#Incesto

Bater em mim Duas irmãs encontram o amor após uma tragédia.

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Ana Paula

Resumo: Nesta história, eu, Ana Paula, uma jovem de 24 anos de São Paulo, carrego a culpa por um acidente de carro que mudou a vida da minha irmã mais nova, Beatriz, de 21 anos. Dirigindo para comprar lanches numa noite comum, um erro meu causou a amputação abaixo do joelho dela. Desde então, vivo para cuidar dela, mas um desejo proibido e intenso cresce em mim, transformando nossa rotina em momentos de tensão erótica e paixão secreta. Registrei tudo com câmeras escondidas nas aventuras que vivemos, capturando a essência de nossa conexão profunda, e compartilho aqui para quem busca entender o fogo que consome almas entrelaçadas.

Ah, nos meus devaneios mais loucos, eu acerto tudo direitinho, sabe? Meu instinto primitivo age sem pestanejar, e assim evito o caos que vem com a decisão errada. O tempo passa voando quando roçamos o abismo, e depois soltamos uma gargalhada nervosa, liberando a adrenalina acumulada. Só duas irmãs descendo a rua pra comprar uns salgadinhos pra assistir um filme, eu e a Bia. O mercadinho ali na esquina fica a dois minutos de casa. São 22h49. A gente volta antes das onze, fica acordada até altas horas batendo papo sobre o filme que escolhemos, vai pra cama e acorda quando der na telha, porque é um sábado de verão daqueles quentes em São Paulo.

Só nos meus devaneios, né?

* * * * *

Todo mundo falava que a vida ia virar do avesso quando eu tirasse a habilitação, mas ninguém, nem meu tio Zé, que passa o dia inteiro consertando carros na oficina dele lá na Vila Mariana, imaginava o tamanho da encrenca que isso ia virar. Como qualquer garota de 18 anos no mundo inteiro, eu contava os dias pra botar a mão no volante. Sonhava com aquela liberdade gostosa, mesmo sem ganhar um carro zero no aniversário, diferente de uns amigos meus.

Que diferença faz? Pegar o carro da família emprestado por umas horinhas no fim de semana já era o paraíso. A regra dos velhos era clara: notas boas igual a chaves na mão. Então, eu arrastei Química de um "regular" pra "bom", mantive Geometria no "bom" firme e forte, e o resto das matérias veio com aqueles "ótimos" que faziam meus olhos brilharem. O quadro de honra era certo. Meu nome apareceu na lista, com uma cartinha de parabéns chegando pelo correio uns dias depois. Umas semanas de aula prática com o instrutor que meu pai jurava de pés juntos ter ensinado ele, dois testes rapidinhos, o flash da câmera e, aos 18 anos e uns meses, quem saiu da autoescola como motorista oficial? Eu mesma, Ana Paula Oliveira. Que venha a sinfonia triunfal. Eu tinha conquistado, e conquistei mesmo.

Meus pais não pensaram duas vezes em me botar pra rodar. Seja pra ir ao supermercado ou pra uma visitinha na casa da vó pra pegar uns docinhos fresquinhos, eu era a motorista oficial. Nos primeiros meses, eles insistiam em ir junto, mas depois que viram que eu mandava bem, liberaram geral. Pra mim, o melhor era poder dirigir até a faculdade. Pra eles, o principal era eu levar a Bia junto.

O que raios eles tavam pensando?

* * * * *

Esse zumbido chato é o alarme me chamando pra encarar mais um dia. O que significa que é hora dela encarar também.

Aperto o botão do rádio-relógio, me levanto sem ânimo nenhum. Jogo as cobertas pro lado, me sento zonza, passo a mão no cabelo (um vício que peguei aos 10 anos e não largo por nada nesse mundo), deslizo as pernas pra fora da cama, atravesso o piso frio até a cômoda e faço careta pro espelho. Cabelos castanhos até os ombros, lisos que nem tábua, prontos pra um rabo de cavalo? Tá lá. Olhos castanhos, sem graça pra caramba, com lentes de contato pra fugir do bullying dos óculos? Confere. Corpo médio, daqueles que some no meio da multidão mesmo sozinha? Confere e mais um pouco. Mostro a língua pro reflexo, e a danada devolve na mesma moeda.

Melhor me arrumar logo. Abro a gaveta de cima pra baixo, pego:

Calcinha - branca, de algodão, baratinha, comprada em pacote de cinco, todas iguaiszinhas.

Sutiã - preto, com bojo macio, peguei na promoção de 50% numa lojinha do shopping, último do meu tamanho.

Meias - brancas, de algodão, até o tornozelo, com detalhes rosa no calcanhar, presente dos pais no Natal passado.

Camiseta - verde-musgo, gola um pouco folgada, larga pra deixar o ar circular, com estampa de uma banda que a Bia ama de paixão, mas que eu nunca escutei direito. Presente dela, que ganhou num sorteio e viu que era grande demais.

Calça jeans - caramba, cadê minha calça? Olho o quarto inteiro, mas não tá no chão nem na cama. Dane-se, acho depois.

Abro a porta do quarto e saio pro corredor, quase trombo na Bia, que me olha com aqueles olhos cor de mel, sonolentos e salpicados de ouro, quase escondidos atrás de mechas bagunçadas do cabelo loiro sujo, e resmunga: "Bom dia, Aninha".

Quando a Bia começou a falar, enrolava meu nome; "Aninha" era o mais perto que chegava. Agora, com 21 anos, ela diz direitinho na frente dos outros. Mas quando é só nós duas, ainda sou "Aninha". Não é por maldade ou pra me chamar de cachorrinha, é só coisa de irmã caçula. Acho fofo pra caramba, mas nunca vou admitir.

Aceno com a cabeça e espero ela andar devagar pro banheiro. Uns minutos depois, ouço o chuveiro ligar. A maioria das irmãs mais velhas brigaria pela vez, mas eu não sou assim. A Bia é tudo pra mim. Devo tudo a ela, porque nada compensa o que ela perdeu há cinco anos. Não importa o que eu faça, não muda o fato de que a culpa foi toda minha.

"Aninha?"

Sua voz, suave e ainda rouca de sono, me tira dos pensamentos. A casa tá quieta como sempre. Pai já tá no trampo há uma hora, e mãe tá na casa da vó, ajudando com as coisas que ela não dá conta sozinha. Por razões que não entendo, nenhuma delas se importa em me deixar cuidando da Bia.

"Aninha, cê tá aí?"

Vou até o banheiro e paro do lado de fora da porta aberta. "Tô. Precisa de algo?"

"A mãe esqueceu as toalhas novas. Pode pegar pra mim? Já tô no chuveiro."

"Sem problema." O armário fica dentro do banheiro, atrás de uma porta sanfonada velha, então entro no vapor quentinho, coloco minhas roupas na pia, abro o armário, pego quatro toalhas fofinhas (amarelo-limão pra mim, azul-turquesa pra ela, e um par branco e preto pros pais) e penduro nos ganchos vazios. Meu olhar cai na banheira.

Pra mim, ainda parece estranha como no dia que instalaram. Tem o tamanho normal, embutida num rebaixo, com cortina como qualquer uma, mas não é normal. Essa tem uma porta. Começa do lado esquerdo, uns dez centímetros da parede, e ocupa metade da frente. Abre que nem porta de carro, criando um degrauzinho pra entrar sem pular. Dentro, tem um banco elevado, vedação pra não vazar, e as torneiras de quente e frio. É uma mistura de banheira e chuveiro, com cascata no teto e um jato removível na mangueira pra lavar qualquer canto. Você deve ter visto na TV, vendendo como ideal pra idosos ou quem quer luxo sem espaço extra. A Bia precisa por outro motivo, e embora ela diga que os jatos relaxam depois de um dia cansativo, eu nunca usei. Não tenho medo, só sei que não mereço.

* * * * *

Embora eu acerte tudo nos sonhos, errei feio naquela noite, que parece ontem apesar dos anos. Era pra ser uma corridinha rápida ao mercadinho da rua Augusta. Peguei um pacotinho de salgadinhos de queijo pra mim e uns bolinhos de chocolate pra Bia enquanto ela preparava as bebidas, com toda energia de uma moleca de 16 anos hiperativa: 1 litro de guaraná pra ela e o mesmo de refrigerante de limão pra mim, pra bater no sono a noite toda. Cinco reais depois (joga o troco no potinho de doações) e estávamos na rua de novo. Rotina que a gente aperfeiçoou nos meses anteriores, uma dança que fazíamos no automático, porque o trânsito era zero àquela hora.

Tão zero que, quando o sinal abriu, não olhei pros lados antes de entrar no cruzamento, nem esperei uns segundinhos por segurança. Atravessamos e fomos atingidas por um maluco numa picape que, bêbado pra cacete, apostou que passava no amarelo. Quatro em cinco vezes ele perde. A gente também perdeu.

Pra ser sincera, não lembro muita coisa depois do baque. O médico disse que foi concussão, e perda de memória é normal. Quando penso, vejo flashes, tipo slideshow acelerado. Luzes fortes. Um barulhão explosivo, como fogos estourando num quarto fechado. Vidro chovendo nos braços e pernas nuas, e o refri espalhado pelo carro todo, grudando no cabelo, escorrendo no rosto, manchando roupas e o tapete que pai comprou na semana anterior, e só penso no quanto ele vai ficar puto. O cheiro dos airbags acionando, dianteiro e lateral, domina tudo com fedor nojento: mistura de borracha queimada, gambá e vestiário de academia. Lambo a boca e sinto gosto de sangue.

