O Tejo e a Lezíria - 4

O libertar de um sentimento, num simples beijo dado na boca...mas antes Alice conta o inferno onde esteve...

CONTINUAÇÃO:

Foi Rui, na sua loucura quem os raptou...e os levou para aquela casa perdida na serra, e os manteve em cativeiro...na sua loucura ele imaginava-os seus filhos e de Alice...e agora ele reunira a família imaginária mas para ele real dele...Alice e os seus filhos...ele desde que ela acabou o noivado, isolou-se...cada vez mais se isolou, até abandonar a sua família...depois andou por Espanha, onde arranjou trabalho, mas Alice nunca lhe sai do pensamento...e começou a fantasiar uma família com ela...e os meninos eram os seus filhos imaginários...a sua loucura não tem limites, ele comprou aquela casa, e fez dela uma gigantesca masmorra...grades nas janelas, portas blindadas, a energia era solar, tinha uma horta e animais...era autossuficiente, poucas coisas ele precisava de comprar...aquela propriedade era o seu mundo mais nada existia, e agora ele tinha a sua Alice...
Durante uma semana manteve ela amarrada, fodendo-a várias vezes ao dia...Alice já nem reagia, limitava-se a estar quieta... sem mostrar qualquer emoção, embora o nojo fosse enorme...
Carlos procurava-a desesperadamente…
Carlos nunca mais foi o mesmo homem...irritadiço, sempre mal humorado... descarregando a sua frustação por não saber de notícias da Alice havia já 1 mês, no trabalho.
Carmo estava de coração partido por o ver assim...duas vezes ela procurou ele na noite para que ele alivia-se a sua frustação no corpo dela...e duas vezes ela assustou-se com o sexo...ele parecia um animal raivoso, metralhava a sua buceta durante tempo sem fim...não se preocupava minimamente com ela, apenas usa o corpo dela para foder e nada mais...quando ele lhe enrrabava só não enterrava os colhões no cu dela porque não dava mesmo...as mamas dela estavam doridas, mas ele mamava sem parar...ela pela primeira vez quis fugir da cama durante o sexo com um homem...e ele agarrava-a e fodia e fodia, até ela deixar de tentar falar, até ela deixar de pedir por favor que ele fosse mais gentil...até o corpo dela ficar só tremendo com os orgasmos dela, o olhar perdido dela para o vazio, e aquela língua dela caída num dos cantos da boca.
Entretanto no seu cativeiro, Alice era violada uma e outra vez...Rui quer meter um bebé na barriga dela, custe o que custar, e fode-a várias vezes por dia...ela bem tenta escapar mas ele não lhe dá chances...
Ela desesperada reza para não engravidar dele.
Ela tem que trabalhar na casa e na propriedade, o único consolo dela é cuidar de Dieguito e de Carmen, as duas crianças raptadas pelo Rui...graças a eles ela vai resistindo.
Teve uma enorme faca de cozinha nos pulsos mais do que uma vez, mas pensava se ela se mata, que vai ser daquelas crianças...Rui na sua loucura pode perfeitamente matar elas.
Quando não está cuidando da casa ou das crianças, está debaixo do Rui, nua a ser fodida...o nojo que Rui le dá aumenta cada vez mais...e o pior é sentir dentro das entranhas o esperma dele a ser depositado dentro dela.
A pior tortura é aos domingos de manhã...ela tem que ir com ele á missa...de braço dado, é apresentada ás pessoas como sendo esposa de Rui...até beijos tem que lhe dar...a vontade de pedir socorro, a aquelas pessoas...é tanta que por vezes até a deixa com febre...mas ela sabe se pedir isso, Rui mata as crianças ,pois ele encerra elas numa cave antes de irem á missa, e tem uma bomba que pode ser acionada com um simples toque no telemóvel...e as crianças morrem.
As noites naquele inferno...nua...a ser fodida...as suas mamas balançando para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita...a sua buceta metralhada...e depois aqueles urros dados quando ele deposita o esperma dentro dela...e depois é aquela contagem...tomara que o período apareça...ela só tem algum momento de felicidade quando ele aparece...os outros momentos é quando brinca com as crianças...Diego e Carmen adoram ela.
Tudo acabou quando menos ela esperava...estava nua a ser violada mais uma vez...de repente ouve-se um helicóptero...a cada fica toda iluminada com luzes vindas do exterior...Rui deixa de a foder, corre para a sala, tira uma pistola de uma gaveta...no exterior estão dezenas de polícias, com altifalantes gritando para ele se entregar...Alice mesmo nua corre para o quarto das crianças, e esconde-se com elas debaixo da cama de casal onde as crianças dormem...do nada ouvem-se tiros...
Passados uns minutos vários polícias entram no quarto onde ela está deitada debaixo da cama com os meninos...ela está assustada e confusa, parece mais um animal do que uma mulher.
Tapam a sua nudez com um lençol branco, ela só grita assustada, está em choque...é lhe administrado um sedativo e ela acalma, e enquanto a levam deitada numa maca, ela vê o corpo de Rui estendido no chão...morto.
Depois ela adormece...acorda já num hospital, está num quarto vigiada por uma enfermeira e quando ela acorda a enfermeira procura acalmar ela...

