#Outros

Primeira vez: Fugitivo!!

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**Capítulo Dez**

Eu tava devorando um prato de acarajé, o molho picante explodindo na boca, quando Rafael, meu irmão mais velho, lançou a pergunta:
“Então, Diego, de onde tu é, cara?”

Levantei os olhos do prato, sentindo o cheiro quente do dendê, e fitei Diego. Ele engoliu o pedaço de vatapá que mastigava, limpando a boca com o guardanapo.

“Eu cresci em Paraty, litoral do Rio. Passei a maior parte da vida lá, na vibe da praia.”

“E agora, tá onde?”

Tentei não grudar os olhos em Rafael, fingindo prestar atenção no acarajé.

“Por aí, sabe? Tô pensando em voltar pra Recife em breve, pegar um trampo.”

“Que tipo de trampo?”

“Sou marceneiro de formação. Devo pegar uma obra no centro de Recife, algo assim.”

Fiquei impressionada com a habilidade de Diego pra desviar das perguntas sem mentir descaradamente. Ele nunca gostava de falar do passado, então respondia com aquele jeitão que dava um ar de mistério, mas ainda saciava a curiosidade de Rafael. Minha mãe, Beatriz, porém, não era de se contentar com meias-respostas.

“Tu ainda tem família em Paraty?” ela perguntou, com aquele olhar de quem tá farejando algo.

“Uns tios, primos, essas coisas.”

“E teus pais?”

“Meu pai faleceu quando eu era moleque. Minha mãe… a gente não se dá muito bem.”

Beatriz teve a decência de fazer cara de constrangida. “Desculpa, meu filho.”

“Tranquilo, dona Beatriz.”

Pensei que a conversa ia morrer ali e voltei pro meu acarajé, o sabor picante ardendo na língua. Como sempre, me enganei.

“E o que tu tava fazendo no trem quando conheceu minha filha?”

“Indo pro norte. Pensei em arrumar um trabalho nas fazendas de Canaã dos Carajás, talvez uns meses.”

“Tu troca de trampo com frequência, é?”

Diego deu um sorriso educado, mas dava pra ver a tensão nos olhos. “Tô experimentando coisas novas, sabe?”

“Tu deve tá se virando bem pra largar tudo e ajudar a Clara. O que tu fazia antes?”

Engoli um pedaço de acarajé meio mastigado, quase engasgando, sentindo o molho picante subir pelo nariz. “Mãe, para com isso.”

“Tô só querendo conhecer o Diego, filha,” ela disse, com aquele tom meloso que não enganava ninguém.

“Eu tava no Maranhão, trabalhando num barco. Quis tentar a pesca, mas não rolou.” Diego forçou um sorriso, o cheiro do vatapá misturado com o suor leve dele me envolvendo.

“Então tu simplesmente largou tudo? Sem nada combinado?”

“Mãe!”

“Qual é, Clara? É uma pergunta justa!”

“Tu tá interrogando ele!”

“Diego não se importa, né?” Beatriz ergueu as sobrancelhas, com um sorriso que parecia uma armadilha.

“Não, dona.” O sorriso dele ficou mais tenso, o maxilar travado como se tivesse mordido um limão.

“Aí, eu, particularmente, ia odiar trabalhar num barco de pesca,” cortou Pedro, o namorado de Rafael, com um tom leve. “Quer dizer, imagina, cercado de pescadores gatos o dia todo, até que ia ser maneiro, mas o cheiro? Meu Deus, aquele fedor de peixe podre!”

“É pra lá que tua mente vai?” Rafael caiu na gargalhada, o som ecoando na sala. “Um monte de marmanjo suado?”

Quase engasguei com o suco de caju, enquanto todos riam, o clima aliviando um pouco.

“Como vocês se conheceram?” perguntei a Rafael, tentando mudar o foco, ainda tossindo do suco.

“Meu chefe tava projetando uma casa com a empresa do Rafael,” disse Pedro. “O cara é podre de rico, mas não liga pra nada. Tipo: ‘Faz o que quiser, Pedro, pergunta pra Mariana o que ela quer.’ E ela: ‘Não ligo, Pedro, mal fico em casa. Só põe uma cama no quarto.’ Aí, claro, eu tive que meter a mão e decidir como gastar a grana deles.”

“Foi um inferno trabalhar com ele,” Rafael completou, rindo. “O cara não entende nada de arquitetura, mas queria tudo perfeito. Acho que ele usava isso como desculpa pra ficar mais tempo comigo.”

“Não era segredo, todo mundo sabia, menos tu,” Pedro provocou, arrancando mais risadas. “O João ficou puto quando descobriu que eu botei uma sauna e um home theater só pra ter motivo pra te ligar.”

“Terminamos o projeto e o Pedro disse: ‘Beleza, agora tu pode projetar uma casa pra mim,’” Rafael revirou os olhos. “Um ano depois, a gente tava morando junto.”

Eu tava louca pra perguntar como Rafael conseguiu se formar em arquitetura e pagar por isso depois de ser expulso de casa aos 18, mas não quis quebrar o clima leve que Pedro trouxe. Em vez disso, sorri pra ele.

“Vocês são incríveis juntos. Tô tão feliz por vocês.”

Rafael corou, dando um tapinha na mão de Pedro, que sorriu orgulhoso. “Valeu, mana.”

“Então, Pedro, tu mencionou algo sobre ser um ‘escravo chique’. O que tu faz?” perguntei.

“O melhor amigo dele é famoso, e o Pedro é o assistente,” Rafael respondeu por ele. “É tipo um melhor amigo profissional.”

Pedro revirou os olhos, mas levou na boa. “Ele não me contratou pra ser amigo, tá? Só tá me pagando pelos anos que fui amigo de graça.”

“Vou te dar cartões com ‘Melhor Amigo Profissional’ escrito,” Rafael brincou.

“Tu não reclama quando isso te faz comer acarajé e tomar suco caro.”

“Tu disse que era presente!”

Eu não parava de rir enquanto eles se zoavam, dando um selinho rápido antes de voltar pros pratos. Diego ouvia quieto, e percebi que tava desconfortável. Não parecia ter assunto que agradasse todo mundo.

Depois do jantar, pedi desculpas a ele, subindo pro quarto com a desculpa de checar umas caixas.

“Tá de boa,” ele disse, mexendo na mochila, o cheiro de sabonete de ervas dele enchendo o ar.

“Tu tava incomodado.”

“Clara.” Ele parou e me encarou, os olhos castanhos brilhando sob a luz fraca. “Não vou fingir que tô acostumado com isso, mas tá de boa. Só não sei o que falar pra não te meter em confusão.”

“Não quero que tu sinta que precisa esconder quem é.”

“A gente vem de mundos diferentes.” Ele voltou pra mochila, pegando uma escova de dentes. “Nunca estive numa casa assim, com cheiro de lavanda e móveis chiques. Não sei o que dizer ou fazer. Tua família quer me julgar pelo que já fui? Não ligo. Tô acostumado.” Ele me olhou de novo. “Mas tu não tá. Tu já passou por muita coisa essa semana, não precisa de mais drama por minha causa.”