Sei que estamos na contramão, o cinto tá preso, mas os retrovisores não tá ajustados direito e preciso consertar, porque é o que se faz antes de dirigir: checar espelhos. Mas tudo tá borrado, os botões não obedecem, e me controlo pra não gritar quando viro e vejo a Bia afundada no banco, presa pelo cinto. Por sorte, tudo some em luzes piscantes azuis e vermelhas antes de eu gravar o que me apavorou.

Por mais que force, não lembro o que vi. Meu cérebro é esperto, sabe que preciso esquecer o inesquecível. Última coisa que penso é que, ao ver a picape vindo, tentei frear. No pânico, pisei fundo no acelerador. Se não fizesse nada, batia no motor. Em vez disso, o lado dela, segurando as bebidas (o console tava cheio de tralha que eu preguiçava jogar fora), levou o tranco todo.

Culpa minha, toda.

* * * * *

Acordei antes dela. Todo mundo repetia o quanto tínhamos sorte, como podia ser pior, como os caras atrás ligaram pro SAMU e ficaram como testemunhas. Por um tempo, acreditei, até ver a Bia pela primeira vez.

Tiraram ela da UTI e pensei que era pegadinha. Cabeça enfaixada, cabelo raspado pra cirurgia aliviar pressão no cérebro. Tubos e fios por todo lado: soro na mão esquerda; monitor de pressão no dedo; oxigênio no nariz; eletrodos no peito sob a camisola fina; cateter, o pior insulto – nem banheiro ela ia sozinha. O pior era o curativo na panturrilha, tornozelo e pé direito. Manchas amarelas horríveis vazando. Estabilizaram e induziram coma pra corpo recuperar. Deu tempo pros médicos falarem com pais sobre o melhor caminho.

* * * * *

"Chama amputação transtibial." O Dr. Santos era magro, barbeado, pele morena e sotaque leve do interior. Em vez de ficar em pé falando de cima, puxou um banquinho e sentou na nossa frente. "Parece complicado, mas é só corte abaixo do joelho. Um dos mais comuns pra ferimentos como o da sua filha."

"O que, hum..." Pai engoliu seco. "Exato o que isso envolve?" Fez a pergunta que eu não queria resposta. Dr. Santos respirou fundo e me olhou, arqueando sobrancelhas, dando tempo pra eu sair se quisesse. Cerrei dentes e baixei cabeça. Culpa minha – no mínimo, saber o quão ruim ia ser.

Observei, prendendo fôlego, enquanto ele erguia a perna direita, equilibrava na esquerda e desenhava com dedo. "Basicamente, começa no meio entre joelho e tornozelo. Testes pra melhor ponto, preservando máximo. Geralmente, corte aqui." Dedo traçou curva na panturrilha. "Tecido e osso abaixo removidos." Passou mão até tornozelo e tênis. "Mantemos músculo máximo, no caso da Bia, mais que normal." Processo medieval, mas ele acentuava positivos. Admito.

Mãe apertou mão do pai com força que pensei sair sangue, mas ele não reagiu. Inclinou-se, atento a cada palavra, caçando boas notícias no horror.

"No fim, retemos retalho de tecido longo que moldamos ao redor." Ergueu punho esquerdo, cobriu com direita. "Grampeado pra formar o... Não gosto de 'coto'. Comum, mas impessoal. 'Membro residual' soa técnico. Preferência?"

Pais negaram. "Chama como maioria", mãe disse, olhando pai que assentiu. "Toco é... hum..." Engasgou, parou, sussurrou rouca: "Tá bom."

Dr. Santos aproximou banquinho, pegou minha mão, colocou sobre as deles e fechou. "Nunca vai tá 'bom'", disse baixo. "Nada nessa situação é 'bom'. Posso dizer que ela tem sorte de viver, cuidados top, não é minha primeira vez, colegas trataram centenas, mas não muda que, num mundo ideal, Bia não precisaria. Vocês se adaptam. Vida volta quase normal. Bia anda de novo. Mas não minimizem.

"Quando ouvi 'ela tá bem' ou 'Bia parece bem hoje', queremos dizer recuperação sem complicações. Ninguém acha situação 'bem' de outro jeito. Vocês não precisam usar 'bem' a menos que sintam."

Finalmente, pensei chorando, alguém entende. Então horror veio: imagens de serrando osso e músculo da perna dela em crescimento. Curvei e vomitei o café da manhã no piso. Até hoje, não como pão com molho.

* * * * *

"Quer que eu deixe ligado pra você?" Bia, iluminada pela janela, bota cabeça pra fora da cortina.

"Sim, por favor."

"Tá bom." Desliza cortina e abre porta, que fica uns centímetros acima pro água ficar dentro. "Me dá uma mãozinha?"

Respiração trava na garganta, como toda manhã nessa rotina. Não é certo como olho pra ela, mas não controlo. Não sei se acidente quebrou algo em mim ou se eu já era assim, mas depois, um interruptor virou. A maioria ama irmãos, mas eu...

Me pergunto se ela sente meu coração batendo forte como no conto do Poe, revelando verdade enquanto finjo indiferença. Se sente, ignora, e diferente do narrador, nunca vou confessar.

Estendo mão, ela segura pra apoio, impulsiona com perna esquerda até ficar em pé. Movimentos naturais agora: virar pra passar braço no meu ombro, envolver braço no quadril dela. Água do cabelo dela encharca minha blusa, e queria já ter tirado pra sentir pele na pele.

Ela cheira divino, sabonete de morango e xampu "Brisa Tropical". Fios escorrem por pernas, costas, curvas dos quadris e fenda entre seios pequenos e firmes. Uma gota balança no mamilo rosa claro mais perto de mim, até ela transferir peso e roçar peito no meu. Sinto blusa umedecer e guardo sensação enquanto ela seca torso, vira toalha, senta na borda da banheira e passa na perna esquerda, joelho, tornozelo, pé, entre dedinhos.

Me dispo, lançando olhares furtivos enquanto ela cuida especial da perna direita, secando umidade do toco. Não secar é receita pra irritação e prótese mal ajustada, como aprendeu várias vezes.

Tento parecer normal enquanto tiro calcinha dos quadris, deslizando um pé de cada vez, mas ela nota. Sei que não devo mudar rotina, mas não controlo. Tenho duas pernas intactas, ela não, e fazer coisas simples com ela olhando me deixa constrangida.

Ela vai pro vaso, senta no tampo fechado e enfia pé esquerdo num shortinho amarelo, puxando até toco direito, dobra pra passar buraco. Levanta e puxa até cintura, escondendo triângulo de pelos loiros claros como cabelo da cabeça, e me dá sorriso vitorioso. "Parte dura acabou!"

Retribuo, passo por ela e entro no chuveiro sem usar porta. Droga, hábitos velhos. Bia gosta de água "quase fervendo", então diminuo, espero ajustar e vou pra cascata. Só mais uma manhã, penso. Superamos como ontem, repetimos amanhã e pra sempre se preciso. "Beleza", ela diz do outro lado da cortina, "pronta pra pergunta do dia?"

"Pode mandar", respondo com entusiasmo forçado. Bia acha que vai me ensinar poesia porque tá arrasando na aula. Sabe que fiz o mesmo e, como caçula, adora nota melhor. Jogo: toda manhã cita verso, adivinho autor. Ganho prêmio se acerto, mas ela escolhe de tudo, de Shakespeare a modernos, e poesia nunca foi meu forte, prêmio continua longe.

"Ver um mundo em grão de areia / E céu em flor silvestre, / Segurar infinito na palma da mão / E eternidade em hora."

Sei lá. "Camões?", arrisco.

"Cê tá perguntando ou afirmando?"

"Camões", digo firme.

"Opa, desculpa. Resposta certa é William Blake. Vai, Aninha, custa folhear meu livro uns minutos?"

"Morro de tédio. Além do mais, não sei o prêmio. O que ganho? E se não gostar?"

"Estuda mais e vê." Imagino língua dela pra fora, provocando.

Enquanto banho, Bia tagarela sobre vida na faculdade. Espremo gel na esponja rosa, e ela reclama do professor de Física. Passo na perna, e ela conta que Joana e Pedro voltaram, de novo, e pergunta quantas brigas pra término definitivo. Digo depende do casal, passando na barriga, sob seios, repetindo que é só esponja, não mãos dela na minha pele. Orelhas queimam, calor entre pernas. Mamilos endurecem em botõezinhos, sensação da esponja deliciosa demais pra uma vez só. Mordo lábio pra gemido não escapar.

Ela pergunta café da manhã, digo vejo se mãe deixou algo, pergunto preferência. Limpo rosto enquanto ela pede bacon crocante, sorrio porque sabia antes. Bia e pai gostam bacon quase queimado, com pimenta farta.

Água nos ouvidos enquanto ela fala de grapefruit e benefícios. Ouço clique metálico da prótese encaixando ao se levantar, enxáguo xampu e noto silêncio.

"Desculpa, lavando cabelo. O que disse?"

Silêncio.

Então: "Acha que vou ao baile com alguém esse ano?"

Aperto esponja, espuma cascata nos dedos, fecho olhos. Mais que tudo, ela quer ir ao baile. Não como flor de parede ou com turma, mas convidada por alguém. Dobrou desejo desde me ver arrumada pro meu baile. Pedro me convidou na aula, aceitei sem pensar.

Depois, me arrependi. Não por Pedro ser ruim; jogava futebol, não babaca como atletas, bonito tipo ator de novela. Planejava recusar qualquer convite porque sabia Bia talvez não fosse, mas não dá pra voltar atrás sem magoar. Dei ombros. Bia tinha 19 na época, corpo lindo, curvas perfeitas. Certamente arrumaria par, mesmo usando cadeira às vezes por dor, ou dispensada de educação física por nova prótese no surto de crescimento.