SEÑORA...ESTA SEGURA...CALMA...
- ELE...ELE VAI...ME MATAR...VIOLAR...SOCORROOOO...
- CALMA SENÕRA...EL MEDICO YA VIENE...

Uma equipa de médicos entra no quarto dela, e aos poucos vão a acalmando, especialmente a doutora Macarena...a voz feminina e calma dela tranquiliza a Alice...e ela mais calma pergunta:

- AS CRIANÇAS...DIEGO...CARMEN...
- LOS NIÑOS ESTAN BIEN, ALICE...GRACIAS A USTED...LOS SALVÓ...
- AINDA BEM...EU....

E começou a descarregar os nervos, o medo, o terror num choro compulsivo agarrada primeiro á mão de doutora Macarena e depois abraçada a ela...a doutora chora com ela.
Alice é depois submetida a muitos exames médicos, e depois presta depoimento a uma inspetora, Isabel, especialista em casos de rapto e violação.
Nessa noite os pais de Alice chegaram ao hospital julgavam a filha já morta, para eles fora um milagre ela estar viva...
Na semana seguinte Alice teve alta médica, e no dia em que ia sair do hospital para regressar a Portugal, Santarém, no átrio do hospital um casa jovem, ela uma bela morena, alta e muito bonita, ele um moreno alto e musculado, Maria e Juan esperavam ela, acompanhados de Diego e Carmen, os seus filhos.
Mal a viram as crianças correram para ela...ela não esperava e ajoelhou-se abraçando eles...

- ESTÃO BEM??? DIEGO...CARMEN...
- SI, ALICE...

Depois Alice viu o casal jovem que se aproximava deles, e o Diego diz:

- ALICE SON MIS PADRES...MARIA Y JUAN...

Maria abraça Alice...Maria começa a chorar, e a dizer:

- GRACIAS...GRACIAS...NO LO SÉ COMO TE AGRADECER...ERES UN ANGEL...GRACIAS...
- SENHORA EU... diz Alice também emocionada...
- BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ...MIS NIÑOS SON MI VIDA...

Juan também emocionado abraça a Alice quando a sua esposa larga Alice por uns momentos, e diz:

- MI ESPOSA TIENE RAZON...ERES UN ANGEL, ALICE...JAMAS TE OLVIDAREMOS...GRACIAS, MIL VEZES GRACIAS...
- NÃO FIZ NADA DE DEMAIS, EU...
- NO...NO... ME AS DADO VIDA...ESO ES TODO, ALICE.

Depois sentaram-se uma hora mais ou menos no café do hospital, os meninos não largavam a Alice, e a certa altura os pais deles dizem:

- ALICE...TE QUIERO ACER UN PEDIDO...diz o Juan.
- SE EU PUDER AJUDAR...
- SERIA UN HONOR SE FUESES LA MADRINA DE DIEGO E CARMEN...
- SI...QUEIRO, diz Alice emocionada.

Alice depois veio com os pais para Santarém, regressou ao seu quarto...e numa conversa que durou uma noite inteira ela conta aos pais aquilo que ela sofreu com o Rui.
Depois andou uns meses a ser acompanhada por uma psicóloga, ela precisava de recuperar a sua vida, os pesadelos são constantes durante a noite...e ela uma tarde telefona a Carmo.

- OLÁ...diz Carmo quando atende o telefone.
- CARMO SOU EU...ALICE.
- OLÁ ALICE...COMO ESTÁS???
- A PRECISAR DE REGRESSAR Á SUA HERDADE E TRABALHAR...UM DIA A CARMO DISSE QUE ERA UMA MULHER PRÁTICA...DESCULPE SER TÃO DIRETA...
- AMANHÃ CÁ TE ESPERO, TENS MUITO TRABALHO AQUI PARA FAZER...UM CERTO RAPAZ VAI GOSTAR MUITO DA TUA AJUDA.
- ENTÃO AMANHÃ EU VOU. CARMO...E CARMO...OBRIGADO.
- NÃO ME AGRADEÇAS...MERECES.