“Não vai embora.”

“Prometi que não ia.”

Mordi o lábio, sentindo o gosto residual do molho picante. “Eles só… a gente precisa de tempo, acho.”

“Tu não confia em mim? Prometi que não ia, e não vou.”

“Não foi isso que quis dizer.” Olhei pra ele, meio brava. “Tu sabe que confio em ti.”

Ele riu, balançando a cabeça. “Cuidado, Clara. Tá xingando demais hoje. Logo vai tá falando que nem estivador.” Ele cruzou o quarto, o chão de madeira rangendo, e me beijou, o hálito com um toque de vatapá. “Vou tomar banho, me ajeitar. O Pedro disse que posso usar a máquina de lavar, então vou aproveitar. Não dá pra sair sem roupa limpa, né?”

---

Todo mundo capotou cedo naquela noite.

Entre as viagens, os surtos emocionais e as revelações bombásticas, tava todo mundo exausto. Vesti um pijama limpo depois do banho, o tecido macio cheirando a amaciante de coco, e agradeci pela sensação de pele fresca. Quando terminei, a casa tava silenciosa, as luzes apagadas, então fui pro escritório de Rafael, fiz minhas orações noturnas e me joguei no futon. Era um horror, com barras de metal furando o colchão fino, e anotei mentalmente pra falar pro Rafael que aquele treco era uma tortura.

Tentei me ajeitar por um tempão. Meu corpo tava moído, minha cabeça, um nó de cansaço e confusão. Se não fosse pelo futon infernal, eu talvez tivesse apagado antes que os pensamentos de preocupação me engolissem, mas não rolou. Logo, além da barra de metal cravada nas minhas costas, eu tava encarando o teto escuro, com raiva, enquanto o dia repetia na minha cabeça como um filme ruim.

Quando cansei, decidi tentar o sofá. Juro que tentei. Rolei do futon, o corpo doendo como se eu fosse a princesa da ervilha, e fui até a porta. Abri devagar, chequei o corredor. Sem luzes, sem vivalma. Saí do escritório e desci as escadas, a madeira nova sem ranger, o que era um alívio.

Passei pelo sofá e desci pro porão.

Uma luz dourada escapava por baixo da porta do quarto de Diego. Bati de leve, girei a maçaneta e entrei, o coração batendo forte.

“Sabia que tu vinha,” Diego disse, a voz baixa, com um sorriso malandro.

“Não conseguia dormir. Esse futon é um lixo.”

Ele tava deitado, sem camisa, o peito tatuado brilhando sob a luz do abajur, quase terminando um livro velho. Deixou o livro na mesinha e estendeu a mão pra mim, enquanto eu corria pro quarto, o chão frio sob meus pés descalços.

“Tô feliz que tu tá acordado.”

“Não conseguia dormir. Tô acostumado com tua presença, sabe? Tava estranho sem ti.”

Pulei na cama, deitando ao lado dele, enquanto ele apagava a luz. Segundos depois, ele me abraçou forte, os braços musculosos me fazendo sentir pequena, infinita e segura, tudo ao mesmo tempo. O cheiro de sabonete misturado com o calor da pele dele era viciante.

“A gente devia conversar sobre isso agora?” ele perguntou, a voz suave como um sussurro na praia.

“Provavelmente.”

Silêncio. Nenhum de nós queria tocar no assunto.

“Não quero te perder,” murmurei, o coração apertado.

Os lábios dele encontraram minha testa, quentes e gentis. “Nem eu.”

Ficamos quietos por um tempo, até que, sem querer, caímos no sono, o calor dos nossos corpos misturado com o cheiro de lençóis limpos.

---

“Sabia que tu ia odiar aquele futon.”

Fiquei paralisada na porta da cozinha. Rafael tava sentado, com uma caneca de café fumegante, sorrindo pra mim.

“Er… não conta pra mamãe?”

Ele riu baixo. “Tô de boa.”

“Não achei que alguém tava acordado.”

“Pedro dorme até tarde. É coisa de trabalhar com artista. Mamãe deve ter ficado acordada chorando de novo. E o Diego…”

“A gente não fez nada,” cortei, entrando na cozinha e me jogando na cadeira na frente dele, pegando a prensa francesa. “Aquele futon é um pesadelo.”

“Eu sei. Pedro também detesta.”

Botei tanto açúcar no café que Rafael fez careta. “Por que tu não joga isso fora?”

“Cara, ainda tem gosto de café depois que tu termina?” ele perguntou, vendo eu despejar um monte de creme.

“Não sei. Não tomo café puro.”

Ele revirou os olhos. “Pedro quer jogar fora, eu trago de volta. Foi o primeiro móvel que comprei. Tem um apego, sabe?”

“Entendi.”

Rafael sorriu. “É estranho, eu sei. Mas me lembra o quanto eu conquistei.”

“Tu se saiu foda, mano. Tô orgulhosa de ti.”

“Tô orgulhoso de ti também. Tu cresceu pra caramba desde que eu saí de casa. Senti tua falta.”

“Se te consola, a maior parte disso foi na última semana.”

Ficamos em silêncio, tomando café, o aroma forte enchendo a cozinha.

“Por que tu não gosta do Diego?” perguntei, do nada.

Rafael suspirou. “Eu gosto dele. É só o modo irmãozão protetor, sabe?”

“Por quê?”

“Ele parece… meio bruto, entende?” Rafael olhou pras mãos. “Não devia julgar, ainda mais só pela aparência. Falei com Pedro ontem, depois que fomos dormir. Ele disse que o Diego é um cara esperto, pé no chão. E ele claramente se importa contigo. Como isso acontece em uma semana? Sei lá, coisas mais loucas já rolaram. Rezei sobre isso ontem.”

“Tu ainda reza?”

“É. E voltei a ir na igreja. Pedro até vem comigo agora.”

“Mesmo depois…”

“É, mesmo depois do papai.” Rafael tomou um gole de café. “Ele pegou algo bonito e transformou em algo feio. O que ele faz não é fé. É controle pelo medo.” Ele me olhou firme. “Se tu tá meio perdida, eu entendo. Já passei por isso.”

“Tá tudo confuso,” sussurrei. “Não sei mais como… seguir as regras.”

“Tu sabe as regras que importam. O resto é só gente achando que entende o plano maior.” Rafael sorriu, encorajador. “Vem na igreja com a gente domingo. O Diego também, se quiser.”

“Não sei se Diego topa.”

“Tá de boa. Com ou sem igreja, ele é um cara legal.”

Mordi o lábio. As palavras de Rafael deviam me confortar, mas ele não sabia do passado de Diego.

“Posso te contar como a gente se conheceu de verdade?” perguntei, baixinho.

“Por favor.”

“E tu não vai julgar?”

“Claro que não.”

