tom, sentindo a amargura dar lugar a um cansaço profundo. — Mas olha, hoje em dia eu me afasto. Eu evito ao máximo. Dificilmente a gente se esbarra, até porque parei de frequentar a roda. Eu só acho que o Naldo precisa de limites, e isso é algo que ele nunca teve. O que importa pra ele é o tesão, é a conquista, é o poder. O resto é detalhe.
— Vou te falar uma coisa que ele me disse uma vez — Anderson inclinou-se para frente, seus cotovelos apoiando-se pesadamente na mesa de concreto. — Eu perguntei, numa boa, por que ele tava saindo com o Gil. E ele, sem nenhum pudor, me disse: “Viado eu só pego novinho. Gosto porque é sem frescura, mas tem que ser novinho.” — Anderson fez uma pausa. — Agora, com mulher, ele me disse que não tem padrão. Que pega mesmo. Disse até que já pegou a mãe de um ex-aluno, uma coroa.
— Eu não duvido de nada… Isso é para você ver o caráter… ou a falta dele.— respondi. — Eu mesmo já vi, inúmeras vezes, meninas e até algumas mães olhando pra ele na arquibancada como se ele fosse um deus. Ele tem um ímã, um poder de sedução. Eu entendo isso. Mas entender não é aceitar. E não muda meu ponto de vista sobre quem ele é. Sei que ele é seu professor. Sei que tem uma enorme consideração por ele.
Ele respirou fundo, um suspiro longo e temeroso, tentando recuperar o controle.
— Ele é meu professor, sim. E eu realmente tinha — tenho — consideração por ele, pelo que ele me ensinou. Mas você disse uma coisa agora com a qual eu sou obrigado a concordar: Naldo não tem limite. E gente assim acha que pode tudo. — Ele calou-se por um momento, e quando continuou, sua voz estava mais calma, mas carregada de uma resolução sólida. — Mas você tá certo em uma coisa maior, Renato. Hoje a gente não tá aqui por ele. A gente tá aqui por nós. E que bom… que você confiou em mim para me contar isso. Significa que, no fundo, você ainda acredita que eu posso estar do seu lado.
Ficamos em silêncio. Dessa vez, o silêncio não era cortante nem cheio de coisas não ditas. Era um silêncio pesado, sim, mas compartilhado. Era o som de um segredo sendo dissolvido no ar entre dois homens que estavam, aos trancos e barrancos, tentando se reconstruir.
— Então é isso — disse eu, finalmente, estendendo a mão sobre a mesa fria. — Fechamos o assunto? Enterramos esses fantasmas aqui, nessa praça?
Ele olhou para minha mão estendida, depois lentamente levantou os olhos até meu rosto. Seu olhar era complexo — havia raiva, decepção, mas também um alívio profundo, e algo que parecia muito com gratidão.
— Fechamos — ele afirmou, sua voz firme. — Mas que fique claro, quando eu voltar, quando eu estiver de volta pra ficar, saiba que eu vou conversar com ele. Não para brigar. Não para criar caso. Mas para deixar absolutamente claro que algumas linhas não se cruzam. E que quem eu amo está fora de qualquer jogo.
— Anderson… — tentei protestar.
— Pode ficar tranquilo — ele interrompeu, com uma determinação na voz. — Prometo. Não vai ter treta. Só vai ter uma conversa de homem pra homem. Porque depois do que você me contou, ele precisa saber que eu sei. E que isso faz toda a diferença.
Ele então encostou sua mão na minha. Seus dedos estavam frios, mas o toque foi firme, um aperto que dizia mais do que palavras. E naquele contato, naquela promessa silenciosa selada sobre a mesa de concreto, um fio frágil, mas real, de paz começou a nascer entre a gente. O passado ainda doía, mas pela primeira vez, parecia que não iria nos assombrar mais. Estávamos, finalmente, olhando na mesma direção.
— Tem mais uma coisa — ele disse, a voz um pouco mais grossa, carregada de uma emoção que ele não tentava mais disfarçar. — Só que dessa vez não é sobre o passado. É sobre o agora.
Fiquei quieto, esperando, sentindo o coração bater um pouco mais forte.
— Eu tô muito feliz que você me deu essa chance, Renato. Sinceramente, não tava esperando. — Ele fez uma pausa, engolindo seco. — Esse fim de semana… foi a coisa mais importante que aconteceu comigo em muito, muito tempo. Você ter ido na festa, ter topado ficar comigo no motel, e agora a gente aqui, conversando de verdade…
Ele abanou a cabeça, como se não encontrasse palavras suficientemente grandes.