Veio o ano dela. Época do baile, pronta pra sim. Amigas foram com pares. Ela ficou em casa com a gente, comendo pizza do delivery da esquina. Pras colegas, melhor noite. Pra ela, sábado qualquer.

Quando tocou assunto depois, disfarcei. Disse baile chato, garotos saíram cedo pra festas. Mas sei que ela sabia mentira. Pedro me deixou às duas da madruga, adormeci sentindo princesa de conto. Acordei Colleen normal, brilho sumiu. Parabéns por diversão, volta à realidade.

Como responder sem soar falsa? "Claro, mana, alguém vê teu interior." Todo mundo diz Bia linda por dentro. Até mãe escapa que interior importa. Só eu acho perfeita como é? Como merda assim acontece?

Mas não posso contar. Nem a ninguém. Falar com terapeuta sobre dormir com irmã se ela pedir abre caixa de Pandora, anuncia loja de iscas.

Suspiro, torcendo que água abafe. "Não sei, Bia. Espero que sim."

"Eu também." Levanta, silhueta pela cortina. Com prótese, move como qualquer uma, curvando pra pegar roupas, jogar no cesto, pendurar toalha. Fecho torneira após lavar cabelo, querendo ficar mais cinco minutos e gozar rápido com ideia das mãos dela na minha pele explodindo no crânio, mas reprimo e saio. Enrolo toalha no torso, outra no cabelo como turbante, ela me olha. Passa fio dental menta, hábito melhor que meu.

"Bem", diz após bochechar enxaguante suficiente pra esterilizar hospital, "não dá pra convidar se não vou à faculdade, né?"

Dá sorriso perolado pra aprovação, faço joinha secando. "Parecendo modelo de pasta. Te vejo lá embaixo pro café."

Quando sai, aprecio balanço da bunda no short cinza. Solto suspiro longo, esfrego rosto na toalha, pergunto pela milésima vez o que tem de errado comigo.

* * * * *

Dias após acidente foram caos. Fiquei 24h em observação. Contusão no peito pelo cinto, airbag queimou pele nos polegares, mas sem dano grave da concussão, alta sem drama. Bia, outra história. Três dias pra tirar coma, e ainda dormia muito por analgésicos fortes. Meu consolo foi "Aninha" baixinho quando acordou e me olhou. Todos ao redor, primeiro sussurro pra mim. Soube: ela superaria.

Enfermeiros vinham de duas em duas horas, 24/7, inspecionar perna, trocar curativo, limpar. Como eu, costelas machucadas pelo cinto, inchaço no cérebro diminuindo em ressonâncias. Todo mundo repetia sorte, acidentes menores com ferimentos piores, anjo da guarda trabalhando extra. Queria Bia inteira, de que adiantava anjo se não dava isso?

Semana após cirurgia pra remover perna, entrei em fase rebelde. Pais me levavam pra porta de casa de manhã, mas dirigia pro hospital ficar com ela. Quando mãe tentou deixar na faculdade sozinha, andei dois quarteirões e peguei ônibus com dinheiro do lanche. Após discussão quente com pais, coordenador, orientador e terapeuta do hospital, solução: dispensada de aulas se mantivesse notas e entregasse tarefas. Pais não brigavam, sabiam eu faria tudo por Bia, dane-se faculdade. Estado não metia, faculdade particular não recebia verba pública, ditava regras por aluno. Atendo que se aprende muito com livro e YouTube à noite. Notas mantidas.

Vê-la ali partia coração. Cheia de remédios, semanas iniciais entre acordada e dormindo, às vezes no meio da frase. Tornei mestre em repetir conversas. Restrições em tudo, de sentar a deitar. Enfermeiros checavam pra não cruzar pernas, balançar perna direita, apoiar com travesseiro extra.

Motivos tinham. Dr. Santos explicou problemas de circulação surgem sem aviso pós-cirurgia, confinação necessária. Irritava quando ela se ajeitava e cinco minutos depois alguém mandava mexer. Ela obedecia, mas olhar nos olhos dizia que queria mundo inteiro pro inferno.

Pais visitavam quando podiam, tempo limitado. Pai tem escritório de contabilidade próprio; não trabalha, não ganha, seguro autônomo caro pra caramba. Mãe bibliotecária meio período, mas após AVC da vó ano anterior, precisava ajuda em casa. Vó não pagava cuidador com aposentadoria; mãe filha única, faz as contas.

Todo dia levava mochila pro quarto, sentava cadeira ao lado da cama, segurava mão dela. Quando dormia, lia e-book ou puxava mesa com rodas pra tarefa. Acordava querendo papo, contava coisas de casa. Pra chorar, subia na cama, acariciava costas enquanto ela encostava rosto no meu ombro. Pra fisioterapia, levava cadeira e voltava. Primeiros passos pós-op, meu ombro estabilizou. Ela virou meu mundo, eu o dela.

Favorita dela era aventuras do Harry Potter com amigos em Hogwarts. Bia bibliófila nata, mas não lia muito sem dor de cabeça. Ofereci ler alto, li até voz falhar. Uma enfermeira trouxe caixinha de refri pra geladeira. Pra durar, dividíamos lata, saboreava cada gole sabendo lábios dela tocaram antes.

Uma vez, ela dormindo, inclinei, beijei bochecha, sussurrei que ficaria com ela sempre. Prometi tudo que pedisse. Família brasileira, promessas sérias, então cumpre. Primeira vez disse amo de jeito diferente. Como ela, parte quebrada em mim, melhor quebrados juntos que separados.

* * * * *

Três semanas pós-amputação, tiraram grampos, curativo novo. Novo médico, velho, cabelo ralo, mão suada, óculos bifocais, sempre apressado, começou aparecer. Dr. Oliveira, especialista em próteses. Dr. Santos assistia enquanto Oliveira hesitava, examinava ferida da Bia, encontrava mil defeitos, tagarelava sobre curativo uniforme pra medidas precisas e ajuste. Pais trocavam olhares desconfiados enquanto ele recitava fatos como professor, horror se não trocássemos curativo regular, meia errada, massagem ou dúzia de erros. Olhava relógio, saía pra golfe ou sei lá. Dr. Santos respondia perguntas, explicava diferença prótese preparatória e real, edema, meias em tamanhos diferentes. Ninguém explicava por que Oliveira apressado. Algumas pessoas idiotas, sem cura.

Entre cirurgia, recuperação, check-ups, provas, terapias, fisio e pilha quando vida derruba, Bia perdeu ano inteiro de estudos. Amigas foram pro superior, ela repetiu com turma nova que não sabia o que pensar de garota com perna e meia. Crianças ostracizam diferentes.

Mantive notas altas, apesar de não ligar pra história antiga, matrizes ou bobagem da aula de poesia. Alguém devia avisar não era aula fácil. Se dois caminhos cruzam na floresta e deseja outro, vira e vai. Dois cruzaram na minha, não escolhi segundo, foda-se poeta. Se pudesse voltar, faria – diferença total.

* * * * *

Bia arrumou coisas, pronta quando lembro calça no cesto, tiro e visto. Usei dois dias só, não sei por que joguei suja. Mãe deixou café: pilha de pães de queijo, ovos mexidos e bacon crocante na geladeira, aqueço dela e deixo comer enquanto preparo meu. Dois copos de suco de laranja completam, devoramos como se oito horas sem comida.

"Então, hoje van ou carro?"

"Sua majestade quer van", diz com sotaque britânico fofo e ruim pra cacete, tipo filme antigo. Alguém viu série inglesa. "Ela forçou ontem. Melhor ter cadeira e não precisar que precisar e não ter, né?"

"Van então." Enfio garfada de ovos, bebo suco. "Quando é baile mesmo?"

Olha mastigando bacon devagar, engole. "Três semanas. Por quê?"

"Só curiosidade. Não sabia se mudam data." Merda, por que toquei? Agora remoe. Bom trabalho, Ana Paula.

"Mesmo horário, mesmo lugar."

"Pode ser mais idiota?"

"Tenta ficar deitada vendo TV com só reprise de jogo show, juiz e herói antigo."

"Acho que passo."

"Alguns não escolhem. Saber atrizes que fizeram vilã aumenta credibilidade nerd."

"Claro. Entre professores."

"Talvez comece jogo online."

"Talvez quebre teu laptop."

"Vou dominar horda. Não mexe, Aninha; conheço quatro caras nível max."

"É, se jogasse, morria de medo. Vi anime. Fácil com nerd: mostro peitos, morrem sangrando nariz."

Bia cobre boca, tenta conter riso, mas explode. Gargalhamos como loucas, uma alimentando outra em loop até sem ar. Tão engraçado? Não, mas adoro rubor nas bochechas dela quando solta.

"Vamos", avisa levantando, pegando mochila. "Não quero atrasar." Vai pra porta, abre cadeira, senta com mochila no colo, me olhando.

"Ok, ok, tô indo." Pego bolsa, jogo no ombro, calço tênis velho, levo até van. Lá, chaves, abro lateral, ligo elevador. Sobe plataforma como pro, aciono elétrico puxando pra dentro. Fecho, vou pro motorista, pulo volante.

Prefiro van ao carro. Vista alta, parece segura, bom com Bia. Mas exige concentração, manual, embora melhor agora com experiência, prefiro automático. Mas é o que ela quer. Podia pedir empurrar na cadeira ou carregar nas costas, não discutia.