Respirei fundo, juntando coragem, e contei sobre a bebida batizada no trem, como Diego me salvou. Falei que ele não me deixou sozinha, com medo que eu acabasse em apuros, que tava lá quando meu pai me renegou por telefone, e como me ajudou num ataque de pânico em Porto Seguro, quando percebemos que pegamos o trem errado.

“Tem mais, mas…” Parei, encarando a xícara.

“Mas tu tá prestes a me dizer que ele é um ex-presidiário.”

Meus olhos arregalaram. “Como tu sabia?”

O rosto de Rafael desmoronou. “Puta merda, Clara, era brincadeira! Tu tá falando sério?”

Senti meu rosto queimar. “Tu não tá brincando. Que porra… me diz que ele não é assassino.”

“Ele não é mais!” sibilei. “Ele… ele usava drogas.”

“Assalto? Estupro? Se ele te machucar, eu mato ele.”

“Rafael! Acabei de te contar tudo que ele fez por mim, e é nisso que tu pensa?”

Ele parou, rosto vermelho, respiração pesada. “Tu tem razão. Desculpa, Clara. Sério.”

“Ele usava drogas há muito tempo. Uns sete anos, acho. Se envolveu com a galera errada, foi pego roubando uma moto e tá pagando por isso até hoje.”

“E aí ele roubou um carro semana passada.”

“Rafael—”

“Eu sei, porra.” Ele balançou a cabeça.

“Ele conhecia o dono do carro. Pediu emprestado, mas não disse por quanto tempo.”

“E tu ficou de boa com isso?”

“Não. Depois que nos confrontaram, dei meu cordão pra eles irem embora. A mina só queria ferrar o Diego. Foi o bastante.”

“Tô te ouvindo.”

“Deixei ele em Ilhéus. Peguei um ônibus pra Salvador sozinha. E sabe o que rolou?”

“O quê?”

“Minha mochila foi roubada.”

“Sério?!”

“Entre o ônibus e a estação de trem. Deixei com o motorista, e alguém pegou. Só percebi na estação.”

“E o que tu fez?”

“Sentei num banco e chorei.”

“Sério?”

“É. Meu celular, carteira, tudo tava lá. Não tinha como te ligar. Ia ter que pedir ajuda pro papai.”

“E aí?”

“Diego achou.”

“Mas tu não deixou ele em Ilhéus?”

“Ele tava no ônibus. Me viu, mas eu não vi ele. Ia me deixar em paz, respeitando minha vontade, mas viu os moleques que roubaram minha mochila, pegou de volta e me entregou na estação. Depois foi embora.”

O rosto de Rafael tava sério, me encarando.

“Pedi pra ele ficar. Pedi que prometesse não esconder mais nada. Ele prometeu.”

“E tu confia nisso?”

“Totalmente.”

Ele me olhou por um tempo.

“Tá bom. Se tu confia, eu confio.”

“Valeu—”

“Só uma coisa.”

Parei, nervosa. Ele se inclinou, falando baixo.

“Vocês tão transando?”

“Rafael!”

Ele riu. “Tão?”

Meu rosto pegava fogo enquanto eu tomava um gole de café. Ele esperava, insistente.

“Sim,” murmurei, envergonhada. “Mas foi minha escolha.”

“Ele foi… teu primeiro?”

“Não acredito que tu tá me perguntando isso.”

“Sei que tu não fala de sexo com a mamãe e o papai. Então, tô perguntando.”

Olhei pra parede, desejando sumir.

“Sim.”

“Foi seguro?”

“Sim.”

“Ele foi bom?”

“Rafael!”

Ele quase caiu da cadeira de tanto rir. “Qual é? Não é minha culpa que teu boy é gato. Todo tatuado, misterioso, com essa jaqueta maneirona.”

“Ele não é… não sei se é meu namorado.”

Rafael ergueu a sobrancelha.

“Não sei,” repeti. “Não queria falar disso.”

“Entendi.”

“Ele foi gentil, Rafael.” Não conseguia olhar pra ele. “As coisas meio que rolaram no trem, mas não de verdade. Em Salvador, quando liguei pro papai, eu… me envergonhei. Saí de manhã sem falar nada. Ele voltou pra Recife, mesmo odiando lá, e me procurou. Me levou pra jantar, num hotel, e… me deu um cordão novo porque dei o meu em Ilhéus.”

Olhei pra Rafael. “O passado dele não importa. Ele não é assim.”

Ele tava preocupado, mas tinha algo mais quente no olhar.

“Tu gosta mesmo dele, né?”

Assenti.

“Tu é especial, Clara.” Ele se levantou pra fazer mais café. “O Diego tem sorte de te ter. E tu tem sorte de ter ele.”

“Então tu aprova?”

“Posso pensar em mil motivos pra não aprovar.” Ele colocou a prensa na mesa. “A maioria é porque tu é minha irmãzinha e não quero aceitar que tu cresceu. Alguns são porque tu o conhece há uma semana e ele é teu primeiro… sei lá como tu chama. Mas isso me faria um hipócrita. Pedro foi meu primeiro namorado.”

“Sério?”

“É. Depois que saí de casa, só foquei em estudar e trabalhar. Não tinha tempo pra homem. Aí, um dia, Pedro apareceu na firma. Soube que era ele na hora, mas não saquei os sinais que ele dava.”

“Ele realmente botou uma sauna só pra falar contigo?”

“Não. Foram dois quartos, uma piscina e um redesenho do andar inteiro.”

Rimos baixo.

“Como tu pagou a faculdade sozinho?”

“A mamãe ajudou,” ele admitiu. “Mandava dinheiro. O resto foi empréstimo.”

Senti uma pontada de raiva, lembrando quando Beatriz falou de ver os filhos rejeitados. Era injusto que ela só agiu quando eu fui renegada. Expulsar Rafael devia ter bastado.

Não disse nada, só assenti.

“E agora, o que tu vai fazer?” Rafael perguntou.

“Ainda não sei.”

“Tu pode ficar o tempo que quiser.”

“Acho que a mamãe vai dar trabalho.”

Rafael bufou. “É, não sei qual é o plano dela. Talvez vocês se acertem por aqui. Ela disse que tu quer ser professora. Tem vaga de sobra aqui.”

“Talvez.”

“Se dá uns dias pra respirar. O próximo passo vem.”

Assenti. Ouvimos passos no andar de cima.

“Visita chegando,” Rafael disse.

“Rafael?”

“Fala.”

“Valeu.”

Levantei e o abracei forte. Ele retribuiu, me apertando.

“Sempre que precisar, mana.”

---

O dia tava fluindo de boa.

Depois do café com Rafael, subi, me troquei e desci. Pedro tava na cozinha fazendo um café da manhã com pão de queijo, o cheiro dourado enchendo o ar. Beatriz tava na mesa, tomando café, e Diego subia do porão.

“Bom dia, galera,” falei.

“Bom dia,” Pedro respondeu. “E aí, Clara, o futon? Confortável, né?”

“Perfeito,” ironizei. “Quem não curte uma barra de metal cravada nas costas?”