Carlos nem dormiu quando a Carmo lhe diz:

- AMANHÃ TEMOS UMA ENGENHEIRA PARA VIR CÁ TRABALHAR, UNS MESES.
- SIM MADRINHA...
- É MUITO BONITA...E TU AMAS ELA...
- ALICE?????
- LOL...EU NÃO DISSE QUEM ERA...MAS ASSIM JÁ SEI QUE A AMAS...
- SIM...AMO...NEM SABE AS SAUDADES QUE TENHO DE DISCUTIR COM ELA...DE TER ELA A PERGUNTAR SOBRE TUDO... MAS MADRINHA...COMO EU VOU-ME COMPORTAR...NÃO SEI SE SABEREI LIDAR COM MEUS SENTIMENTOS...EU QUERO BEIJAR ELA, ABRAÇA-LA...ESTAR JUNTO DELA...E ELA SOFREU TANTO NAS MÃOS DAQUELE CÃO...E SE ELA NÃO ME QUISER...E SE...
- CARLOS...TENS DE SER PACIENTE...OLHA EU SOU MULHER, E NÃO ESTIVE NUMA SITUAÇÃO COMO ELA ESTEVE...NEM IMAGINO QUE SERÁ SER VIOLADA, VEZES SEM CONTA, ESTAR PRESA, COM MDO SEMPRE EM TODOS OS MINUTOS QUE LÁ ESTEVE...O TRAUMA QUE ISSO FAZ A UMA MULHER...SÓ IMAGINO, CARLOS... ELA PRECISA DE NÓS, ELA PEDIU PARA VIR E EU PENSO QUE SEI PORQUÊ...AQUI ELA FOI FELIZ, AQUI ELA TE CONHECEU...FICOU TUA AMIGA...FOSTE UM SUPORTE PARA ELA, E TERÁS DE CONTINUAR A SER.
- VAI SER DIFICIL VER ELA E NÃO A COBRIR COM BEIJOS...
- EU SEI...MAS ...RESPEITA O ESPAÇO DELA...O TEMPO...A ALICE QUE VIRÁ NÃO É A MESMA QUE CONHECEMOS...É IMPOSSÍVEL...LEMBRA-TE DISSO...RESPEITA O ESPAÇO E O TEMPO DELA...SE A AMAS...
- SIM...AMO...VO SEGUIR SEU CONCELHO, MADRINHA...E SÓ MAIS UMA COISA.
- DIZ?
- DESCULPA...
- O QUÊ???
- A MADRINHA SABE...FUI BRUTO, UM ANIMAL...NA CAMA CONSIGO...
- SIM FOSTE...MAS EU SEI PORQUE FOSTE...
- MESMO ASSIM NÃO DEVERIA TER AGIDO COMO AGI...FOI UM INSENSÍVEL...ENVERGONHO-ME DE MIM MESMO.

Carmo segura as mãos de Carlos...e diz:

- JÁ PASSOU, FILHO...

A meio da manhã seguinte Alice chega á herdade de Carmo, é recebida por ela com um longo e apertado abraço, as duas emocionam-se um pouco.

- E O CARLOS??? pergunta Alice.
- DEVE ESTAR NO MILHEIRAL...HOJE CORTAM O MILHO...
- EU VOU LÁ TER...VOU SÓ APARELHAR O GINGÃO...
- VAI... MAS ESPERO-VOS PARA O ALMOÇO...
- SIM, CARMO.

Alice aparelha o gingão, o cavalo nota-se que está feliz e descontraído...Alice faz ele galopar pela Lezíria, o vento faz os cabelos dela esvoaçar, as suas mamas balançam consoante o galope do cavalo...ela vê o Carlos a conduzir a ceifeira debulhadora...ele vê ela ao longe e para a máquina, sai da cabine...salta para o chão, ele nem sabe se ri se chora...
Alice só para o galope de Gingão a poucos metros de Carlos...e depois salta da sela para o chão...está emocionada por ver Carlos...e diz:

- ESTÁS A FAZER UM BOM TRABALHO...MAS SE CONDUZIRES UM POUCO MAIS DEPRESSA, É MELHOR...
- TODA A MINHA VIDA FIZ ASSIM... MAS PODEMOS EXPRIMENTAR COMO A SENHORA ENGENHEIRA ALICE QUISER...
- OS MEUS AMIGOS TRATAM-ME POR ALICE...BASTA...

Ela não aguenta mais...ela própria tem receio de qual será a sua reação, mas dá uma pequena corrida e aterra nos braços fortes de Carlos que a segura e a abraça bem forte...aquele cheiro dela...é tudo que ele quer na vida, estar perto dela...ela diz:

- QUE BOM VER-TE, CARLOS...
- BOM É ESTARA SSIM ABARÇADO A TI, ALICE...QUE SAUDADES...QUE MEDO TIVE DE NÃO TE VER MAIS...
- ESTOU AQUI...VOLTEI...E TAMBÉM TIVE MEDO DE NÃO TE VER MAIS...