— Parece que eu tô respirando de novo. E eu não vejo a hora de voltar pra cá de vez. Só de pensar que a gente pode… que talvez a gente tenha um jeito…
A voz falhou, e ele simplesmente parou, me olhando com uma mistura de esperança e medo tão nua que quase doía ver.
— E pra ser sincero… eu tô nervoso pra caralho. — Admitiu, baixinho. — Pode não parecer, mas tô com medo de cagar tudo de novo. Medo de não ser suficiente, de você mudar de ideia… de eu estragar a única chance que tô tendo de consertar o que quebrei.
Havia uma sinceridade naquela confissão. Anderson, sempre tão seguro, tão intenso, agora se mostrava frágil — e aquilo me tocou mais do que qualquer promessa.
— Você não vai cagar nada — falei, firme, apertando sua mão. — A gente vai viver um dia de cada vez.
Eu disse, levantando as mãos num gesto brincalhão, mas deixando meu sorriso estampado no rosto:
— Só não esquece uma coisinha, senhor: você ainda não voltou de vez! Então, tecnicamente… a gente não tá junto não!
Ele riu, solto, e os olhos dele faiscaram de leve.
— Tecnicamente, tecnicamente… — repetiu, balançando a cabeça. — Você é um estraga-prazeres, sabia? O que importa se é oficial ou não, hein? — Ele inclinou-se para frente, e o sorriso ficou mais safado. — Se é oficial ou não… neste fim de semana a gente fez tudo o que um casal oficial faz. E um pouco mais.
A afirmação dele pairava no ar, quente e verdadeira. Eu não consegui evitar um sorriso, mesmo tentando manter a seriedade.
— Verdade — admiti, cruzando os braços, mas sem conseguir esconder o brilho nos olhos. — Só não quero que a gente entre nesse ritmo achando que já tá tudo resolvido.
— Não tô achando nada — ele respondeu, a voz mais suave agora.
Ele me olhou, o sorriso ainda nos lábios, mas os olhos sérios.
— Então combina comigo o seguinte: eu volto, a gente resolve o que precisar resolver, e depois… a gente oficializa essa bagunça toda.
Apertou minha mão rápido, como para selar a promessa e completou:
— Porque esse fim de semana já foi o ensaio geral. Agora eu quero é o espetáculo completo.
A conversa na praça chegou ao seu fim natural, não com um grande acordo, mas com um cansaço honesto que trazia mais clareza do que eu esperava. Anderson levantou primeiro, estendeu a mão para mim e, com um puxão suave, me trouxe de pé.
— Vamos? — ele perguntou, e eu apenas acenei.
Assim que entramos e as portas se fecharam, o mundo exterior pareceu sumir. O interior escuro do carro cheirava a ele, a limpeza e ao perfume discreto que sempre usou. Ele girou a chave, o motor roncou baixo e, antes de engatar a marcha, ficou um instante com as mãos no volante, olhando para frente.
— Puta conversa, hein? — ele disse, mais para o para-brisa do que para mim, e soltou uma risada curta e sem graça.— Não foi fácil — concordou, olhando para as mãos no volante.
— Mas foi precisa. Eu disse.
Ele guiou o carro para a rua. O percurso até minha casa não era longo, mas ele dirigia devagar, como se tentasse esticar aqueles minutos. A cidade passava pelas janelas, um borrão de luzes e sombras. A tensão sobre tudo que converamos ainda pairava, mas agora era um assunto enterrado, pelo menos entre nós dois.
Foi quando ele parou em um sinal prolongado que fez o pedido, sem olhar para mim:
— Posso te pedir uma coisa?
— Pede, ué — respondi, tentando soar natural. — Vai depender muito do pedido… se tiver ao meu alcance…
— Eu queria que você fosse junto comigo e meu pai lá no aeroporto amanhã — a voz dele saiu direta, mas carregada de uma expectativa que dava para sentir no ar.
Virei o rosto para ele, surpreso.
— Que horas?
— A gente sairia daqui umas nove da manhã. Assim dá tempo de chegar tranquilo antes do voo — explicou, finalmente me olhando. Havia um pedido silencioso em seus olhos, misturado com uma vulnerabilidade que raramente mostrava.
Respirei fundo, calculando mentalmente minha manhã.
—Anderson, eu trabalho amanhã. Vou ter que ver com o Pedro… Mas acho que dá pra ir sim. A Luana está de atestado, mas ele mesmo me cobriu hoje. Acho que consigo.
Ele sorriu, um alívio genuíno iluminando seu rosto cansado.