“Viu, Rafael? É horrível. Precisamos de um novo.”

“Veremos,” Rafael disse, trocando um olhar comigo.

“Bom dia, Diego!” Pedro disse, animado. “Dormiu bem?”

“Beleza, valeu.” Diego olhou com desejo pro café. “Posso pegar uma xícara?”

“Só se não exagerar que nem a Clara,” Rafael brincou, passando uma caneca. “Devia ter esquentado creme com açúcar e esquecido o café.”

Mostrei a língua pra ele.

“Diego, aqui em casa não usamos jaqueta dentro de casa,” Beatriz disse, com um olhar gélido.

Diego forçou um sorriso. “Hábito, dona.”

“Aqui não tem essa regra,” Rafael cortou. “Tá de boa, Diego.”

Tirando o comentário de Beatriz, a manhã foi tranquila. Rafael tirou a semana de folga, Pedro tava de boa porque o chefe dele tava visitando a família, e passamos o dia relaxando, botando o papo em dia. Pedro insistiu em nos levar pra almoçar num restaurante baiano massa, com uma moqueca de camarão que derretia na boca, e depois deu um rolé pelo Pelourinho, mostrando a casa que Rafael projetou.

Rafael e Diego tavam se dando super bem, rindo de histórias do interior. Até Beatriz parecia mais leve no fim da tarde, quando Diego contou sobre um encontro com um tamanduá em Paraty.

Não tomamos decisões. Eu não sabia o que vinha depois ou como Diego se encaixava. Mas um dia de normalidade parecia certo, como um respiro num mar de caos.

Tudo tava perfeito, até eu meter os pés pelas mãos.

Depois do jantar, levantei pra lavar a louça, o cheiro de moqueca ainda no ar.

“Clara, me passa mais vinho?” Beatriz pediu.

“Claro. Tinto ou branco?”

“Tinto, querida. Valeu.”

Levei o copo dela pro balcão, enchi e, na volta, tropecei na perna da cadeira de Diego. O vinho voou, molhando a manga da jaqueta dele.

“Caralho!” gritei, o líquido vermelho escorrendo.

“Clara!” Beatriz exclamou, chocada com meu palavrão.

“Ai, tua jaqueta,” gemi, ignorando ela. “Diego, desculpa.”

“Não é a primeira vez que derramam bebida em mim,” ele disse, pegando um guardanapo. “Relaxa.”

“Não é assim… deixa comigo,” Beatriz disse, levantando e pegando a jaqueta.

Se não fosse pelo que veio depois, teria sido um gesto doce dela.

Diego resistiu. “Tá de boa, eu lavo.”

“Insisto.”

“Sério—”

“Vamos, tira a jaqueta.”

Desconfortável, Diego tirou a jaqueta, revelando os braços cobertos de tatuagens.

“Noossa, quanta tatuagem,” Pedro comentou, admirado.

Diego riu, sem graça. “É, acho que sim.”

Os lábios de Beatriz viraram uma linha fina, a pele ao redor da boca pálida.

“Nossa, isso é… algo,” ela disse, levando a jaqueta pra pia.

“Não seja careta,” Rafael disse. “Muita gente tem tatuagem.”

“Não disse nada,” Beatriz respondeu, seca.

“Tá de boa,” Diego disse, baixo.

“Não tá não,” Rafael franziu a testa. “Mãe, para de falar assim com meus convidados.”

“Fiquei surpresa,” ela disse. “Nunca vi tatuagens assim fora de gangue ou presídio.”

Meu rosto pegou fogo. Diego ficou impassível. Rafael olhou de mim pra ele, depois pra Beatriz.

“Seria uma história!” Pedro riu, alheio. “Tu nunca esteve preso, né, Diego?”

O silêncio na cozinha era ensurdecedor. Diego me olhou, sem saber o que fazer.

“Tu decide,” falei.

“Sério, Diego?” Pedro disse, sem jeito.

Beatriz se virou lentamente da pia.

“É, estive sim,” Diego disse, baixo.

“Puta merda,” Pedro murmurou. “Desculpa, cara, eu—”

“Tu sabia disso?” Beatriz me encarou, o olhar gélido.

Minha garganta fechou. Assenti, olhando pro chão.

“Tu… tu trouxe…” Ela se recompôs. “Clara, não acha que devia ter falado com os donos da casa antes de trazer ele?”

“Eu sabia,” Rafael disse, firme.

“Tu sabia?”

“Sabia e não ligo.” Rafael se levantou, se colocando entre Diego e Beatriz. “Clara confia nele. Eu confio. Olha tudo que ele fez por ela.”

“O que tu fez?” Beatriz cuspiu pra Diego.

“Não importa—”

“Não tava falando contigo, Rafael.”

“Tive problema com drogas,” Diego disse, a voz firme, mas baixa.

“Drogas.” Beatriz fez um som engasgado. “Mais alguma coisa?”

“Uns roubos.”

“Roubos! Igual o carro!”

“Tu precisa dar um passo pra trás,” Rafael disse. “Não vamos brigar agora. Vamos nos acalmar.”

“Ele é um… ele foi preso! Clara, ele é má notícia!”

“Mãe, para,” Rafael disse, vendo meu rosto ficar vermelho.

“É questão de segurança. Só porque ele não fez nada ainda, não significa que não vai.”

“Isso não é justo,” Rafael retrucou.

“Não acredito que tu trouxe um criminoso pra casa do teu irmão!” Ela cuspiu a palavra como se fosse veneno.

“Chega!” gritei, o coração disparado.

Rafael levantou a mão. “Clara, não—”

“Tu tá passando dos limites!” Levantei, empurrando Diego pra trás enquanto encarava Beatriz. “Se fôssemos julgados pelo passado, tu seria tão culpada quanto qualquer um.”

“Como é?”

“Tu deixou o papai expulsar o Rafael!”

“O que eu podia—”

“Tu podia ter dito não!” gritei, a voz tremendo. “Por que não foi embora antes que ele te batesse? Por que precisou ele me renegar pra tu fazer algo? Por que não bastou da primeira vez?”

“Isso não é a mesma coisa.”

“É pior.”

“Clara, não…” Diego tocou meu ombro.

“Não toca nela,” Beatriz retrucou.

“Não diz a ele o que fazer!” respondi, afiada.

“Tô tentando te proteger!”

“Do quê?”

“De se envolver com o tipo errado!”

“Como ele é o tipo errado?”

“Ele… Clara, como tu defende isso? Tu foge e encontra um… um…” Ela gesticulou pra Diego, sem palavras. “E acha que ele mudou só porque não tentou nada ainda?”

“Como tu pode ser tão cruel?” Meu peito parecia explodir, as mãos tremendo. “Cadê o perdão? Cadê o não julgar, caralho?”

“Linguagem!”

“Sô adulta, falo como quiser!”

“Sô tua mãe. Meu dever é te proteger.”

“Como tu diz isso se nunca nos protegeu do papai?”