Quietinha na estrada hoje, perdida em pensamentos, trocando mensagens, ligo rádio baixo na estação variada, única além playlist dela com pop, rock, rap, sertanejo e MPB no mesmo bloco. Quinze minutos pra faculdade no Morumbi, estaciono vaga acessível, ajudo descarregar. Como maioria dias com cadeira, não usa, mas empurra com mochila dentro. Detesta depender, entendo. Feliz por ter e faculdade com elevador.

Vou rampa, toque no ombro. Viro, ela parada, olha ao redor se alguém vê, mas desembarque normal longe, ninguém. Abraça forte. "Obrigada, Aninha", sussurra. "Te amo!"

"Também." Sem controlar, inclino, beijo bochecha rápido. Mão dela no local, penso se exagerei, mas sorri, sopra beijo de volta. Vira, empurra cadeira pras portas automáticas, pronta pro mundo real mais um dia.

Enquanto ela encara último ano, tenho responsabilidades. Subo van, saio vaga devagar, estrada. Chego trabalho com tempo pra café no caminho.

Garota balcão do café "Café da Esquina", alegre universitária morena cabelo preto chamada Rita, faz pedido ao me ver: "Café gelado médio, duplo açúcar, com espaço, pra Ana Paula."

"Vc é top, Ri." Dá total, troco dinheiro, jogo troco no pote gorjeta. Fofa com piercing nariz prata e sorriso eterno, mas vi beijando namorada no intervalo, comprometida. Meu coração é de outra, mesmo ela não sabendo nem podendo saber.

"Diz oi pra Bia", grita enquanto vou outro lado balcão, pego bebida.

"Falo." Misturo creme, dois açúcares extra, aceno, saio. Olho trás, atenção dela em livro de crimes reais. Não primeira coisa que imaginaria, mas trabalho ensina gostos variam em livros.

* * * * *

Como não passo sete horas com Bia na faculdade, passo cinco no sebo local. Dona, Dona Carla, mais doce que brigadeiro. Desde ler, queria trabalhar na Livraria da Carla. Pra créditos voluntário pra formar, conquistei arrumando prateleiras, separando, enquanto ela comprava vendia. Nada atrai poeira como pilha livro velho.

Disse pra Carla (e mim) que temporário, mas terceiro aniversário vem e não vejo mudando. E-books e Amazon reduziram lucro dela. Colegas zoam por e-reader, mas não abandonei papel. Mágico neles, especialmente antigos. Abre, cheira páginas, lê, pergunta quem leu último.

Carla não paga muito, meio período menos ainda, mas dá flexibilidade. Sabe Bia primeiro, se precisar largar pra buscar, dia pra terapia, folga sem pergunta. Moro casa, dirijo carro quitado, sem dívida estudantil... dinheiro não prioridade. Não carreira. Ignoro pai com "o que faz resto vida?", preocupo quando Bia na faculdade. Minha vida pausa cinco anos. Mais meses não mata.

* * * * *

Mal entro porta, mãe desaba: "Vi van. Tudo bem com Bia? Forçou terapia ontem? Disse não exagerar, mas não ouve. Fala com ela?"

"Olá pra vc também." "Em ordem: Bia ótima; cadeira precaução; não precisa sermão saúde. Meu dia bom, obrigada. Como vó?"

"Ah, me deixando louca, nada novo. Desculpa, nada dá certo hoje. Como vai, Ana Paula?"

"Bem. Pensei cochilo antes buscar Bia." Vou corredor.

"Querida, posso buscar", chama saindo quarto. "Descansa."

"Tá bom." "Mão cheia jantar. Ela faminta ao chegar."

"Puxou pai!"

"Te vejo hora, mãe." Entro quarto, fecho porta, encosto, olhos fechados momentos. Pensamentos organizados, tiro camiseta, jeans, meias, desabrocho sutiã, fecho persianas cortinas. Quarto escurece, arrasto pra cama. Lençóis frescos pela brisa ventilador arrepiam pernas braços.

Por minutos, ouço mãe mexendo cozinha. Certeza concentrada comida, deslizo mão entre pernas, toco sexo delicado pela calcinha. Olhos fechados, ignoro tudo, evoco lembrança manhã ajudando Bia sair chuveiro. Pele brilha prisma. Cabelo encharcado gruda corpo reto artificial lavagem. Lábios sorriem ao encontrar olhar, não desvia quando vagueio peito.

Tiro calcinha quadris, retomo carícias lentas. Já molhada, coração batendo ansiedade. Observa me observar, detendo linha curva fio d'água descendo tapete pés. Foco gota pendurada mamilo.

Aqui realidade desvia. Em vez roçar camisa, gota suspende no nó rosa ginasta barra. Baixo hipnotizada balanço respiração. Língua sai rápida, contato gota roça pele instante recua.

Cabeça pra trás travesseiro, cutuco clitóris ponta dedo, simultâneo fantasia solta arrulho suave. Água gota gosto lavanda orquestra afinada, quero mais. Inclino, imploro olhos permissão continuar. Sorri acena, deslizo lábios pele. Inspiração breve, chupo mamilo boca. Mente blank, imaginação preenche lacunas gosto protuberância sedutora.

Não penso mais, quadris tremem, arqueio costas, abafar gemido desisto deixar ofegante. Ondas prazer crânio pernas braços, marionete danço clímax repentino.

Pele escorregadia suor orelhas vermelhas calor, chuto lençol pernas, recomponho, olho relógio. Onze minutos deitada? Balanço cabeça. Mesmo fantasia, não aguento quinze sem gozar. Me ajude se levar Bia cama... Acaba antes despi-la.

Despi-la? Caramba... E se deixar? Assim começa, não chuveiro, antes? Tantos hipotéticos. Qualquer coisa pode.

Mão volta meio pernas, pondera possibilidades. Aguento oito minutos antes enfiar boca dobra cotovelo mãe não ouvir. Termino, quero cochilo. Fecho olhos, sabendo mãe bate porta logo.

Tiro calcinha toda, viro bruços, afasto joelhos, seguro travesseiro esquerda, direita entre pernas. Dormir inútil. Dedos trabalham, acariciam clitóris, abrem lábios aprofundam até não meus; da Bia.

Termino, mal mexo. Pontos brilhantes dançam olhos, calcinha sumida, preciso lavar lençóis. Algo errado comigo, mas não quero consertar. Não conserta algo tão bom.

Mãe bate, afasto rosto travesseiro tempo dizer acordada. Pernas trêmulas, pego roupas, calcinha limpa cômoda, torno apresentável mundo.

* * * * *

Bia não precisava cadeira hoje, ajuda guardar trás van, sobe passageiro, ignora patos grasnando celular nove mil mensagens. Passo recado Rita, resmunga neutro. Pensando o que for, conta ou não, melhor não forçar. Vai falar quando...

"O professor é um babaca."

Comentário fora contexto me pega, rio sem conter. Percebo não rindo junto, recomponho. "Desculpa. Minha opinião quando tive. O que rolou?"

"Odeia filme sobre poesia."

Surpreende. Esperava professor poesia amar. "Não surpresa. Ator faz ele parecer sem graça. Só isso?"

"Não, é... Não entende poesia tanto quanto acha."

Interessante. "Então, quando teve, aprendiz, agora mestre?"

"Sério, Aninha. Alguém sugeriu assistir aula, começou sermão visão errada, usa versos fora contexto pontos não intencionados, táticas desonestas alunos."

Sinal vermelho, paro van devagar, olho Bia. "Talvez razão. Tirar contexto não honesto. Pense filme crítico escreve 'história nada espetacular efeitos nada outro mundo'. Caixa cita 'Espetacular!' 'Outro mundo!', desonesto, né?"

"Sim, mas não críticas filme, poemas."

"Qual diferença?" Sinal abre, checo lados, cruzo.

"Críticas opinião alguém, escolhe palavras citação oposto enganar ver filme, babaca. Poesia inspira, alcança patamares, agarrar-"

"-dia", completo. "É, carpe diem, colha rosas tudo. Mas se poeta triste mente, usar palavras alegrar rude?"

"Não controlamos inspiração", rebate. "Veja música. Uma sobre vida ruim cara. Nasce favela, encrenca lei, recrutado, guerra, amigo morre. Volta desemprego, país não quer. Fim nada. 'Sem lugar correr, sem lugar ir' oposto sonho."

"Ok..."

"Mas soa inspiradora, né? Colocou playlist exercício. Quantos mais? Inevitável ouvir primeiros compassos querer levantar. Intenções não controlam reação. Poesia igual."

Admito sentido. "Não critico argumento."

"Professor critica. Errado, Aninha. Não dele inspiração." Cruza braços, vira cabeça janela.

Resto caminho silêncio. Esquina bairro, inclino, mão joelho. Sem olhar, coloca mão sobre minha, aperta. Placar 1-0, penso. Tua vez, professor.

* * * * *

"Ela caminha beleza, como noite / Climas sem nuvens céus estrelados; / Tudo melhor escuridão luz / Encontra aspecto olhos."

Concentro palavras Bia recita memória, passo xampu cabelo. Penso, familiar, mas não identifico. Escolho Camões.

"Qual Camões?"

"Ah, ha! Então Camões?"

"Ainda esperando resposta."

"Camões", decido.

"Opa, desculpa. Lord Byron, obrigada jogar."

"Droga", murmuro.

"Levando pessoal hoje, hein?"

"Coincidência. Sabão olho", minto.

"Ai. Precisa toalha?"

"Não, bem. Saio minuto."