Ele coloca ela no chão...e diz:

- QUERES CONDUZIR A CEIFEIRA DEBULHADORA???
- CLARO...

Subiram para a cabine e ele ensina-a a conduzir e passado um tempinho ela já conduz bem a máquina.

- FAZEMOS UMA BELA EQUIPA, diz ele.
- ÉS UM BOM PROFESSOR E EU APRENDO RÁPIDO...

Regressaram para o almoço, mas antes foram ver o José, o Luís e o Damásio, que a receberam com um longo abraço...
Depois viram mais pessoas que trabalhavam na herdade, todas saudaram a Alice com um abraço, ela era muito querida por eles, pois trabalhava ao lado deles, sempre bem disposta, sorrindo, feliz por por as mãos na massa, sem ter medo de ter calos nas palmas das mãos, por isso era respeitada e querida...Alice estar entre aquelas pessoas foi melhor que 100 sessões de terapia...
Durante o almoço, Alice agradece de novo a Carmo, ter voltado a trabalhar, e a Carmo ausenta-se uns instantes da mesa e volta com uns documentos e diz:

- PREPAREI ESTE CONTRATO ANTES DE...BEM ANTES DE TER ACONTECIDO TUDO...LÊ E SE ASSINARES, PASSARÁS A TRABALHAR AQUI, O TEMPO QUE QUISERES...EU GOSTAVA QUE FOSSE PARA SEMPRE, MAS ISSO NÃO ESTÁ NAS MINHAS MÃOS...
- CARMO...EU...
- LOGO LÊS...E AMANHÃ DÁS-ME A RESPOSTA...O CARLOS DISSE-ME NA ALTURA QUE TU MERECIAS ESTE CONTRATO, ELE DISSE QUE ÉS TRABALHADORA, RESPEITADORA, APRENDES DEPRESSA E OS TEUS CONCELHOS SÃO SEMPRE BONS...ELE DISSE QUE SE FICARES SERIA MUITO BOM PARA A HERDADE, E PARA MIM...E PARA ELE.
- MADRINHA...

Alice olha para Carlos e vê ele a ficar com a cara corada...e diz:

- ACHAS MESMO QUE DEVO ASSINAR, CARLOS??'
- SIM...EU ACHO...NÃO, CHEGA DE ACHOS...EU QUERO QUE ASSINES, FAZES-ME FALTA...EU PENSAVA QUE SABIA GERIR ISTO BEM SOZINHO, ENGANEI-ME, PRECISO DA TUA AJUDA...ÉS UMA ÓTIMA PROFISSIONAL, E TENS O MEU RESPEITO E AMO...

Carlos cala-se...ia falar demasiado...

- AMIZADE... emenda ele.
- CARMO...TEM AI UMA CANETA???
- ALICE...TENHO MAS LEIA...E...
- POR FAVOR, CARMO...

Carmo dá uma caneta a Alice e ela assina o contrato e diz:

- SOU FELIZ AQUI...TRABALHAVA AQUI ATÉ DE GRAÇA...
- SE TIVESSES DITO ISSO MAIS CEDO...diz a Carmo sorrindo.

Todos sorriram, mas Alice depois ficou calada...Carmo reparou na súbita mudança na cara de Alice, e rapidamente se levantou da cadeira, correu para a Alice que continuava sentada, e ela abraçou-se á volta da cintura de Carmo, que lhe segurava na cabeça e fazia festas nos longos cabelos louros de Alice.
Carlos estava surpreendido, não tinha reação, e a Alice não aguenta mais...ela tem um desiquilíbrio emocional e começa a dizer:

- EU PENSAVA QUE IA MORRER... EU QUERIA MORRER...O NOJO DAQUELE PORCO...ESTOU SUJA PARA SEMPRE...
- CALMA, ALICE...PRONTO...JÁ PASSOU, PEQUENA...
- ELE...ELE...ESTAVA LOUCOI...COMO EU NÃO VI ISSO ANTES???COMO FUI TÃO BURRA TÃO ESTÚPIDA...EU DEDIQUEI 4 ANOS DA MINHA VIDA A ELE...FUI CONTRA A MINHA FAMÍLIA...EU IA CASAR COM ELE...EU...
- PRONTO ALICE...QUERIDA...CALMA...

Carlos ouvia tudo em silêncio...as suas mãos com os punhos cerrados, os dedos já brancos da força que ele estava fazendo...o seu olhar perdido na toalha da mesa...seus braços tremiam...