— Então beleza. Fica combinado assim. Eu te passo a confirmação mais tarde.
O sinal abriu, e ele seguiu dirigindo. Nos últimos minutos de trajeto, nenhum de nós falou sobre o que aquilo significava — ele, me incluindo em um momento familiar importante, um dia antes de voltar para longe. Era um gesto pequeno, mas que falava mais do que qualquer discurso sobre recomeços.
Quando parou em frente à minha casa,desligou o motor, mas não fez movimento de sair. O silêncio dentro do carro era quente, íntimo.
— Então é isso — ele disse, olhando para mim. — Você vê com seu chefe e me avisa se pode ir amanhã.
— Combinado — respondi, soltando o cinto.
Antes que eu pudesse abrir a porta, ele me puxou de volta pelo braço. Seus olhos brilhavam com uma mistura de desejo e brincadeira.
— Sei que ainda não estamos voltamos oficialmente — começou, a voz baixa —, mas acho que dá pra gente aproveitar que a gente está sozinho aqui…
E então me beijou. Foi um beijo que misturava o sabor da noite, da conversa pesada que tivemos e do desejo que nunca tinha ido embora. Eu correspondi, deixando as mãos se perderem em seu cabelo, no calor do momento.
Mas a realidade era uma rua residencial, com vizinhos curiosos e luzes acesas. Puxei-me para trás, respirando fundo.
— Aqui no carro, nessa rua, não rola — disse, tentando soar firme.
Ele fez uma careta de frustração, e eu soltei uma risada baixa.
— A não ser… — continuei, encarando-o com um sorriso provocante — que você queira subir pro meu quarto e a gente fazer uma pequena despedida antes de você ir pra casa.
— Você tá falando sério? — ele arregalou os olhos. — E seus pais?
— É só uma sugestão — respondi, abrindo a porta do carro. — Quanto aos meus pais, eles já tão no quarto deles a essa hora.
Mal completei a frase, ouvi a porta do lado dele se abrir e o alarme do carro sendo ativado.
— Então vamos! — ele disse, saindo rápido. — Qualquer coisa falo que vim te deixar em casa.
Entramos em casa na ponta dos pés. Começamos a subir a escada quando a voz da minha mãe ecoou do corredor:
— Renato! Tem strogonoff no fogão. Se não quiser, é só colocar na geladeira!
Segurei o riso, apertando o braço do Anderson. Ele congelou no degrau.
— Tá, mãe! — gritei de volta, tentando disfarçar a respiração acelerada. — Vou subir tomar um banho, daqui a pouco eu como alguma coisa!
Após subirmos a escada, ainda no corredor escuro, ele puxou meu rosto para perto do seu e sussurrou, o hálito quente batendo em meus lábios:
— Antes de você comer qualquer coisa, você vai ser a minha comida.
Assim que entramos no quarto e a porta se fechou, o mundo lá fora pareceu sumir. Anderson não me deu tempo para pensar. Veio pra cima de mim num impulso, e nossos lábios se encontraram num beijo imediato e faminto, até que ele me virou e me prensou contra a porta. Seu corpo sólido se moldou às minhas costas, e seus lábios desceram para meu pescoço num beijo de pura posse.
— Vamos terminar o que você não deixou a gente fazer aqui ontem — ele falou, com a voz grossa.
Como resposta, balancei minha bunda de leve contra ele, que já estava duro. Ele percebeu na hora.
— Tá querendo, né? — disse ele.
— Se eu não estivesse querendo, não teria te chamado pra subir. Não acha? — respondi, sem medo.
Me virou de frente e capturou meus lábios novamente, num beijo profundo que arrancou o ar dos meus pulmões. Era um beijo que não pedia permissão — tomava. Quando nos separamos, ele estava sorrindo, aqueles olhos escuros me percorrendo como um predador.
— Sabe da sua sorte? — continuou, os lábios ainda roçando os meus, enquanto suas mãos puxavam e tiraram minha camisa. — Seus pais estarem lá em baixo… Porque se não eu ia te macetar tão gostoso que você ia lembrar dessa foda até o dia da minha volta.
Nos despimos aos poucos, entre beijos e toques exploratórios, até ficarmos só de cueca.
— Vamos ver se você ainda sabe ficar quietinho — provocou.