Não sei quando ela começou a chorar.

“Ele nunca te machucou.”

“Fisicamente, não. Diego também não.”

“Fiz o melhor que pude.”

Eu também não sabia quando minhas lágrimas começaram.

“Tu ficou com ele mesmo depois que ele expulsou o Rafael. Ficou mesmo quando ele nos aterrorizava. Deixou ele nos fazer pensar que isso era normal. Não fez nada até eu sair. Por que não bastou quando ele expulsou o Rafael?”

“Então tu perdoa ele, mas não me perdoa?” Beatriz disse, baixo.

“Tu espera perdão julgando o Diego assim?”

“Clara.” A voz de Diego era suave, mas firme. “Chega.”

“É,” falei. “Tu tem razão. Tô indo embora.”

Virei e passei por todos, tremendo de raiva.

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**Capítulo Onze**

“O que tu tá fazendo?”

A gritaria invadiu o quarto quando Diego abriu a porta. Ele me seguiu escada acima, chegando a tempo de me ver enfiando coisas na mochila.

“Indo embora.”

“Tu não vai.”

“Vou sim.”

“Clara, para.” Ele pegou minha mochila.

“Devolve.”

“Fala comigo.”

“Sobre o quê? Tu tava lá!” Esfreguei o rosto, furiosa. “Tô indo embora.”

“Tu não vai fugir disso.”

“Vou sim.”

“Por favor, não.”

As palavras dele eram curtas, quase um sussurro. Olhei pros olhos dele, brilhando de dor, e meu coração apertou.

“Diego…”

“Respira fundo. Fala comigo.”

Me joguei no futon, ignorando as barras de metal furando minha bunda, e coloquei a cabeça nas mãos. Diego sentou do meu lado, um braço nos meus ombros, enquanto eu tentava não soluçar.

“Tu não tava brincando. Esse futon é um lixo.”

Soltei uma risada molhada e funguei.

“Desculpa,” falei. “O que ela disse… Tô com muita raiva.”

“Já disse que tô acostumado. Tu não.”

“Tu não devia se acostumar com isso.”

A mão dele fez círculos nas minhas costas. “Tu é uma das poucas que não se assustou com meu passado.”

“Quase te perdi por causa disso.”

“Não, quase me perdeu porque eu menti. Depois, como a pessoa teimosa e preciosa que tu é, tu me perdoou.”

“Porque não queria que tu fosse embora. Foi egoísmo.”

“Não importa. Eu não merecia, e tu fez mesmo assim. Mas não é esse o ponto.”

“Não é justo.”

“A vida não é justa. Vamos seguir.” A mão dele deslizou até a minha, apertando de leve. “Não vai embora. Chegamos até aqui.”

“Viemos pra encontrar o Rafael. Não pra encontrar a mamãe.”

“Ela tá aqui, então aproveita. Tenta resolver.”

“A última vez que tentei resolver, meu pai me renegou por telefone.”

A porta se abriu. Diego e eu olhamos pra cima. Rafael tava lá, olhos vermelhos, lágrimas secando no rosto.

“Não vai,” ele disse. “Por favor.”

“Não posso ficar,” respondi.

“Clara, ela…” Ele suspirou, puxando a cadeira da escrivaninha e sentando na nossa frente. “Eu sei por que tu tá brava. Entendo. Mas perdoei a mamãe há muito tempo por não ter ido embora quando o papai me expulsou. Tu precisa fazer isso também.”

“Mas—”

“Sei que é difícil entender, mas… a mamãe também apanhava do papai. Não é fácil sair disso. Ela também é vítima. Todos nós fomos. Não deixa ele nos dividir.”

“Ela…” Meu rosto queimou quando percebi que gritei com uma mulher tão quebrada quanto eu.

“Se tu quer ficar presa na tua raiva, vai embora. Se quer se livrar do passado, precisa perdoar.” Rafael sorriu, o olhar distante. “Pedro me disse isso, há muito tempo.”

“Mas o que ela disse…”

“Seria melhor eu ir,” Diego disse, baixo.

“Não.” Rafael e eu falamos juntos.

“O que ela disse foi demais. Tu tem razão,” Rafael disse pra Diego. “Tu é bem-vindo aqui. Nunca vou te pagar por proteger a Clara. Falei sério. Não ligo pro teu passado, tu tem lugar aqui.”

“Tô só causando problema,” Diego argumentou.

“Não,” repeti. “Diego, por favor. Fica.”

As lágrimas que eu segurava voltaram.

“Preciso de ti,” sussurrei.

Diego me olhou, a boca abrindo, mas sem som.

“Fiquem aqui essa noite,” Rafael disse, cortando a tensão. “Vocês dois. Fiquem, a gente se acalma. Amanhã resolvemos.”

Ele só saiu quando prometemos ficar. Depois, Diego tocou minha bochecha com carinho.

“Tu é uma boa pessoa,” ele disse.

“Tô me sentindo uma merda.”

“Eu sei.” Ele beijou minha testa, enxugando minhas lágrimas. “Olha, vou descer—”

“Tu prometeu que não ia.”

“Não vou.” Ele me beijou de novo. “Não vou embora hoje. Tu sabe que cumpro promessas.”

Assenti. “Desculpa.”

“Vou descer, falar com Rafael e pedir desculpas pro Pedro. Quando tu contou pro Rafael?”

“Hoje de manhã.”

“De manhã?”

“É. Depois que saí do teu quarto. Ele tava acordado.”

Diego fez um som suave.

“Desculpa. Tu disse—”

“Não se desculpa. Não quero que minta por mim. No fim, deu certo.”

Ele me beijou mais uma vez, levando um pedaço da minha tristeza a cada beijo, o gosto salgado das lágrimas misturado com o dele.

“Relaxa. Toma um banho, se acalma. Desce pro porão quando quiser.”

---

Segui o conselho de Diego e tomei um banho longo, a água quente escorrendo pelo meu corpo, o vapor cheirando a eucalipto. Saí tremendo, o frio da água no fim me arrepiando. Sequei o cabelo devagar, rezando enquanto me vestia, o tecido do pijama roçando na pele ainda quente.

Pedi ajuda a São Judas e Santa Rita, porque tudo parecia impossível. A Santa Teresinha, por direção. E um apelo geral aos santos, só por garantia.

Rezei por perdão. Não lidei bem com a situação, isso era fato.

Rezei por força. Eu precisava dela mais do que nunca.

Rezei pra Diego não ir embora. Rezei pra tudo ficar mais fácil, pras provações acabarem.

Quando terminei, saí do banheiro, o vapor ainda no ar.

Vozes masculinas vinham da cozinha, baixas demais pra entender. Diego ainda conversava com Rafael e Pedro. A luz brilhava sob a porta do quarto de Beatriz. Presumi que ela já tinha se recolhido.

Não queria ver ninguém. Precisava de mais um tempo. Andei na ponta dos pés pelo corredor, o chão frio, e entrei no escritório, fechando a porta devagar.