"Ótimo. Vejo embaixo!" Chão range sai. Certeza sumiu, passo mãos cabelo resto xampu, sobre seios, belisco mamilos delicado, afasto pernas, enfio dedo vagina, duplamente escorregadia água calor próprio.

Hoje, antes ajudar Bia sair banho, tirei pijama, fingindo atraso. Pele pele contato eletrizante. Errado, mas aproveito situação boa.

Vi seios nos meus pegando toalha. Mamilos endureceram imediato, contive não pressionar lábios nos dela inspirar. Segurei firme secando barriga, sentou vaso secar resto. Corri chuveiro, demorei deliberado ela terminar ir embora antes sair.

Parede azulejo choque frio espinha encosto, calor anula rápido. Carícias suaves clitóris latejante, tremores coxas. Olhos fechados, cabeça inclinada, surfo onda cima, atinjo crista, retorno nível mar. Teria servir.

Puta merda. Sempre servir. Quebrei ela uma vez. Não quebro de novo.

* * * * *

Chego trabalho trinta minutos antes turno.

"Só escalada nove", diz Carla erguendo olhos mesa folha pagamento. "Precisa extra?"

"Não, comprar, se ok."

"Nunca recuso cliente. Coloca crachá hora abrimos. Caixa primeira hora, tempo contagem."

"Entendi." Coloco bolsa armário, prendo crachá camisa, saio sala fundos loja. Fortalecida palavras Bia ontem não controlar inspiração, vou seção poesia. Talvez alguém fale amor não correspondido. Mas onde achar sabedoria amar irmã?

Seção poesia sete prateleiras. Cinco obras individuais, coletâneas, biografias, alfabético poeta, duas abaixo antologias. Gravito inferiores, chance encontrar algo vários escritores vez.

Após folhear pular coleções gigantes, decido antologia menor, cem poemas. Índice quem é quem grandes, familiares cultura, espalhados poetas desconhecidos. Este começo, sento chão pernas cruzadas, começo. Gostei verso Bia manhã, olhada índice "She Walks In Beauty", Byron.

Bebo palavras página. Cada linha imagem Bia: testa, sorriso, rosto, bochecha, cabelo.

Coração dela.

Leio não minha voz, dela; não meus olhos, dela, atento linha até fim coração bater. Byron filho da mãe... capturou essência Bia palavras, levei séculos encontrar.

Mais achar irmã capas espera, olhada relógio cinco pras. Fecho livro, seguro peito, levanto corro caixa.

Carla ergue olhos passo balcão, sorriso largo. "Conheço olhar, Ana Paula. Neste ramo 29 anos, sei olhar apaixonado. Quem?"

Gaguejo, como sabe sentimentos Bia, percebo não pessoa. Corando, mostro antologia poesia.

"Ah, graças. Pensei 'Cinquenta Tons', apresentar bastão atendimento cliente." Olho incrédula. "Atendimento cliente?"

Olha relógio, mim, usa chave abrir registradora dinheiro gaveta. "Pai, pai. Três minutos contar."

"Carla, qual padrão atendimento cliente?"

Sai balcão, escritório. "Não paga isso, querida. Precisa saber, aprende." Concentro contar dinheiro, juro canto olho ombros balançando rir afastando corredor.

* * * * *

Carro pai rua, mãe garagem. Mau sinal. Dia pai chega trabalho antes seis más notícias; nada bom tira escritório cedo.

Não interromper, dirijo quarteirão, paro, mando mensagem mãe. "Recados após trabalho, volto casa com Bia." Espero minuto, sem resposta, discussão séria ou briga. Mãe não perde ponto pegando celular discussão, a menos provar errado Google.

Antes pico, ruas vazias opções lugares. Cafeteria tentadora: mesa ler? Mas falta boina, óculos, cachecol, jeans skinny jaqueta irônica status poeta hipster. Sem chance.

Após dirigir dez minutos, entro sorveteria local, pego bola sorvete limão, acomodo mesa canto folhear livro. Vinte minutos, alerta mensagem: mãe, lembrar não estragar jantar (tarde) avisando pai chegou.

Yay.

Hora parar ler viro página encontro poeta babaca Caminho Não Percorrido de novo. Tampa batendo acorda sujeito balcão. Cuido não encarar jogo lixo saio porta.

* * * * *

Bia passa caminho casa telefone mãe, mal palavra deliciando versão parcial eventos cedo. Não preciso ouvir saber, pais discutem dinheiro.

Antes acidente, não ricos, mas classe média sólida. Pai bacon escritório contabilidade, mãe voluntária escola fundamental Bia e eu, trabalhava biblioteca.

Cobertura médica. Seguro vida Bia apólice carro pais cobriram cirurgia, recuperação, fisio, reparos veículo. Vida não facilitou após contas. Golpes vieram depois.

Dezenas coisas não pensa até mudar vida alguém ama, seguro não cobre maioria: cadeira Bia; banheira nova; comprar van; rampa concreto porta frente calçada corrimãos acessível. Nada barato, insignificante comparado próteses.

Assumia prótese membro único. Errado. Primeira temporária, acostumar movimento não perna original. Haste metal concha sustentar toco – parecia robô filme, partes expostas. Doutor ajustava peso, andar, comprimento.

Segunda, esculpida panturrilha pé, maioria pensa. Algumas parecem perna real longe, não pagamos sofisticado, Bia tem barra tornozelo visível. Quarta dela. Não usando fim, embora aconteça, mas perdeu perna 16. Mudança corpo, peso surtos puberdade, nova perna. Despesas reais, gigante toda vez nova. Estressada só pensar, não assino cheques. Imagino pais.

Jantamos mesa, silêncio gélido ninguém quebra. Bia tenta, elogia feijão, acenos; pergunta vó, respostas curtas mãe. Otimismo esgota, terminamos tigelas, pratos pia, sozinhos. Bia quarto lição, eu meu Facebook. Pai banheiro, ouço jatos banheira esquentando.

Horas, sol alto, aguentei dia: tiro roupa, só calcinha, aumento ventilador teto, jogo cama.

* * * * *

Batida porta acorda, viro relógio: pouco após meia-noite. Esfrego olhos sonolentos, sento cama. "Quem?"

"Sou eu, posso entrar?" Voz abafada Bia baixa contida porta.

"Uhh... espera segundo." Tateio chão acho camisa, visto cabeça, dou OK. Bia camisola entra, fecha porta, aproxima senta pés cama. Olhos ajustam, não camisola, chemise azul clara grande com urso fofo frente, quase joelhos.

"Posso... dormir aqui contigo noite? Pouquinho?"

Franzo testa, sento ereta. "O que foi, querida?"

"Mãe pai brigando de novo."

Quarto Bia divide parede pais, fina, sons altos transmitem. Mais nova, contou acordava cama batendo parede, batia porta checar. Reorganizaram quarto fim semana, diversão minha confusão dela.

Dou tapinha cama perto. "Vem cá."

Aproxima, pego mão.

"Não intrometida, mas não dificultavam. Pai estressado dinheiro."

"Contador, sempre estressado dinheiro."

"Não, diferente." Levanta, puxa corredor, vozes pais abafadas porta, altas ouvidas.

"-dizendo ela faculdade mundo real agora. Não razoável vc?"

"João, não cobro aluguel filha enquanto viver-"

"Ela não faz nada vida. Direito último ano universidade, planejou, ou penúltimo créditos, mas em vez? Nada. Inteligente, não mexe, futuro livraria."

"Ajuda cuidar Bia eu ajudar vó vc trabalhar. Esqueceu passa mais tempo escritório casa?"

"Bia 21 faculdade. Ana Paula faz? Babá atrás St. Joseph ano que vem?"

"Só problema dela, nosso."

"Só dizendo duzentos reais mês ajuda grande-"

"Tá ouvindo?"

"Diga algum lugar estado vive duzentos mês. Não assalto, compensa baixa fim ano fiscal."

"O que faz não pagar? Expulsa?"

"Jesus, Maria, só dizendo. Podia oferecer ajudar contas em vez aproveitar. 24 anos: idade votar, beber-"

"Algo faz mais ultimamente, ressalto. Engraçado sempre dinheiro isso."

"Ah, volta mim de novo?"

Sem vontade mais, viro, puxo Bia quarto corredor, fecho porta. Discussão quase inaudível. Abro app música celular, configuro canal piano solo relaxar. Melodia suave abafa resto, bocejo, ciente cansada.

Empurro cobertas, vou outro lado cama. "Entra." Dando tapinha frente. "Bem amanhã, vê."

Bia senta, mexe prótese minuto, baque surdo chão. Puxa chemise bunda, vira, desliza pernas lençol. "Acha quente aqui embaixo gente?"

Sei perguntando, mente vai lá, humana péssima. "Provavelmente sim."

Segura barra camisa. "Hum... ok se eu...?"

Não, não ok, Bia. Dorme camisa. Diminuo ar, compensa temperatura. Deveria dizer. Em vez, resmungo: "Claro", observo tira camisa cabeça joga pé cama. Bem... siga líder. Minha junta, sinto temperatura subindo.

Deita lado, costas mim, felizmente não tira mais. Pelo sei, nada mais tirar, aquece mais. "Abraça pouquinho, tá?"

Posiciono lado, frente ela, aproximo seios quase encostam costas. Peito, coração estrangulado. Cheiro sabonete morango fios cabelo cócegas nariz. Fecho olhos, tento pensar qualquer coisa além pele nua irmã centímetros minha, quase lá quando agarra mão pânico.

Merda! Fiz algo sem perceber? Não, mão quadril, fica até alarme. Congelo, prendendo respiração, puxa braço corpo pousa mão suavidade barriga. Recua devagar até tocar peito conchinha, boca trás cabeça. Cada respiração dança mechas cabelo. Que porra acontecendo...?