- ELE...VIOLOU-ME TANTAS VEZES...CADA VEZ QUE ELE ME VIOLAVA...EU PENSAVA QUE IA APARECER ALGUÉM...ELE...FAZIA QUESTÃO DE LEVAR TUDO ATÉ AO FIM...EU CORRIA PARA A CASA DE BANHO LAVAVA-ME...MAS SEMPRE REZANDO PARA NÃO FICAR GRÁVIDA...SE ELE CONSEGUE ME ENGRAVIDAR...

Carmo agora calada ouvia a Alice...a Carmo chorava, e procurava consolar a Alice, dava-lhe carinho.

- QUANDO ELE...FAZIA AQUILO...EU TENTAVA DESLIGAR-ME DE MEU CORPO...TENTAVA NÃO O SENTIR DENTRO DE MIM...SABE CARMO...EU PENSAVA QUE ESTAVA SEI LÁ ONDE...SÓ NÃO ME MATEI PRQUE ELE AMEAÇAVA MATAR OS MENINOS...COITADINHOS...SABE QUE ELE ME VIOLOU VÁRIAS VEZES Á FRENTE DELES???? AI MEU DEUS...O MONSTRO...EU TINHA MEDO QUE ELE FOSSE FAZER A MESMA COISA AOS MENINOS...ELE DESTRUIU-ME...NUNCA MAIS...SEREI EU MESMA...ELE GANHOU...
- CALMA...QUEM DISSE QUE NUNCA MAIS SERÁS A ALICE QUE EU CONHECI???
- NÃO POSSO, CARMO...EU AGORA QUANDO VEJO UMA CARRINHA PENSO QUE É ELE...EU SEI QUE O VI MORTO...MAS MEU CÉREBRO...NA MINHA CABEÇA ELE...VIVE E VEM ME APANHAR... DEPOIS LEVA-ME...E VIOLA-ME , OUTRA E OUTRA VEZ...
- EU SEI, MINHA QUERIDA...MAS TENS QUE SER FORTE...SERES AJUDADA...TODOS TE AJUDAREMOS...
- DEIXE-ME FICAR AQUI, CARMO...AQUI EU SINTO-ME...PROTEGIDA...

Carlos levanta-se da mesa...em silêncio caminha de cabeça baixa até á cavalariça, sela o Jeco e parte a galope pela lezíria fora...só para bem longe...está no meio dos seus toiros bravos...desce do Jeco...ajoelha-se no prado verde que é a lezíria quase com a Primavera a chegar...e solta um grito de frustação que lhe vem da alma...um grito de um homem que ama uma mulher e não a conseguiu proteger...aquele grito fez a lezíria assustar-se...os toiros que pastavam calmamente levantaram as suas cabeças e olhavam para onde estava o Carlos, os pássaros alguns começaram a voar...o Jeco estava perto do seu dono, do seu amigo, relinchava...e Carlos dava socos no chão, naquele chão para ele sagrado da lezíria, as suas lágrimas escorriam pela face dele...a sua cara até assustaria o próprio demónio se ele a visse...e baixinho ele dizia:

- DESCULPA ALICE...PERDOA-ME...PERDOA-ME...

Na cada da herdade, Carmo estava com Alice...e ela perguntou:

- O CARLOS???
- ELE SAIU Á JÁ ALGUM TEMPO...
- ONDE ELE FOI???
- NÃO SEI ALICE, MAS SE CONHEÇO O MEU AMIGO, É MELHOR ELE ESTAR SOZINHO...ESTÁ A DEITAR A SUA RAIVA TODA PARA FORA...SÓ PODEMOS ESPERAR.
- ESPERO QUE ESTEJA BEM...
- ESTARÁ SIM ALICE, MAS AGORA PRECISA DE DESABAFAR...NÃO TE PREOCUPES COM ELE...ELE FICARÁ BEM.
- SIM MAS EU PREOCUPO-ME COM ELE...GOSTO DELE.
- E ELE DE TI...POR ISSO ELE FOI EMBORA...ESTÁ FRUSTADO.
- PORQUÊ???ELE NÃO TEVE NENHUMA CULPA...
- EU SEI QUE NÃO...MAS ELE SENTE-SE CULPADO, ALICE...PORQUE NÃO TE PROTEGEU.
- PORQUÊ???
- ELE QUE TE DIGA ALICE...EU NÃO ME VOU METER...SÓ TE DIGO QUE ELE ENQUANTO ESTIVESTE PRISIONEIRA, ELE MUDOU...NÃO ERA O CARLOS QUE CONHECEMOS E AMAMOS E RESPEITAMOS...ELE ERA OUTRO...DAVA MEDO O OLHAR DELE...SABES QUE EU E ELE ÁS VEZES...FAZEMOS SEXO.
- BEM...EU...
- ALICE...SOMOS MULHERES...SABES BEM QUE EU E ELE ÁS VEZES FAZEMOS SEXO...EU SEI QUE SABES, NÃO É VERDADE???
- SIM...EU...
- PROVAVELMENTE NÃO DEVES ENTENDER PORQUÊ...MAS EU DIGO.
- NÃO PRECISA DE ME CONTAR, CARMO...
- PRECISAS SIM DE SABER...A MINHA RELAÇÃO COM O CARLOS COMEÇOU QUANDO ELE VEIO PARA CÁ MORAR...O MEU MARIDO, VENANCIO E OS PAIS DELE MORRERAM NAS CHEIAS DO TEJO EM NOVEMBRO DE 1967...O CARLOS SOBREVIVEU PORQUE O PAI DELE MANDOU ELE SUBIR A UM ENORME SOBREIRO, AQUELE QUE ESTÁ PERTO DAS CASAS DOS TRABALHADORES...NA MANHÃ SEGUINTE ÁS CHEIAS, FORAM PRECISOS 3 HOMENS PARA O TIRAR DE LÁ...ELE TINHA 4 QUASE 5 ANOS.
EU E ELE, NÃO SEI SE UNIDOS PELO SOFRIMENTO, TORNÁMO-NOS INSEPARÁVEIS, ELE VEIO VIVER AQUI EM CASA, O MEU PAI E A MINHA MÃE ADOPTARAM ELE E EU TAMBÉM.
ELE FOI AQUI CRIADO, ESTA HERDADE ESTÁ NO SANGUE DELE...QUANDO ELE COMEÇOU A CRESCER TORNOU-SE NO BELO HOMEM QUE ELE É...E CADA VEZ ELE IA-SE PARECENDO MAIS COM O MEU VENANCIO...LEAL, TRABALHADOR, HONESTO...E EU FUI-ME SENTINDO ATRAÍDA POR ELE.
UM DIA, ESTÁVAMOS NO CAMPO, ELE TINHA 17 ANOS, FOI NUM DIA DE VERÃO, ELE ESTAVA A ARRANJAR UM CERCADO, E EU A AJUDAR ELE, JÁ OS MEUS PAIS TINHAM FALECIDO...E ACONTECEU, UM LONGO BEIJO NA BOCA...NÃO FOI PLANEADO, APENAS ACONTECEU...E DO BEIJO...ENROLAMONOS NO CAMPO ENTRE AS FLORES E A ERVA...NOS DESPIMOS E FIZEMOS SEXO... FOI TÃO SURPREENDENTE E AO MEMSMO TEMPO ALGO QUE ERA DESEJADO...EU ATÉ HOJE SÓ TIVE DOIS HOMENS NA MINHA VIDA O MEU MARIDO E O CARLOS.
GOSTAMOS DE FAZER SEXO UM COM O OUTRO SIM, É VERDADE, ELE É UM AMANTE QUE ME LEVA Á LOUCURA...MAS NÃO NOS AMAMOS COMO SE DEVE AMAR UM CASAL, NEM NUNCA VAI ACONTECER, APENAS NOS ENTENDEMOS E BEM NA CAMA...E SOMOS BONS AMIGOS. É ESSA A NOSSA RELAÇÃO.
- OBRIGADO POR ME CONTAR CARMO.
- E COMO ESTÁS TU, ALICE AGORA QUE DESABAFAS-TE...
- ALIVIADA...E COM MEDO...
- MEDO???
- SIM QUE ME JULGUEM...SABE CARMO, EU NÃO PRECISO QUE ME VENHAM FAZER FESTAS E ME ACHEM UMA COITADINHA, E ERA ISSO QUE ME FAZEM LÁ EM CASA...AS MINHAS AMIGAS, A MINHA FAMÍLIA, ESTAVA A FICAR SUFOCADA.
- ENTENDO...
- EU PRECISO É DE TRABALHAR...PENSAR NOUTRAS COISAS...VIVER...
- E...SE CONHECERES UMA PESSOA...QUE TE QUEIRA...
- NÃO SEI CARMO...NÃO SEI...PRECISO DE TEMPO...NÃO CONSIGO CONFIAR...E ISSO É O PIOR...
- O TEMPO TUDO CURA...VAIS VER QUE VAIS ENCONTRAR UMA PESSOA QUE TE VALORIZE, E TU VOLTES A CONFIAR...
- TENHO MEDO DE ENCONTRAR ALGUÉM ASSIM... E DEPOIS...SER TRAÍDA E USADA...
- EU SEI...MAS NÃO DESISTAS DE AMAR, ALICE...ATÉ PODE SER QUE CONHEÇAS ALGUÉM QUE NÃO ESTEJA ASSIM TÃO LONGE...
- QUEM???
- NÃO SEI...ACHO QUE NO FUNDO SABES DE QUEM FALO...MAS AINDA NÃO TE DESTE CONTA...