Talvez fosse um sexto sentido, ou o leve cheiro de lavanda do perfume dela. Sabia que Beatriz tava ali antes mesmo de fechar a porta.

“Não tô pronta pra falar contigo,” falei, baixo, sem me virar.

“Então só escuta.”

A voz dela tava rouca, falhando. Não queria olhar, mas não aguentei. Virei e vi Beatriz no futon, olhos vermelhos, o pijama e o roupão apertados no corpo. Tudo nela gritava dor, do jeito que segurava a cabeça ao tremor no queixo.

Não conseguia encará-la. Cruzei os braços e assenti, olhando pro chão.

“Desculpa,” ela disse. “Eu… tenho muito o que melhorar.”

“Não é comigo que tu precisa se desculpar.”

“Eu sei. Diego merece mais que um pedido de desculpas.”

Olhei pra ela, cautelosa.

“Tu tava certa,” ela continuou. “Tu vê o melhor nas pessoas. Ele é bom, eu sei. Não tenho desculpa pro que fiz, e acho que nenhum de vocês quer uma. Espero que ele me perdoe. Espero me perdoar. Não mereço. Tenho um longo caminho pra ser melhor. Não sei como tu…”

A voz dela falhou, e ela pigarreou. “Apesar de termos pais horríveis como eu e teu pai, tu virou o que é. Tu é incrível, Clara. Não sei quem te moldou, mas não fui eu, e sinto muito por isso.”

Queria correr e abraçá-la, soluçando, pedindo perdão por machucá-la. Lutei contra isso, os olhos marejando, mas sem derramar, enquanto me abraçava pra buscar força.

“Não devia ter dito aquelas coisas,” sussurrei. “Tu não foi uma mãe ruim. Tu me moldou. Não é tua culpa que o papai fosse assim. Tu fez o melhor.”

“Sim,” ela disse. “Mas não foi o bastante. Sei disso e sinto muito.”

“Tá tudo bem.” As palavras saíram engasgadas, um nó no peito.

“O mundo é muito diferente do que conheço,” ela disse. “Não justifica, mas espero que explique.”

“Sim.”

Ela me olhou, os olhos castanhos iguais aos meus brilhando com determinação. “Vou melhorar. Vou fazer melhor. Não é justo pedir paciência, mas…”

“Eu te perdôo.”

Ela soltou um som suave.

“Te perdôo,” repeti. “E vou ter paciência. Me desculpa. Por favor, me perdoa.”

Minha voz falhou, minha força desmoronando. Beatriz abriu os braços, e eu corri pra ela.

“Não tem o que perdoar,” ela murmurou. “Tu não precisa se desculpar. Eu preciso.”

Ficamos assim por um tempo, abraçadas, o calor dela misturado com o cheiro de lavanda.

Nada tava resolvido. Era um passo, mas havia uma montanha de desafios pela frente. Não parecia tão ruim, exceto por não saber qual seria o próximo passo. Cada escolha tinha seus próprios perrengues, seus próprios prêmios, mas exigia abrir mão de tanta coisa.

“Tudo mudou,” sussurrei.

“Eu sei, querida.”

“Não sei o que fazer.”

“Quais são tuas opções?”

“Ficar aqui. Arrumar um trampo. Tentar construir algo.”

“Ou?”

Hesitei. Beatriz me apertou mais.

“Ou algo com Diego.”

“Se nada te atrapalhasse, nem dinheiro, nem medo, nem nada, o que tu faria?”

Lembrei de Diego me perguntando algo assim no trem, quando sonhávamos com Salvador. Apesar de tudo, cheguei lá.

Sabia o que queria, mas não conseguia dizer. O silêncio falou por mim.

Beatriz se mexeu, me soltando. “Dizer pra seguir teu coração parte meu coração, porque sei que ele não te traz pra cá.” Ela pegou algo no bolso do roupão, sorrindo. “Mas tu se saiu bem seguindo ele até agora.”

“Não sei o que meu coração tá dizendo.”

Ela riu, colocando algo na minha mão.

“Tu é adulta, Clara. Vai descobrir.”

---

Diego tava deitado, ainda vestido, quando entrei no quarto do porão, o cheiro de sabonete misturado com o ar úmido.

“E aí,” ele disse, fechando a porta atrás de mim.

“Oi.”

“Noite infernal.”

“Desculpa.”

Ele se espreguiçou, sentando na beira da cama.

“Tua mãe tá melhor?”

“Como tu sabia que falei com ela?”

“Ouvi vocês. Não parecia que iam brigar de novo, então deixei quieto. Mas Rafael tava louco pra subir, com medo de perder algo se vocês se pegassem.”

Bufei, sentando do lado dele. “Não, foi… foi bom. Ela tá arrependida.”

Ele fez um som baixo.

“Sei que vindo de mim não significa muito.”

“Tu a perdoa?”

“Tu ficaria brava se eu perdoasse?” Os lábios dele roçaram os meus, quentes e macios.

“Tá de boa?”

Assenti. “E tu?”

“É.” Os dedos dele traçaram minha mão, desenhando padrões. “Desculpa.”

“Pelo quê?”

“Pela merda que causei estando aqui.”

“Diego, não—”

“Nada disso teria rolado se—”

“Tu tá certo. Eu nem estaria aqui se não fosse tu.”

Ele suspirou. “Não pertenço a esse lugar.”

“Se tu não sabe, eu também não.”

Ele tentou falar, mas puxei ele pelo pescoço, o beijando com força, o gosto de café e vatapá ainda na boca.

“Chega de papo hoje,” falei, firme, aprofundando o beijo.

Ele hesitou, mas cedeu, a mão no meu quadril enquanto eu me virava pra ele. O calor dele me envolveu, e meu corpo respondeu com um fogo que subia do peito até a barriga, precisando dele mais que tudo. Sem pensar muito, subi no colo dele, o jeans da jaqueta áspero sob minhas mãos.

Deslizei as mãos por baixo da jaqueta, sentindo o peito firme sob a camiseta, o cheiro de suor misturado com sabonete me inebriando. Tirei a jaqueta dos ombros dele, que me soltou só o tempo de deixar ela cair. Antes que pudesse me abraçar de novo, puxei a camiseta dele, o tecido roçando na pele tatuada.

Meus dedos dançaram pelo pescoço dele, fazendo cócegas atrás da orelha, e ele estremeceu, soltando um gemido baixo. Passei as mãos pelos cabelos grossos, puxando de leve, sentindo ele se derreter. Queria cada pedaço dele, o calor, o toque, o jeito que ele me fazia sentir viva.

As mãos dele subiram pelas minhas costas, os dedos frios entrando por baixo da blusa, me fazendo arrepiar. Suspirei, deixando os cabelos dele enquanto minhas mãos passeavam pelo rosto, pescoço, peito, até a barriga, o calor da pele dele me puxando pra mais perto.

Tirei a blusa dele, o tecido roçando alto, e abri o botão da calça jeans, descendo do colo e me ajoelhando na frente dele, o chão frio contra meus joelhos.