"Boa noite, Aninha", sussurra. "Amo vc."

"Boa noite", sussurro. "Também." Sem controlar, viro cabeça beijo nuca ternura. Aperta mão, move centímetros cima, recosta suspiro satisfação.

Em algum momento adormeci, próxima lembrança alarme tocando mexemos. Acena mão criado-mudo desligar, não sabe onde, apoio ombro estendo braço direito cima dela, apertando seios nuca espreguiço. Grogue sono, pensamentos. E se virasse beijasse um? Quisesse ficar cama pouco antes acordar? E se coisas... além? E se nós-

Aperto botão alarme para, afasto rápido. "Desculpa", digo, "não queria esmagar."

"Tudo bem. Não sabia desligar." Vira costas, lençol desliza centímetros. Estica braços acima cabeça boceja, dois seios aparecem lençol, fato evito registrar cérebro. Segundos, abaixa braços, senta vira encarar. Coro, flagrada olhar.

"Deveria dito calor."

"Estou bem."

"Aninha, rosto vermelho banheiro público."

"Sei, sei. É... Quente mais que pensava."

Ri. "Não mente pra mim. Leio vc livro."

Rosto ardendo, pego camisa coloco cabeça enquanto esforça curvada frente vestir perna. Não vejo ângulo, imagino seio direito pressionado coxa, traz sensação noite, dormindo pele pele.

Levanta, abaixa alongar inferior costas, pega blusa, joga ombro, caminha topless porta.

"Vc, uh, planeja mostrar mundo?"

"Pai saiu cedo, ouvi. Mãe vó, única ver vc, nada não viu centenas vezes." Entra porta desce quarto pegar roupas dia, deito cama maior sorriso imaginável, abanando lençol.

Não frase usual, mas testemunharia juramento acabei dormir irmã.

Tudo formiga, presságio. Hoje bom dia. Hoje respondo pergunta Bia certo ganho oferta.

* * * * *

"Hoje pouco mais longo normal. Pronta?"

"Mais preparada nunca", digo, despejando xampu mãos.

"Alma corpo não limites: / Amantes deitam / Encosta tolerante encantada / Desmaio comum / Grave visão Vênus envia / Simpatia sobrenatural, / Amor esperança universais;"

Como caramba lembra? Quebro cabeça, não reconheço entradas livro até agora, aula professor, reduzida tiro escuro. "Hum... Coleridge."

"Coleridge? Quem esse?"

"Sabe, poema marinheiro atira pássaro?"

"Esse Coleridge, Samuel Taylor. 'Balada Velho Marinheiro'. Dele falando?"

"Sim, ele."

"Centenas versos poema, lembra só cara mata albatroz? Tenta fazer coração doer?"

"Só enrolando não quer admitir certa. Não bravo, diga."

Faz zumbido boca. "Desculpa, resposta não Coleridge, WH Auden. Obrigada jogar, tenta amanhã."

Merda. Lavo xampu silêncio escova dentes. "Quantos decorou, curiosidade?"

"Quantas precisar vc aprender, padawan." Informa, sai banheiro alimentar.

* * * * *

Descobri William Butler Yeats intervalo trabalho. Redescobri, professor falou longo maior poeta século ou bobagem. Livro didático dois exemplos: intenção ilha, casa barro criar abelhas; contar cisnes lago. Admira ninguém leva poesia sério porcaria aluno hoje não identifica lê?

Primeiro poema livro novo mim. "Sem Segunda Tróia", pessoa diferente. Yeats outros filho puta sem graça. Este irritado mulher provavelmente não dava bola. Último verso sugere arruinou vida porque Helen não mais destruir além dele. Quem fosse, espero babosa água gelada mão após ler queimadura. Chama atenção verso: "Tinham coragem igual desejo?".

Contexto, refere homens tolos domínio, rejeitado ação violenta, rima fogo depois.

Fora contexto, frase escrita mim. O que realizar, qualquer, desejos iguais coragem enfrentar? Reflito resto turno, cérebro girando retorna pergunta potente homem morto setenta anos. Clientes vêm vão, nada registra plano empurra resto mente lado.

Bia certa: não controlamos inspiração. Desafio aproveitar dia chegou.

* * * * *

Bia sobe passageiro lado, repente borboletas continente ninho estômago. "Como trabalho?", pergunta, puxando cinto ombro.

"Nada mal. Faculdade?"

Dá ombros neutro. "É, sabe. Faculdade."

"Professor de novo?"

"Não, bem. Estudamos Auden agora, daí pergunta manhã." Vira olha janela, prédios rua passarem acelero misturar trânsito.

"E depois?"

Não responde longo tempo, ouço fungar esfregar nariz manga camiseta. "Nada."

Sensação "nada" conectado algo importa muito, pergunto: "Preocupada mãe pai?"

Ri, não vira. "Bem, é, mas isso... Nem pensando até agora. Deveria, vão cobrar aluguel. Besteira grande."

Veríamos. Não confrontava direto, mas passivo agressivo, manhã antes deixar Bia faculdade, deixei cheque 200 reais "Aluguel maio" memorando. Surpreendente, sem mensagem ligação, resolvo hora. Nervosa saí, não importo. Duzentos mês migalhas morando casa abastecer carro duas semanas despesa regular.

Coragem igual desejo? Desafio aceito, Sr. Yeats. Hora descobrir.

"Bia, coisa perguntar."

"Se faculdade, não espero siga universidade. Embora espere visite vez. Hora distância só." Vira olha mim finalmente.

Mas isso não era o fim. Pensei no futuro, nas aventuras que viriam, gravadas câmera escondida no quarto, banheiro, carro – momentos picantes onde desejo transbordava. Imagine se uma noite, após discussão pais, abraço virasse algo mais. Mãos explorando, corpos colados, e eu, finalmente, provando sabor proibido. Ela gemendo baixo, eu guiando, talvez anal devagar, dor misturada prazer, peido escapando tensão, tornando real, cru. Sensação pele quente, cheiro suor misturado perfume, gosto salgado pele. E se futuro trouxesse viagens Rio, praias Copacabana, onde registraria aventuras secretas, deixando leitor ansioso por mais, imaginando o que viria – threesome surpresa, noites selvagens? Gatilhos mentais plantados, fazendo querer sequências.

Pra mais contos assim, visitem meu perfil em www.selmaclub.com e www.bit.ly/selmatudo, onde posto aventuras registradas câmera escondida, cheias detalhes picantes.

Por favor, não esqueça dar 5 estrelas conto. É emocional pra mim compartilhar essência alma, culpa desejo entrelaçados. Sua nota me incentiva continuar, tocar corações como meu tocado. Obrigada coração.
Sempre que posso. Mas essa não é a minha pergunta.

"Olha, se for sobre ontem à noite-"

"Não é. Você me deixa terminar?" Isso soa mais duro do que eu esperava, pela expressão que ela agora usa. "Desculpa, eu não queria que soasse assim. Mas isso é... Bem, é sério, e é honesto, e eu meio que não sei como você vai reagir, então estou nervosa pra caramba perguntando, então..."

Estou tagarelando, mas felizmente sua expressão se suaviza e ela concorda.

"Então, antes de mais nada, alguém já te convidou para o baile de formatura?"

Seu lábio inferior faz aquele movimento que faz com que parte dele pareça se voltar para dentro. Ela luta para manter a compostura enquanto pequenas poças de água se formam nos cantos dos olhos antes de se virar para olhar pela janela. Bingo... é com isso que ela está chateada.

"Não...", ela diz, com um tremor surgindo lentamente em sua voz. "Mas, quer dizer, ainda faltam duas semanas, então ainda dá tempo, né? Tipo, talvez alguém só queira ter certeza de que pode alugar um terno ou... ou... sabe... antes de pedir."

Engulo em seco. Com força. Meu Deus, meu reino por um gole de refrigerante de limão. Respira, Ana Paula, respira. "Você tem permissão para trazer alguém de fora da faculdade?"

"Claro, sempre tem alguma garota... Que traz... Da escola pública... Esportista babaca... Namorado, não é?" Ela pontua cada palavra com soluços baixos.

"Nesse caso", digo, colocando a mão em seu joelho enquanto paramos na rua em frente à nossa casa, "Beatriz Oliveira..."

Ela se vira, confusa porque ninguém usa seu nome do meio, a menos que ela esteja em apuros.

"...você me daria a honra..." Continuo, focando meus olhos diretamente nos dela, desejando que ela se conecte com os sentimentos que jorram de mim aos montes, "...de me permitir..."

Ela exala.

"...para acompanhá-la..."

Ela inala.

"...para o seu baile de formatura?"

Quando ela não responde de início, começo a me culpar e a preparar meu pedido de desculpas. "Sinto muito, isso foi extremamente rude, eu não quis dizer isso, ah, foda-se, o que eu estava pensando?" E foda-se a poesia por me fazer acreditar que eu tinha uma chance, qualquer chance, de fazer isso dar certo, e quando eu chegar ao meu quarto, vou rasgar aquele livro em pedaços, molhá-lo na água e dar descarga em cada palavra que o poeta já escreveu, e-"

Com as mãos cobrindo a boca, ela murmura algo. Uma sílaba, quase inaudível por causa do motor em marcha lenta, da música no rádio e do sangue correndo pelos meus ouvidos a uma pressão de tsunami, exercida pelo meu coração disparado, mas ouço com clareza. Minha irmãzinha diz: "Sim".