E Carmo deixa-a sozinha...
Nessa noite o Carlos não apareceu para o jantar, chegou já de madrugada...nas cavalariças a Carmo esperava-o.

- BOA NOITE...COMO ESTÁS???perguntou-lhe ela.
- ESTOU...BEM.
- ÉS MUITO MAU MENTIROSO...
- CARMO...EU ESTOU CANSADO...DESCULPA...
- CONHEÇO-TE...ESTÁS FRUSTADO...ZANGADO...

Carlos continua a tratar do Jeco, sem falar nada.

- A ALICE ESTÁ MAIS CALMA...ELA DESABAFOU.
- AINDA BEM...ELA PASSOU POR MUITO...
- EU CONTEI A ELA QUE EU E TU FAZEMOS SEXO.
- CONTOU????
- SIM... CONTEI, ELA DE RESTO JÁ SABIA...APENAS A ESCLARECI, MAIS NADA.
- E PORQUE FEZ ISSO, MADRINHA???
- PORQUE ELA PRECISAVA DE SABER... PARA ELA NÃO FICAR COM IDEIAS ERRADAS, SOBRE TI E SOBRE MIM. E SÓ MAIS UMA COISA...TEM PACIÊNCIA, A ALICE QUE TODOS CONHECEMOS ESTÁ BEM LÁ NO FUNDO DO CORAÇÃO DELA, E AOS POUCOS ELA VAI APARECENDO...TEM PACIÊNCIA, CARLOS E TUDO SE RESOLVERÁ.

Carmo regressou á sua casa e deitou-se na cama, nua, e adormeceu.
Bom o tempo foi passando, as horas deram lugar a dias...dias a semanas...semanas a meses...e a Alice estava cada vez mais a regressar a ser aquela jovem alegre, bonita, simpática, meiga, trabalhadora...a terapia e sobretudo a amizade dela com a Carmo ajudava-a muito...tinham longas conversas as duas.
E claro...Carlos...cada vez eles passavam mais tempo juntos, mesmo fora do trabalho...saiam por vezes para irem ás compras, ou irem a alguma exposição ou feira agrícola.
E chegou as festas do Colete encarnado, em Vila Franca de Xira, e os toiros que iam para as festas eram os da ganadaria da Carmo.
O Carlos ia mais alguns campinos fazer a espera de toiros.
Ele vestiu-se com o melhor fato andaluz que ele tinha, e a Alice também comprou um fato andaluz...as calças bem justas nas pernas esculturais dela, a buceta ali bem vincada nas calças, as nádegas ali bem realçadas, a camisa branca apertando as suas enormes mamas, que ele usava sem soutien por baixo, a jaqueta mal conseguia tapar as suas mamas, e aquele chapéu andaluz colocado na sua cabeça, onde tapava ligeiramente o seu olhar, tornando-a misteriosa.
Quando ela sai do quarto e chega á sala, onde a Carmo a esperava, também ela impecavelmente vestida de andaluza, ela diz:

- CARMO...ESTOU BEM???
- ALICE...ESTÁS UMA GATA...HOJE VAIS DEIXAR OS HOMENS TODOS COM UM TORCICOLO DE OLHAREM PARA TI, LOL...
- ORA CARMO...EU...BEM VOU MUDAR D EROUPA, EU...
- DEIXA DE SER PARVA, MULHER...VÁ VAMOS, OS TOIROS SAEM DAQUI A MOMENTOS.

Foram para a casa que Carmo herdou da sua tia e madrinha e colocaram-se á janela, para verem os toiros passarem.
Soltam o foguete as ruas estão apinhadas de jovens que querem correr á frente dos cornos afiados dos toiros...de repente na curva aparece o Carlos montado no Jeco, que vem a todo o galope...os toiros e cabrestos vêm quase colados na garupa do cavalo...Carlos olha para a varanda onde ele sabe que está a Carmo e a Alice...e quando vê a Alice só por brevíssimos instantes, ele fica surpreendido...não pode parar o galope pois senão os toiros apanhavam o Jeco...mas quando os toiros estavam já nos curros, e ele estava em pé a acariciar o Jeco no pescoço, aparecem a Alice e a Carmo...e Carlos olha para Alice tão sedutora, sexy...e seu enorme pau cresce dentro das suas calças...apesar de apertadas o volume ia aumentando.