O ar no quarto estava carregado de uma intimidade ao mesmo tempo familiar e excitantemente nova. Anderson estava incrivelmente carinhoso; porém as coisas, é claro, foram esquentando. Cada toque se tornou mais ousado, cada beijo, mais profundo. Mas havia um acordo silencioso entre a gente: Meus pais estavam no andar debaixo . Isso não tornou o momento menos intenso — pelo contrário, a necessidade de silêncio, acrescentou uma camada elétrica de tensão. Meus gemidos vinham abafados, presos na garganta ou soterrados nos lábios dele, e isso parecia deixá-lo ainda mais louco. Eu via o tesão subir em seus olhos a cada som contido que eu soltava.
— Anderson… — soltei um gemido abafado, e ele colocou um dedo sobre meus lábios.
— Shhh… Você vai aprender a gemer só no meu ouvido hoje — ordenou, sua voz era um comando suave, mas inegável. — Ou então paro.
Sua ameaça, dita naquele tom baixo e confiante, era o jogo final. Eu já estava entregue, em chamas, querendo ser provado e me dar a ele por completo.
Ele então passou a chupar meus mamilos. Eu me contorcia, tentando me controlar. Ele sabia exatamente como provocar, como me deixar louco. E olha que a gente tinha acabado de entrar ali. Quando parou, me empurrou suavemente para a cama.
Ele ficou de pé, tirou a própria cueca e, ao me ver ainda vestido, sussurrou:
— Tá esperando o que pra tirar a sua?
Deitou-se ao meu lado e passou a mão por meu peito, descendo até meu quadril.
— Você tá com tesão! E isso é bom! Admita o quanto sentiu falta. Caralho, Renato! Olha como eu tô!
Ele me mostrou o seu pau ereto, duro como pedra, e bateu ele na palma da mão, produzindo aquele barulho específico, úmido e pesado.
— Minha vontade é de te dar pica até amanhã…
— Você vai ter todo o tempo do mundo pra fazer isso quando voltar — consegui retrucar, ofegante, enquanto ele se aproximava para mais perto..
— Vou, é? Então me mostra o que a sua boca sabe fazer! Me chupa! — sacudiu a pica dura, me oferecendo ela.
A ordem, dada naquele tom rouco e cheio de desejo, foi atendida com muito bom gosto. Com um movimento, ele se sentou encostado na cabeceira, suas pernas abertas, pau pulsando, e eu ainda deitado na cama me aproximei dele, ficando próximo da sua pica.
A visão dele ali, completamente exposto e entregue ao momento, era perfeita e convidativa. Ele me olhava de cima, esperando eu cair de boca naquela pica.
— Vai, Renato! — sussurrou ele, sua voz um fio de areia. — Mostra o quanto essa boca chupa gostoso.
Eu não hesitei. Inclinei a cabeça e encostei os lábios na base do seu membro, sentindo a pele quente e a pulsação forte sob minha boca. Respirei fundo e comecei a mamar.
Foi devagar, no início. Apenas a ponta, lambidas leves que faziam o corpo dele tensionar. Eu usava as mãos, uma na base firme, a outra acariciando suas coxas, sua barriga, qualquer parte que pudesse tocar. Ouvi um suspiro abafado vindo de cima e olhei para ele. Seus olhos estavam fechados, a cabeça recostada, a boca entreaberta.
— Isso… assim mesmo — ele respirou, seus dedos se enrolando mais forte no meu cabelo, não para forçar, mas para guiar, para participar.
Eu aumentei o ritmo , chupando com mais vontade e sagacidade, aprendendo novamente o formato, o peso, o gosto daquela pica que num passado eu tinha com uma frequência enorme.
Não era uma coisa coordenada; eu chupava entre engasgos, lambidas. Para mim, tudo ali era válido; ter Anderson urrando de prazer me satisfazia, e muito. E ali, cada som úmido parecia amplificado no silêncio absoluto que tínhamos que manter. A tensão de não poder fazer barulho transformava cada movimento em algo mil vezes mais intenso.
— Porra, Renato… — o gemido saiu como um arranhão na garganta dele. Ele tentou empurrar minha cabeça para baixo, mas eu resisti, mantendo o controle do ritmo. Era meu jeito de devolver o jogo de sedução. Ele riu baixinho, um som de aprovação. — Safado… tá querendo me matar de vontade.
Eu tirei a boca por um instante, ofegando, e olhei para cima. — Pode ficar tranquilo, porque hoje você não vai ficar só na vontade.
Ele sorriu, malicioso, e com as duas mãos na minha nuca, me puxou de volta para ele, mais fundo dessa vez. Eu me entreguei, deixando a garganta relaxar, aceitando a invasão. Meus olhos lacrimejaram, e o som que saiu de mim foi completamente engasgado, abafado contra sua pele.