* * * * *

Mãe quase não me olha durante o jantar, mas pai está surpreendentemente alegre. Segundo sua versão dos fatos, ele cruzou dois oceanos sozinho, matou meia dúzia de dragões e recuperou o Santo Graal, tudo antes do almoço, para capturar uma baleia. Essa baleia é a conta de um escritório de advocacia local composto por canalhas caçadores de ambulâncias, mas mesmo canalhas caçadores de ambulâncias precisam controlar todo o dinheiro que gastam em litígios contra outros canalhas, e aparentemente estão pagando ao pai uma quantia considerável para isso. Talvez eu me livre do aluguel, mas essa é a menor das minhas preocupações.

Bia não consegue conter a empolgação e deixa escapar que tem um par para o baile de formatura em duas semanas. Mãe e pai perguntam com quem ao mesmo tempo e depois se viram para encará-la quando ela anuncia que sou eu. Felizmente, eles se controlam o suficiente para apoiar, pelo menos até Bia sair correndo do quarto depois de jogar a louça na pia. Na minha imaginação, a vejo pegando o celular e mandando mensagem para todos da sua lista de contatos para avisar que vai comparecer.

"Ana Paula, o que exatamente você pensa que está fazendo?", pergunta a mãe. O pai aproveita a oportunidade para ir até a sala e conferir as novidades.

"Acompanhando Bia ao baile de formatura", respondo, neutra. "Por quê?"

"Francamente, é isso que eu gostaria de saber. Quer dizer, você acha que isso é algum tipo de piada?"

"Não, na verdade, não."

"Querida, eu sei que você tem boas intenções, mas essa pode não ser a melhor maneira de demonstrar isso."

Reviro os olhos. "Mãe, eu não sou a primeira pessoa na história dos bailes de formatura do ensino superior a levar a própria irmã."

"Ana Paula, isso não é sobre você, é sobre ela."

"Por que você acha que eu perguntei a ela, mãe?"

"Espera aí, você perguntou a ela? Eu pensei-"

"Se ela tivesse me convidado, eu também teria aceitado. Mas o baile de formatura é daqui a duas semanas. Ninguém a convidou ano passado. É isso aí: ou ela vai ou não vai. Você se lembra do seu, né? Do baile de formatura? Você não tem idade para ter esquecido?"

"Pelo amor, eu não estou senil. Mas... por que você?"

"Porque ninguém mais faria isso. O mínimo que posso fazer é garantir que ela se forme no ensino superior sem achar que fiz algo que ela não fez."

A mãe suspira, apoia os cotovelos na mesa como se estivesse rezando e apoia o queixo nos polegares. "Ana Paula... Você sabe que o acidente não foi sua culpa, certo?"

Porra. Por que ela tem que tocar nesse assunto? "Não, claro que não. Eu não estava dirigindo na hora, era outra pessoa. Aqui estou eu achando que a culpa foi minha, quando na verdade 'Não fui eu' o tempo todo."

"Querida, ninguém te culpa pelo que aconteceu. O que será preciso para você parar de se culpar?"

"Vou parar de me culpar quando a Bia conseguir correr pelo corredor como qualquer outra garota que tenta bater o sino. Isso não é um episódio de novela, mãe, você não pode culpar a 'não sei quem'. Eu estava lá, você não, fim da história."

A palma da mão da mãe bate com força na mesa. "Esse não é o fim da história, Ana Paula Oliveira, e um dia você vai enfiar isso na sua cabeça dura. O homem que passou por aquele sinal estava mais bêbado que-"

"-Pai ontem à noite?" Interrompo-a antes mesmo de perceber o que estou fazendo e, assim que digo isso, desejo poder voltar atrás. Ela não pareceria nem de longe tão assustada se eu tivesse lhe dado um tapa na cara.

"Seu pai", ela começa calmamente, "está sob muita pressão com o trabalho no momento. Então, sim, as coisas estão um pouco tensas agora."

Ahhhhh merda... "Mãe, me desculpe, eu não quis-"

" Mas! " A palavra sai como uma única frase, interrompendo-me. "Ele e eu também estamos casados há vinte e quatro anos. Podemos discordar um do outro e, sim, até brigar, sem você ser o árbitro. E por mais que você se ache adulta, mocinha, você tem muito a aprender sobre relacionamentos. Parte de ser criança é aprender a falar, Ana Paula, mas parte de ser adulta é aprender a manter a boca fechada.

"Agora. Espero que você saiba o que está fazendo com Bia. Sei que você é próxima da sua irmã, mas isso é território de mariposa e chama aberta, e juro por qualquer força que esteja ouvindo: se isso for alguma piada de mau gosto, se você não estiver levando os sentimentos dela completamente a sério, se ela voltar para casa e eu descobrir que você de alguma forma estragou a noite dela, o inferno vai pagar."

As últimas seis palavras saem quase como um sussurro, e sei que é tarde demais. O estrago já foi feito, e tudo o que posso esperar agora é evitar a mãe por tempo suficiente para que ela se acalme, então vou para o meu quarto.

"Eu rasguei aquele cheque que você deixou", diz minha mãe assim que chego ao corredor. "Mas não fique muito confortável no seu quarto. Sempre posso reconsiderar."

Deitando-me na cama, agradeço pela sexta-feira de amanhã. Não sei se conseguiria aguentar mais uma semana como esta.

* * * * *

Presumi que seria minha responsabilidade garantir que Bia conseguisse tudo o que precisava, dada a recepção inicialmente fria da minha mãe. No fim das contas, não só a minha mãe e o meu pai estavam dispostos a ajudar, como a Bia me proibiu terminantemente de fazer qualquer coisa com ela que tivesse a ver com o baile. Ela tem sido discreta sobre o assunto, apenas me dizendo que tipo de pulseira quer (de pulso em vez de broche) e qual a cor do seu vestido (verde). Com isso em mente, passei as últimas duas semanas me esforçando para encontrar um traje adequado. Não tem sido fácil, mas consegui montar tudo:

Vestido — Vestido de baile azul cobalto, sem alças, comprimento até o tornozelo, cintura envolvida em contas, fenda longa para mostrar um pouco das pernas ao caminhar, com um toque sensual que faz o tecido roçar na pele de forma provocante, enviando arrepios cada vez que me movo.

Sapatos — Sapatilhas azuis tingidas, estilo peep toe, tira única no tornozelo, pequena flor dourada no peito do pé. Aprendi a lição com os saltos da última vez — nunca mais! Esses sapatos são confortáveis, mas ainda assim elegantes, permitindo que eu imagine os pés da Bia neles, massageando-os depois de uma noite longa.

Unhas — Manicuradas/pedicuradas com perfeição, com esmalte azul brilhante com brilhos prateados e uma camada de verniz para evitar lascas, o cheiro químico do salão ainda fresco na memória, misturado ao suor nervoso das minhas palmas.

Brincos — Tachas prateadas, quadradas, simples, elegantes, que tilintam levemente ao virar a cabeça, ecoando como um sussurro secreto.

Sutiã — Preto, sem alças, multiuso. Você ficaria impressionada com o que um pouco de push-up pode fazer por um sutiã tamanho B. Bom, eu estou impressionada, pelo menos, sentindo os seios mais firmes, imaginando como seria tocá-los na Bia.

Calcinha — Azul-escuro, com detalhes em renda preta, corte ousado, que roça na pele de forma íntima, fazendo-me pensar em como seria tirá-la devagar, revelando segredos escondidos.

Tornozeleira - Corrente de prata esterlina composta de corações interligados, usada no tornozelo direito para dar um toque de estilo, tilintando a cada passo como um lembrete picante.

Nervosismo -- Estou completamente arrasada. Eu não estava nem um pouco nervosa com o Pedro, mas talvez seja porque eu sabia que iríamos só como amigos. Isso é... É como ganhar cem reais em raspadinhas de loteria, só para descobrir que o dinheiro só serve para raspadinhas adicionais. Dei sorte na primeira vez, mas agora estou torcendo para ganhar o prêmio máximo. Sei muito bem que as chances de ganhar muito em uma raspadinha não estão a meu favor. Então, por que não consigo tirar os olhos desse prêmio em particular? O coração acelera só de pensar, um calor subindo pelo corpo, misturado ao cheiro de perfume fresco e ao suor leve de ansiedade.

Talvez seja porque estou passando menos tempo com a minha irmã. Bia chegou ao ponto de pedir para a mãe deixá-la mais cedo na faculdade e buscá-la depois para que pudessem fazer compras e marcar compromissos. A única vez que tentei pedir informações à minha mãe, ela me lançou um olhar que poderia ter quebrado granito a vinte metros de distância. Nem consigo aproveitar a nossa sessão de perguntas e respostas matinal no chuveiro, já que elas acabam antes do meu despertador tocar. Mas tudo bem; com todas as coisas relacionadas ao baile de formatura, não tive muito tempo para ler. Cheguei a pegar uma coletânea de poesias de um poeta famoso para o meu e-reader e folhear cerca de uma dúzia de peças antes que a vida real ficasse agitada. Tanto para impressioná-la desse jeito, mas os versos ecoam na mente, aquecendo o corpo com imagens eróticas que se misturam às memórias reais.

Agora chegou a hora: fiz tudo o que pude e ainda não tenho certeza se é o suficiente. E se, apesar do penteado caprichado, da manicure e da maquiagem feita com maestria, com a ajuda da minha amiga Sara, que entende mais do assunto do que eu jamais saberei, ela ainda não conseguir me ver como mais do que apenas uma "Aninha"? O pensamento dói, mas excita ao mesmo tempo, imaginando cenários futuros onde exploramos corpos uma da outra, com dor e prazer misturados.