- CARLOS...OS TOIROS... pergunta Carmo preocupada.
- ESTÃO BEM...NÃO SE PREOCUPE...SÓ UM TRESMALHOU E APANHOU UM HOMEM, DEU-LHE UMA CORNADA MAS PENSO QUE NADA DE MUITO GRAVE.
- OK...E TU COMO ESTÁS???
- EU...ele olhava nos olhos de Alice...e ela nos dele...ESTOU BEM...SÓ TENHO DE FICAR AQUI PARA O SORTEIO DA CORRIDA E DEPOIS VAMOS ALMOÇAR.
- OK...ATÉ JÁ...EU E A ALICE VAMOS PASSEAR...A ALICE ESTÁ LINDA, NÃO ESTÁ?
- MARAVILHOSA... diz Carlos olhando a Alice de alto a baixo.

As duas mulçheres vão passear...e a Carmo diz:

- O CARLOS ESTAVA...ANIMADINHO...
- COMO??ANIMADINHO???
- ORA ALICE NÃO NOTASTE...ESTAVA...ALEGRE...
- NÃO ENTENDO...
- ALICE ESTAVA DE PAU TESO, CARAMBA...E TU REPARASTE QUE EU VI.
- BEM EU...VI.
- ELE MAL TE VIU FICOU ASSIM...
- MAL ME VIU???
- SIM MULHER...MAL TE VIU...

Alice não disse mais nada...mas sorriu discretamente.
Quando estavam a almoçar, numa coletividade cheia de pessoas amigas, Alice espalhava simpatia e bom humor...muitos jovens rapazes conversavam com ela, e Carlos cheio de ciúmes...e ela simpática ria com as piadas deles, e de vez em quando os olhares dela e de Carlos se cruzavam...
Nessa noite, a noite da sardinha assada, Carmo, como era tradição visitava as várias festas nas coletividades, até que chegaram a aquela coletividade onde ela costumava cantar quando era jovem, e já havia quase 20 anos que não cantava.
O velho presidente da coletividade, que era quem tocava a viola quando ela cantava, veio receber eles, sempre com um demorado abraço a Carmo, e esta diz a ela:

- TI JAQUIM...AINDA SABE TOCAR VIOLA???
- SIM, CARMO...
- E ARRANJA QUEM SAIBA TOCAR GUITARRA PORTUGUESA?
- O MEU NETO...SABE.
- TI JAQUIM...APETECE-ME CANTAR...PODE SER.

O velhote emociona-se, e diz:

- É UMA HONRA, QUERIDA, TOCAR PARA TI...EU VOU ANUNCIAR.

Ele dirige-se ao pequeno palco, e pede silêncio ao microfone:

- SENHORAS E SENHORES...É COM UMA TAMANHA ALEGRIA NA ALMA, QUE EU VENHO ANUNCIAR QUE UMA QUERIDA AMIGA, AO FIM DE 20 ANOS RESOLVEU CANTAR PARA NÓS...DESDE 1967 QUE ELA NÃO O FAZ, O DESGOSTO DE UM AMOR PERDIDO, TIROU-LHE A ALEGRIA DE CANTAR...MAS ELA REGRESSA HOJE...SENHORA CARMO, VAI CANTAR UM FADO PARA NÓS.

Carmo sobe ao palco, e agradece ao Ti Jaquim, e diz:

- ESTE FADO É DEDICADO AO CARLOS E Á ALICE...

Ela segreda ao ouvido do Ti Jaquim e do neto dele qual era o fado, e depois estava um silêncio brutal na coletividade. Começam os acordes, e depois a bela voz doce e poderosa de Carmo começa a ouvir-se...é um fado sobre o amor de um campino e de de uma mulher...
Ti Jaquim toca a viola chorando, a ouvir a Carmo...na coletividade o silêncio.... os olhos fechados das pessoas sentindo a voz da Carmo que lhes enche a alma, e quando o fado acaba, irrompe uma ovação enorme, as pessoas colocam-se de pé...Carmo agradece emocionada, o Ti Jaquim abraça-a e agradece-lhe:

- JÁ POSSO MORRER DESCANSADO...O MEU ROUXINOL VOLTOU A CANTAR...
- OH TI JAQUIM...NÃO PODE MORRER...E QUEM ME ACOMPANHA Á VIOLA???

Carlos e a Alice olhavam-se...ela baixa a cabeça, ele também...eles sabem porque a Carmo lhes dedicou aquele fado...começa a música a tocar outra vez, e Carlos diz a Alice:

- BELA ANDALUZA...QUERES DANÇAR COMIGO?
- SIM QUERO...

E começaram a dançar, no meio dos outros pares...mas eles sentiam-se sozinhos, ele segurando a cintura dela, ela o ombro dele e olhavam-se nos olhos, e ele diz:

- EU AMO-TE...NÃO CONSIGO MAIS ESCONDER...NÃO CONSIGO, ALICE, EU AMO-TE...
- EU AMO-TE, CARLOS...

E pela primeira vez as suas caras foram-se aproximando...os seus lábios se procurando, até se encontrarem e tocarem-se...

CONTINUA