Foi então que seus quadris começaram um movimento sutil, quase imperceptível, um vai e vem que ditava o ritmo. Sua respiração tornou-se uma série de suspiros curtos e roucos; o som característico do boquete ajudava no clima. As palavras começaram a cair em sussurros quebrados.
— Essa boca… caralho, essa boca era só o que eu precisava… — uma estocada mais profunda. — Me faz delirar… me faz perder… isso, vai… não para…
Eu estava tonto, com os sentidos tomados por ele. Meu próprio corpo estava em chamas, ignorado, mas cada gemido abafado dele, cada tremor de suas coxas, era combustível. Ele estava perto. Eu conseguia sentir pela tensão extrema dos seus músculos, pela forma como seus dedos se agarravam ao meu cabelo.
— Renato… para, senão vou gozar — o aviso saiu em um arfar.
Parei de chupar e falei:
— Você nem é louco de gozar agora...
A respiração dele eraintensa. Ele se levantou e, num comando seu para eu ficar de quatro, eu já estava todo empinado. Senti ele segurar minha cintura com uma mão enquanto, com a outra, mirava sua pica, afim de me penetrar.
— Eu vou gozar é aqui dentro — sussurrou, a voz completamente rouca.
Quando ele foi me penetrando, com cuidado, aos poucos, eu segurei toda a inquietação e o fogo que estava sentindo. Apertava os lençóis, mordia o travesseiro.
Ele me enfiava a pica e dizia:
—Relaxa… abre-te para mim. Geme baixo.
Até que, num movimento, ele enfiou toda a parte daquela pica que faltava entrar. Um movimento que me fez quase gritar, mas contive o grito; o ar saiu dos meus pulmões num sopro cortado. Anderson parou, imóvel, deixando a gente se acostumar com a sensação.
— Já estou todo dentro de você. Agora é só curtir.
— Porra… que aperto… — ele gemeu no meu ouvido, enquanto metia suave.
Então, ele começou a se mover. Devagar no início. Toda vez que ele tirava sua pica de dentro de mim, era um suspiro, cada nova penetração era um gemido. Eu enterrava o rosto no travesseiro para abafar os sons, mas meu corpo falava por si só: arqueando, contraindo, implorando por mais.
— Isso… rebola devagar… sente tudo — ele comandava, suas mãos segurando meus quadris com força, ditando o ritmo.
O controle começou a escorregar. As estocadas ficaram mais profundas, mais precisas, batendo em um ponto que fazia meus olhos revirarem. Um gemido mais alto escapou, e ele imediatamente tapou minha boca com a mão.
— Gemer baixo, porra! — rosnou, ao mesmo tempo que dava uma metida mais violenta, como punição e recompensa. — Quer que eles ouçam? Quer que saibam como você tá levando pica?
Eu balancei a cabeça negativamente, enlouquecido, O ritmo se tornou implacável, um bate-estaca animal e perfeito. A cama rangeu perigosamente, e ele parou por um segundo — meu coração quase saiu pela boca. Então saí da cama e fiquei de quatro, apoiado na janela — que estava fechada —, e ele veio enterrando sua pica dentro de mim. Colocou sua mão em minha boca e investiu na metida, metendo com tudo; seus lábios se encostaram no meu pescoço para abafar seus próprios sons.
— Caralho, meu amor! Você tá mais gostoso do que nunca.
Eu, gemendo, falei:
—Você também! Ainnnn… Que pica gostosa… Seu gostoso.
— Toma pica, priminho… — ele sussurrou, malicioso, ao retomar o movimento, desta vez mais contido no impacto, mas ainda mais profundo. — Mas toma no cu no modo silencioso. Segura o gemido.
Era um jogo impossível. Quanto mais ele me ordenava para ficar quieto, quanto mais aquela pica me invadia, mais eu queria gritar. Cada estocada me incendiava ainda mais, cada palavra sussurrada era um estímulo.
E estava gostoso estar ali. Eu gostava daquela dominação que ele tinha sobre mim, da dedicação dele em me foder. Nossos corpos estavam suados, eu rebolava para ele e pedia mais. As estocadas eram tantas que, até que minhas pernas tremeram.
Ele tirou aquela pica de dentro de mim, segurou a minha mão e se deitou em cima de um pequeno tapete que havia no meu quarto. Segurou a base daquele pau e disse:
—Agora senta — ele ordenou, seus olhos fixos nos meus na semi-escuridão. — E com vontade.