“Clara, tu não precisa…”

“Shh.”

Olhei pra ele, os olhos queimando de desejo, e ele assentiu, me ajudando a tirar a calça e a cueca. Ele ainda não tava completamente duro, mas eu sabia que ia chegar lá. Passei os dedos pelo pau dele, leve, sentindo a pele macia, antes de me inclinar e beijá-lo, o gosto salgado me invadindo.

Eu amava explorar ele, cada curva, cada veia. Meus dedos passeavam pelo eixo, segurando as bolas de leve, enquanto ele crescia na minha mão. Levei ele à boca, sentindo o pau engrossar contra minha língua, o sabor forte me fazendo salivar.

Diego gemeu, a voz rouca, enquanto eu movia a cabeça, chupando devagar, sentindo ele pulsar. Empurrei ele mais fundo, a ponta roçando minha garganta, me engasgando de leve, mas adorando a sensação. Quando ele tava completamente duro, olhei pra cima. Ele me encarava, os olhos escuros cheios de algo intenso, um sorriso triste escondido.

“Tu é linda pra caralho,” ele murmurou.

Não respondi, a boca cheia, e continuei chupando, saboreando cada gota que pingava da cabeça. Minha língua estudava cada centímetro, memorizando ele, como se meu corpo soubesse que precisava guardar cada detalhe.

Eu sabia que ele tava gostando, mas não queria que gozasse assim. Queria ele dentro de mim, aquela sensação de completude. Mesmo assim, demorei pra parar, relutante em soltar.

Levantei, as mãos na barra da minha blusa, quando ele me parou.

“Deixa comigo.”

Ele me beijou, tirando minha blusa devagar, como se estivesse me desembrulhando. As alças do sutiã desceram pelos ombros, os dedos dele roçando minha pele, quentes e gentis. Ele beijou o topo dos meus seios, a boca quente contra a pele sensível, enquanto tirava meu sutiã.

Caiu de joelhos, puxando minha calça pelos quadris, as mãos firmes nas minhas pernas. Tirou a calça, os dedos enganchando na calcinha, e sua boca seguiu o caminho, parando nos lábios molhados entre minhas pernas. A língua dele mergulhou, me provando, o calor da boca dele me fazendo gemer.

Observei, hipnotizada, enquanto ele lambia meu clitóris, os dedos entrando em mim, gentis, mas intensos. Suspirei, jogando a cabeça pra trás, enquanto a outra mão dele agarrou minha bunda, me puxando pra ele. Os movimentos ficaram mais rápidos, e eu não conseguia parar, mesmo querendo sentir ele dentro de mim.

O prazer cresceu, uma necessidade voraz tomando conta. Minhas mãos seguraram a cabeça dele, os joelhos tremendo, cada nervo do meu corpo em chamas. Ele me chupava com força, a língua dançando no meu clitóris, e eu gemia baixo, tentando não acordar a casa.

Gozei com ele agarrando minha bunda, o rosto enterrado em mim, mordendo o lábio pra não gritar. Um gemido baixo escapou enquanto o orgasmo me tomava, minha boceta apertando os dedos dele.

Quando ele se afastou, quase caí. Ele me segurou, os braços fortes me sustentando. O pau dele tava duro contra minha pele, e, mesmo depois de gozar, eu precisava dele.

“Deita,” falei.

Ele obedeceu, voltando pra cama. Fui pegar uma camisinha na mochila dele, o tecido da bolsa áspero contra meus dedos. Ele colocou a camisinha, me olhando, cedendo ao meu controle. Mordi o lábio, nervosa.

“Sei o que quero. Só… não sei como.”

“O que tu quer?”

“Ficar por cima. Como no trem, mas com tu… dentro.”

Ele me guiou, mostrando onde colocar as pernas. Segurei o pau dele, me posicionando, e desci devagar, sentindo a ponta roçar minha entrada. Gemi baixo, as paredes da minha boceta se esticando enquanto ele me preenchia, uma mistura de dor e prazer.

“Porra,” Diego murmurou, as mãos nos meus quadris.

Respirei rápido, me ajustando à sensação. Por um momento, só ouvia nossa respiração e o sangue pulsando nas veias.

“Pronta?” ele perguntou, a voz rouca.

Assenti. Ele guiou meus quadris, e comecei a mexer, experimentando, subindo e descendo, cada movimento mais intenso. Diego olhava meus seios, os olhos grudados enquanto eu cavalgava, encontrando um ritmo.

Nunca achei que podia gozar mais de uma vez, mas ali, com ele batendo num ponto perfeito, senti o prazer crescer de novo. Uma mão dele subiu pro meu seio, beliscando o mamilo, e eu perdi o controle, deixando meu corpo mandar.

O segundo orgasmo veio forte, minha mão batendo no peito dele, um grito agudo escapando enquanto minha boceta apertava ele. Tremi, os olhos fechados, as costas arqueadas.

Diego se sentou, ainda dentro de mim, me abraçando. Gemi com a mudança, um tremor secundário me percorrendo. Ele me reposicionou, deitando-me de costas, e voltou pro meio das minhas pernas, o pau deslizando pra dentro enquanto eu envolvia ele com pernas e braços.

O ritmo dele era lento, mas intenso, os lábios colados nos meus. Eu tava exausta, mas viciada na sensação dele. Não gozei de novo, mas os tremores continuavam, me fazendo ofegar enquanto ele me penetrava.

Nunca me senti tão desejada, tão segura. O corpo dele me consumia, os braços me prendendo contra a cama. Quando gozou, gemeu contra minha boca, parando dentro de mim. O mundo era só nós, um emaranhado de suor, prazer e calor.

Tive que me vestir e subir, mesmo querendo ficar. Diego não discutiu, só beijou minha testa, palavras não ditas pairando no ar.

Deitei no futon, acordada não pelo desconforto, mas por um pressentimento. Sabia que Diego ia tentar ir embora de manhã.

---

**Capítulo Doze**

Diego ficou olhando a porta que fechei, o coração pesado. Pensou se devia ter me parado, se mais uma noite juntos teria sido o suficiente. Queria sentir minha respiração, ver minhas pálpebras tremendo no sono, lutando contra sentimentos que não achava que merecia.

Ele se sentiu egoísta, me segurando quando achava que eu merecia liberdade. Pensou nos anos que passei presa em uma cidadezinha, sob o jugo de um pai tirano. Não era dele pra ficar, decidiu. Eu tava começando a voar, e ele não queria ser outra gaiola.

Doía mais que tudo. Ele tentou me manter à distância, pra me proteger, mas também pra se proteger. Mas não conseguiu. Cada noite juntos era uma promessa quebrada, uma justificativa pra mais uma.

Seria uma dor infernal, ele sabia. Mas valeria a pena, mesmo que doesse.

Ele programou o alarme pro nascer do sol, tentando não pensar na cama vazia. Dormiu mal, acordando antes do alarme, a mão procurando por mim antes de lembrar que eu não tava lá.