Segui suas instruções. Com uma mão, ele posicionou seu pau na minha entrada. Com a outra, manteve firme meu quadril. Eu desci, lenta e silenciosamente, sentindo cada centímetro daquela pica entrar. Quando aquela pica estava toda dentro de mim meu suspirou era maior do que qualquer gemido que eu tinha dado ali.
Tratei então de sentar com pressão naquele pau.
Anderson, com a voz rouca e ofegante, incentivava:
—Isso… Quica gostoso, vai. Faz esse cu engolir minha pica até o talo.
Eu desci com mais força, rebolando o quadril, e olhei bem nos olhos dele.
—É isso que você quer, Anderson? Meter no seu priminho… É isso que você gosta de fazer? Encher o seu priminho de porra?
Ele gemeu, lutando contra o próprio instinto, os olhos vidrados:
— Porra, isso mesmo, seu putinho! Bota esse rabo pra trabalhar! Vai, senta mais!
Eu acelerei o ritmo, subindo e descendo rápido, sentindo o calor do meu próprio orgasmo se aproximando.
—Vou gozar… Vou gozar sentando na sua pica!
— Goza! Safado! — ele rosnou, os dedos cavando na minha carne.
Foi o que eu fiz. Quando o clímax me atingiu, gemi abafado, meu corpo todo contraindo, jorrando no peito dele enquanto continuava a quicar, sentindo meu cu pulsar e apertar o pau dele por dentro num ritmo frenético e involuntário.
Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, ele me virou com força bruta. Em posição de frango assado, com minha perna levantada, ele entrou de uma vez, um preenchimento brutal e imediato.
— Agora é a minha vez, priminho! — ele declarou, a voz carregada de posse pura.
E então ele meteu. Com uma fúria e uma profundidade que me tiraram o ar, as socadas eram curtas, precisas e profundíssimas, atingindo tudo que havia para ser atingido.
—Toma… Toma toda, sua puta!
Naquela posição , completamente aberto e exposto, cada estocada dele era mais profunda, mais esfomeada. Meu tesão era uma satisfação ardente em vê-lo ali, sobre mim, o suor escorrendo dos seus músculos e respingando no meu peito a cada metida brutal. Seus músculos tensionados, o rosto contraído de prazer concentrado, era a visão mais poderosa que eu podia ter.
Entre um gemido e outro, ele sussurrou rouco, as palavras quase perdidas no ritmo das metidas:
—A vontade que eu tive… de dar uns tapas nessa bunda até deixar vermelha…
Peguei o braço dele no ar, interrompendo o movimento, e guiei sua mão forte até o meu rosto. Ele sacou o recado na hora. O primeiro tapa veio, não violento, mas firme, um estalo quente que fez minha cabeça virar de lado e meu corpo estremecer sob o dele.
—Você é um puto mesmo — ele rosnou, maravilhado e cruel. — Além de pica no cu, gosta de levar uns tapas na cara, né?
Outro tapa, um pouco mais forte, seguido do apoio brutal de seu quadril, enterrando-se ainda mais fundo. Sua respiração, já ofegante, se tornou um som áspero e animal. Até que ele perdeu o pouco controle que restava. O ritmo se tornou desenfreado, um bate-estaca final e ele se contorceu por cima de mim, um urro abafado saindo de sua garganta enquanto eu sentia, de dentro, a pica dele pulsar e explodir, jorrando quente e profundo.
Ele desabou por cima de mim, ofegante, um peso suado e satisfeito. Nossos corpos se colaram, misturando suor, calor e a respiração ainda acelerada. Ele enterrou o rosto no meu pescoço e suspirou, disse:
— Você um dia vai me deixar louco, caralho.
— A intenção era essa, respondi.
Ele se jogou do meu lado, e ficamos ali deitados no chão, o ar pesado ainda carregado do nosso calor.
— Você não sabe o tesão que sinto por você, Anderson.
— E você não sabe o controle que tem sobre mim. Se soubesse…
Virei-me para ele e colei seus lábios com os meus. Ele respondeu ao beijo, devagar e docemente, um contraste brutal com a fúria de minutos antes.
— Se eu soubesse o quê? — perguntei, quando nos separamos.
Ele riu, um som baixo e rouco.
— Usaria isso a seu favor.
Então, ele se levantou, pegou o celular do chão, olhou a hora e seu rosto se fechou um pouco.
— Tá tudo muito bom, mas preciso ir.
Levantei-me também e concordei, mas argumentei:
— Mas vai sair assim, todo suado? Não que seja ruim, mas acho que merecemos um banho.
— Não é uma ideia ruim não — ele disse, já perguntando se havia toalha limpa no banheiro.
E lá no banheiro, debaixo da ducha ele me puxou contra si, e nossos lábios se encontraram sob a cascata quente. O beijo era lento, profundo, diferente da fome desesperada de antes — agora tinha um gosto de despedida. Entre um beijo e outro, suas palavras surgiam como sussurros roucos que competiam com o som da água:
— Eu te amo, Renato — ele disse, as mãos firmes em minha cintura. — Você não faz ideia de como só de pensar em ficar longe de novo… me dói aqui. — A mão dele apertou suavemente sobre meu peito, como se o desconforto fosse físico.
Eu o abracei mais forte, meu rosto enterrado no pescoço molhado dele, respirando o cheiro limpo do sabonete e algo que era só dele.
— Olha pelo lado positivo — murmurei, afastando-me o suficiente para encarar seus olhos sérios. — Essa é a última vez. Em breve você estará aqui de vez.
E, num gesto de carinho puro, dei pequenos selinhos por todo o rosto dele e prometi:
—Eu vou te esperar.
Ele se espantou, os olhos procurando os meus no vapor do banheiro.
— Me espera mesmo?
— Sim. Estamos praticamente juntos. Não custa nada, né?
Após o banho, fomos para o quarto. Enquanto ele se vestia, rápido e preciso, eu coloquei minha roupa de dormir — um conforto simples que contrastava com a energia que ainda pulsava no ar. Antes de sairmos do quarto, ele parou na porta, me encarando com seriedade.
— Não esquece de tentar ver com Pedro o lance de amanhã, hein? — disse, ajustando a pulseira do relógio. — Eu sei que tá em cima da hora, mas pelo menos tenta.
— Sim, falei. Assim que você sair, vou mandar uma mensagem pra ele.
Um beijo rápido, quase um selinho de despedida, mas que carregava o peso de tudo o que não foi dito.
Descemos as escadas em silêncio, o ruído dos degraus sendo o único som. Mas, quando estávamos quase terminando de descer, meu pai surgiu do nada só de cueca, saindo da cozinha. Acho que todo mundo ali se assustou — eu, Anderson, e até ele, que fingiu total naturalidade. Eu abri a boca para dizer algo, qualquer coisa, mas ele simplesmente seguiu seu caminho em direção à sala, murmurando baixinho, como se falasse sozinho:
— Eu não vi nada, eu não sei de nada.
Deu uma vontade imensa de rir. Olhei para Anderson, que estava visivelmente tenso, os ombros um pouco rígidos. Toquei levemente seu braço e o conduzi até o portão. Dessa vez, em vez de um “até já” cheio de duplo sentido, ele disse apenas um “até logo” sussurrado, antes de entrar no carro.
Fiquei ali parado na porta de casa, vendo os faróis desaparecerem na curva da rua, até que o silêncio da noite tomou conta. Subi correndo para o quarto. Naquela altura, tinha até esquecido de comer algo, mas a mensagem para Pedro, não. Peguei o celular e escrevi, tentando ser o mais profissional possível, mesmo àquela hora:
“Oi, Pedro, me desculpa a hora, mas estou entrando em contato pra saber se há uma possibilidade de eu não ir trabalhar amanhã. Por favor, aguardo resposta.”
Não demorou muito para que o cansaço físico e emocional me derrubasse, e eu apaguei completamente.
Acordei com o celular tocando. Era Pedro. O dia estava raiando lá fora, e possivelmente ele também tinha acabado de acordar e visto minha mensagem. Atendi, ainda mergulhado no sono.
— Renato? Tudo bem?
—Oi, Pedro… — comecei, arrastando as palavras. Respirei fundo. “Só vai.” — É o seguinte… Na verdade, não estou doente. É que… meu tio vai levar Anderson no aeroporto hoje de manhã, e eu me comprometi a ir junto. E… o namorado dele vai junto. É importante pra mim. Por isso cogitei uma possibilidade de você em dar uma folga.
Do outro lado, um silêncio breve. Pedro parecia estar processando.
— Entendo, Renato. Realmente entendo que seja importante — disse ele, com uma voz que tentava ser compreensiva, mas já carregava o peso da decisão. — O problema é que, com a Luana ainda de atestado, o desfalque hoje já é enorme. Você sabe como as coisas ficam apertadas. Eu realmente preciso de você aqui. Confio no seu trabalho.
A esperança, frágil como era, começou a se desfazer. Senti o aperto no peito.
— Não tem nenhuma outra forma? — insisti, sabendo que era inútil. —
— Renato. Não tem como — a voz dele era firme, final. Um suspiro perceptível. — Quebra esse galho pra mim desta vez. Pela confiança que eu tenho em você.