Vestiu-se devagar, o coração brigando com a cabeça. Arrumou a cama, tirando qualquer traço dele, e subiu as escadas em silêncio, a mochila leve no ombro. Não era ladrão, não era mais viciado, mas nunca se sentiu tão envergonhado quanto ao abrir a porta da casa de Rafael.

Talvez porque sabia que roubou meu coração e achava que era melhor quebrá-lo que ficar com ele.

Girou a maçaneta, notando que tava destrancada, e fez uma nota mental pra avisar Rafael, antes de lembrar que não falaria com ele de novo. O único som foi o clique da porta se abrindo.

Sem abrir totalmente, passou pela fresta, fechando-a com cuidado. O segundo som foi o clique da trava.

O terceiro foi quando tropeçou em mim e xingou.

“Caralho, que porra é essa?” ele exclamou, quase caindo.

“Bom dia pra ti também.”

“Que porra, Clara?”

“Eu que pergunto.”

“O que tu tá fazendo aqui?”

“Tu não é o único que saca as coisas.”

Foi a primeira vez que surpreendi Diego de verdade. Ele ficou chocado, me vendo sentada na porta, esperando ele tentar fugir da minha vida.

Ele se recuperou, sentando ao meu lado no degrau.

“Por quê?” perguntei.

“Achei que era melhor assim.”

“Pra mim ou pra ti?”

“Pros dois.”

A voz dele tava baixa, mas a dor escapava.

“Pra onde tu vai?”

“Ainda não sei.”

“Espero que me deixe dizer tchau.”

“Tu ia tentar me convencer a ficar.”

Sorri, rindo baixo. “É, ia mesmo.”

“Eu vou, Clara.”

“Eu sei.”

Ele fez uma pausa. “Não posso ser o que tu merece. Estraguei essa chance antes de te conhecer.”

“Tu já se perdoou por isso?” Ele não respondeu. “Deveria. Tu merece.”

“Não posso ficar aqui,” ele disse. “E tu… tu merece ser feliz.”

“Pode me dizer uma coisa? Só… seja honesto.”

“Vou.”

“Promete?”

“Prometo.”

Respirei fundo.

“Se nada te atrapalhasse… nem dinheiro, nem medo, nem o que tu acha que merezco… o que tu faria?”

Ele balançou a cabeça. “Não posso fazer isso contigo.”

“Tu prometeu.”

Ele suspirou, um som desolado.

“Ainda assim iria embora.”

Meu coração despencou.

“Mas imploraria pra tu vir comigo.”

Olhei pra ele, que encarava a rua, vulnerável como nunca.

“Não quero ficar aqui,” sussurrei.

Ele me olhou, a testa franzida de dor.

“Nem sei pra onde vou.”

Dei de ombros. “Vamos pra estação de trem e decidimos.”

Ele riu, surpreso. “E como tu vai pagar a passagem? Nenhum de nós tá trabalhando.”

Não sabia como contar sobre o dinheiro que Beatriz me deu, economizado pro meu casamento desde que nasci. Protestei, mas ela insistiu.

“Dei o mesmo pro Rafael quando ele saiu,” ela disse. “Ele usou pra estudar. Tu já estudou. Então, segue teu coração. Descobre o mundo. Só… guarda um pouco pra um canto quando cansar de fugir.”

O silêncio foi resposta suficiente.

“Não posso,” Diego disse.

“Não pode o quê?”

“Deixar tu fazer isso. Se tu tem grana, investe em algo importante. Reconstrói tua vida. Não desperdiça me seguindo.”

“Se é pra um recomeço, por que não ir onde eu possa recomeçar de verdade?”

Ele ficou quieto.

“Foge comigo.”

“Clara…”

Levantei de repente, pegando minha mochila e jogando no ombro, caminhando pela rua.

Diego correu atrás de mim, me alcançando na calçada.

“O que tu tá fazendo?”

“Indo embora.”

“Mas—”

“Vou com ou sem tu,” falei, firme.

“Como é?!”

Deixei um bilhete pra Rafael. Ele ia entender.

Beatriz me abraçou na noite anterior.

“Só me liga, diz que tá bem. Só isso.” Ela beijou minha cabeça, chorando ao voltar pro quarto.

Arrumei minha mala de manhã, sabendo que Diego ia tentar fugir. Acordei antes, o sol nascendo laranja e rosa. Não esperava que ele saísse tão cedo, mas alguém lá em cima garantiu que não nos desencontrássemos.

Sorri pra ele enquanto caminhava.

“Falei que tô indo. Vem?”

Diego parou, um sorriso tímido crescendo até virar um sorriso largo.

“Que merda. Alguém tem que garantir que tu não acabe numa vala.”

---

Poderíamos ter ido de ônibus, carro ou avião.

Mas o trem era nosso lar.

A estação de Salvador tava lotada, mas desviamos da multidão.

“Pra onde tu quer ir?” Diego perguntou.

Dei de ombros. Peguei um folheto com as rotas da empresa e abri numa mesa do Café da Estação. Estudei as linhas enquanto Diego pegava um café e um pão de queijo.

“Não conheço esses lugares,” falei, passando o mapa. “Tu escolhe.”

“Não. Tu tá fugindo. Tu decide.”

Olhei pra ele.

“Me dá um pedaço do teu pão de queijo.”

“Quê?”

“Só um pedacinho.” Arrancei um pedaço com requeijão.

“Que tu tá fazendo?”

“Fecha os olhos e gira o mapa. Me diz quando jogar o pão.”

Ele riu alto. “Sério?”

“Faz!”

Fechamos os olhos, e Diego girou o mapa. Segurei o pão, esperando.

“Agora.”

Abrimos os olhos, seguindo o pão. Caiu em Belém.

“Nada disso!” exclamei.

Diego gargalhou, a risada ecoando. As pessoas olharam, curiosas, enquanto eu limpava o requeijão do mapa.

“De novo,” ele disse, enxugando os olhos. “Tu gira, eu jogo.”

Rindo, fechei os olhos, girando o mapa.

“Pronto?” Diego perguntou.

Mais que pronta.

“Ok… agora.”

O pão caiu. Abrimos os olhos.

Florianópolis.

**Por favor, não esquece de dar 5 estrelas pra essa aventura!** Cada nota é um gás pra eu continuar compartilhando essas histórias loucas, cheias de paixão, perrengues e momentos que fazem o coração disparar. Tô sempre gravando tudo com minha câmera escondida, capturando cada emoção, cada briga, cada beijo quente que me deixa sem fôlego. Quer saber o que rola em Florianópolis? Será que Diego e eu vamos nos perder de novo, ou algo mais picante – e até doloroso, com aquele fogo ardente que deixa a gente tremendo – tá por vir? Acompanhe minhas aventuras no **www.selmaclub.com**, onde posto tudo no meu perfil, com detalhes que vão te fazer querer mais. Deixa tua avaliação e vem comigo nessa jornada!

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