As palavras “confiança” ecoaram, carregadas de um peso que eu não conseguia ignorar. Como dizer não a um pedido desses? A gratidão e a culpa falaram mais alto.
— Está… está bom, Pedro — a frase saiu derrotada. — Eu vou. Daqui a pouco estou aí.
—Obrigado, Renato. De verdade. Te devo essa.
Desliguei e joguei o celular na cama. A frustração era um gosto amargo e ácido. Eu me odiava por não ter sido mais firme, por não ter priorizado a despedida. Ao mesmo tempo, um ressentimento irracional e imediato brotou contra o Pedro. Custava entender? Custava tentar se virar? Mas no fundo, eu sabia que ele também estava apenas fazendo o seu trabalho, preso em seus próprios problemas.
Com um peso enorme no peito, peguei o celular de volta. Agora, a ligação mais difícil: para Anderson.
Liguei. Ele atendeu quase que imediatamente, a voz ainda grossa e áspera de sono.
— Me dê uma notícia boa… — ele disse, e dava para ouvir o sorriso esperançoso na fala. — Você vai no aeroporto com a gente?
Engoli seco.
—Então… não vou poder ir.
O silêncio do outro lado ficou instantaneamente mais pesado.
—Por quê? — a pergunta veio direta, sem rodeios.
— Porque a Luana, ainda está de atestado. E já é um desfalque muito grande, ou seja ele realmente precisa de mim hoje.
Houve um silêncio prolongado. Era nítido, mesmo através da linha, o momento em que a expectativa dele se esvaziava, substituída por uma decepção silenciosa e contida.
— Eu queria muito ir… — acrescentei, sabendo que soava fraco, quase como uma desculpa vazia.
A voz dele voltou, controlada, prática, mas um pouco mais plana do que antes.
—Tá de boa, Renato. Te pedi em cima da hora também. Pelo menos você tentou. E como você mesmo disse, daqui a pouco eu estarei de volta.
— Me desculpa, Anderson. Eu queria muito.
—Relaxa. Fique em paz — ele disse, e então acrescentou, com uma entonação que era ao mesmo vez um pedido e uma ordem suave: — E me espera.
Forçando um tom mais leve para tentar afastar o clima pesado, eu ri, um som curto e sem graça.
—Bom dia e uma ótima viagem.
—Quando eu chegar lá, te ligo. Beijos.
A ligação caiu. Fiquei olhando para a tela escura do celular por um longo momento, o vácuo da conversa enchendo o quarto. A promessa do reencontro, que horas antes parecia tão vibrante e próxima, agora tinha o sabor amargo de uma chance perdida. O dia comum já batia à porta, e com ele, a rotina que insistia em seguir seu curso.
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Comentários (7)
Metoopau: Não consigo confiar e gostar do personagem Anderson, fazer o quê?
Responder↴ • uid:1de0wvalgtemGuto: Parabéns por mais um capítulo sensacional continue nesse caminho e não ligue pra pessoas mal amadas que não sabe o significado da palavra feliz
Responder↴ • uid:1dai5ba9d0Luiz: Essa merda de conto insiste em sobrevevier, ja passou da hora de acabar a muito tempo cada dia vc escreve pior e essa estoria nao convence ninguem
Responder↴ • uid:3v6otnnr6icCaiçara: Que surpresa maravilhosa essa
Responder↴ • uid:fi07cbmm4Fã do Renato: Mais um capítulo incrível e história bem escrita!!! Amei cada detalhe e mal posso esperar pelo próximo, sinto que o fim dessa saga está chegando ao fim, mas espero que dure muito tempo ainda! Ansioso por essa nova fase na vida deles, parabéns por ser tão incrível e por essa história cativante!!!
Responder↴ • uid:1czpk1u4s2sxFãPrime: Cara, que conto lindo. Fiquei super emocionado. Imagino que o processo de escrita, para entregar algo tão primoroso, deva ser algo super rigoroso para você. Obrigado pela dedicação. Mas não demora no outro não. Dá mais una presentes aí pra gente antes do ano acabar. Fico ansioso por cada novo capítulo. Obrigado por essa obra linda.
Responder↴ • uid:1ewuc7j6dh4iAlvorecer: Impecável como sempre o conto tá muito bom, incrível ver essa evolução de personagens e finalmente tivemos Renato contando do lance do Naldo para o Anderson e cada capítulo mais ansioso pelo próximo
Responder↴ • uid:lcprntrdfxi