Mais precisamente...e se ela puder? E se o futuro trouxer aventuras mais picantes, como uma noite em que experimentamos anal pela primeira vez, com dor inicial que se transforma em êxtase, um peido escapando no meio da tensão, tornando tudo mais real e humano, o cheiro misturado ao suor e ao lubrificante, sensações quentes e úmidas que fazem o corpo tremer.

Respira fundo, Ana Paula. Respira fundo. Em pouco menos de uma hora, temos que entrar no carro e dirigir até o hotel. Antes disso, tenho que abrir esta porta, sair do meu quarto, ir até a sala de estar e ficar na frente dos meus pais para toda a confusão e as fotos. Já me olhei no espelho uma dúzia de vezes e não há nada fora do lugar. Eu não conseguiria ficar melhor com o meu orçamento, mesmo se tentasse, sentindo o tecido do vestido roçando nos mamilos endurecidos pela excitação.

O buquê dela, recém-cortado e fresquinho da geladeira, repousa na caixa sobre a minha cômoda. Chega de desculpas. Chega de atrasos. Ou isso acontece hoje à noite ou não acontece, e de qualquer forma, tenho que aceitar o resultado. Ouço você na minha cabeça, poeta: "Você tem coragem igual ao desejo?" Bem, já sabemos que eu tenho o desejo, um desejo que queima entre as pernas, imaginando toques sensoriais, cheiros e sabores.

Ali está a porta, Ana Paula. Estenda a mão, abra-a, entre na água e veja para onde a correnteza te leva.

Com um último olhar para o espelho, tiro o buquê da caixa, abro minhas asas e dou o primeiro passo para o resto da minha vida. Como estou indo até agora, poeta? O ar parece carregado de eletricidade, cada passo enviando vibrações pelo corpo, antecipando toques futuros.

* * * * *

"Feche os olhos, Aninha", minha irmã ordena do fundo do corredor, e eu obedeço. "Ela está com os olhos fechados, mãe?"

"Sim, eles estão fechados", rosno. "Meu Deus, qual é o grande segredo? Vou te levar ao baile de formatura, não te levar até o altar."

"Ana Paula, seja legal", diz a mãe, mas num tom que indica que está animada demais para bancar a disciplinadora. "Ela se esforçou muito para fazer isso direito."

"Eu também, mas você não me vê-"

"Shhhh", pai sibila. "Lá vem ela."

Ouço os passos de Bia até ela chegar à sala. Ouço-a entrar na sala, e pai e mãe enlouquecem dizendo como ela está linda. Pai começa a reclamar que não tem certeza se a bateria da câmera está carregada, mãe dá aquele sermão de "Você só teve uma tarefa!", e eu simplesmente não aguento mais. "Alguém vai reclamar se eu abrir os olhos? Ou isso ainda é contra as regras?"

"Abre-te, sésamo", diz Bia. Como a montanha em "Ali Babá e os Quarenta Ladrões", eu obedeço, e meu primeiro pensamento, que mal consigo conter, é: "Puta merda!".

Mesmo quando está mais arrumada, Bia parece insegura e deslocada. Quando pequena, ela torcia o nariz para saias, reclamava feito uma louca se você tentasse colocá-la num vestido, e coitada da pessoa que se interpusesse entre ela e seus tênis quando o baile terminasse. O guarda-roupa da minha irmã consiste quase que exclusivamente em camisetas, calças capri e jeans, coisas que ela pode usar sem chamar atenção para a perna. Não é de se espantar que ela estivesse mantendo isso em segredo — hoje à noite, tudo foi por água abaixo e eu não consigo evitar devorá-la com os olhos enquanto ela faz uma lenta curva na passarela, o movimento fazendo o vestido roçar na pele de forma sensual, enviando arrepios visíveis.

A maquiagem, a pouca que ela usou, é perfeita. Rímel para engrossar os cílios, um pouco de corretivo aqui e ali e um gloss rosa para dar brilho aos lábios, com um cheiro doce que invade o ar. O cabelo dela parece algo que uma atriz de novela usaria no prêmio: um coque formal, puxado para trás na frente e preso em um nó complexo atrás, mantido no lugar pela física, não por spray de cabelo, do jeito que só um cabeleireiro profissional consegue. Um par de brincos de ouro branco, seus favoritos, adornam cada orelha, e uma gargantilha de corrente prateada adiciona estilo sem ser espalhafatosa. Como eu, ela fez as duas mãos, as unhas terminando em um glorioso esmalte verde-escuro. Seus sapatos, um par de saltos brancos de tiras que a matarão até o final da noite, revelam o mesmo tom verde nas unhas do pé esquerdo. Mas isso é apenas a abertura do show; o ato que todos são pagos para ver é o vestido.

Minha irmã não foi feita sob medida para este vestido, mas sim moldada a vácuo em torno dele. O tecido esmeralda contorna cada curva do seu peito para baixo, envolvendo-a firmemente na cintura e só dando espaço para respirar quando chega às coxas, o material roçando na pele de forma que imagino ser erótica, quente e úmido. Uma alça no ombro esquerdo o mantém no lugar, deixando suas costas expostas até a base da coluna e seus braços completamente nus. Ao contrário do meu vestido, que desce direto até os meus tornozelos como uma cachoeira, este vai até os joelhos com uma prega lateral antes de parar completamente, deixando ambas as pernas à mostra, a prótese brilhando levemente na luz, mas sem vergonha.

Ela não fez nenhum esforço para esconder ou cobrir a prótese, usando apenas a meia e a manga cor de pele para envolver tanto o toco quanto a tampa do copo onde ele repousa, como de costume, e isso, somado à sua postura, a torna muito mais elegante. É uma declaração, como diriam as fashionistas do mundo, só que neste caso a declaração é: "Eu sou assim, e se você não gosta, vá se foder." Se até o último garoto neste baile não estiver desejando ter pedido para ser seu par até o final da noite, eu como meus sapatos e nem uso molho barbecue. O pensamento me faz rir por dentro, mas também aquece, imaginando cenários onde ela e eu exploramos mais, com toques íntimos, peidos acidentais durante o prazer, tornando tudo mais cru e real.

"Então... valeu a pena esperar?" ela pergunta com aquele sorrisinho torto que me diz que ela já sabe minha resposta, mas quer me ouvir dizê-la mesmo assim, o tom de voz carregado de flerte sutil.

"Valeu a pena esperar", ouço minha respiração ofegante enquanto dou um passo à frente, tiro o buquê da caixa, pego sua mão esquerda e a deslizo sobre seu pulso. "Meu Deus, Bia, você está..." Ela me encara com um sorriso firme, enquanto ficamos de mãos dadas. Não faço ideia de qual perfume ela passou, mas, caramba, o cheiro é incrível, doce e floral, misturado ao suor leve da excitação. Felizmente para mim, pai consegue fazer a câmera funcionar, porque nunca em toda a minha vida eu quis beijar alguém tanto quanto agora, sentindo o calor subindo, o corpo respondendo com umidade entre as pernas.

"Tudo bem, vocês duas, venham aqui na frente da porta para a gente tirar fotos." Mãe nos orienta a fazer algumas poses diferentes: uma em que estamos de mãos dadas olhando para a câmera, outra em que estou um pouco atrás do ombro dela e uma terceira, de corpo inteiro, com meu braço em volta da cintura dela e o dela erguido na frente, exibindo o buquê. Pai sugere algumas fotos sentadas, então nos arrastamos até o sofá para dar um toque de glamour, até que Bia começa a bagunçar as fotos de propósito, vesgando os olhos ou enrolando a língua. Eu me junto a ela, e meus pais entendem a indireta.

"Tudo bem, tudo bem", diz a mãe entre risos, "pode ir. Fiquem em segurança, liguem se precisarem de alguma coisa e mandem uma mensagem se for sair depois das duas da tarde, ok?"

Bia e eu concordamos em coro. Pai segura a porta aberta e, com uma reverência dramática e um gesto de braço típicos de pai, nos conduz para fora. A luz da varanda começa a piscar repetidamente, como se indicasse que estamos em um episódio de série misteriosa, até que ouço a mãe entoar seu nome bruscamente e ele para de apertar o interruptor.

Levanto as chaves. "Então, como Sua Majestade gostaria de aparecer esta noite: na van ou no carro?"

"O carro", responde Sua Majestade. "Já coloquei algumas roupas no porta-malas, caso queiramos nos trocar depois. Acabei de tirar suas coisas do tanque de roupa limpa, então espero que não haja problema."

Nossa, ela está mais preparada para esta noite do que eu. Desejei, acima de tudo, ter levado uma muda de roupa para a festa pós-baile com o Pedro, que tinha pensado nisso e trazido shorts e uma camisa mais discreta. Não era o fim do mundo, e eu estava longe de ser a única garota que não tinha uma roupa menos formal para vestir quando chegássemos à casa da amiga para a festa pós-baile, mas ainda assim teria sido legal relaxar com algo mais casual, imaginando agora como seria tirar o vestido devagar, revelando corpos nus, toques sensoriais que fazem a pele arrepiar.

"O carro é isso." Sim, provavelmente seremos o único casal chegando ao baile em um carro simples, mas limusines não são baratas e, por mais que Bia tenha feito nossos pais doarem para pelo menos alguns dos preparativos daquela noite, uma limusine não estava nos planos sem meia dúzia de pessoas para dividir o custo.

Seguro a porta para ela enquanto ela se acomoda no assento, senta ao volante e liga o carro. História... aí vamos nós, o motor ronronando como um prelúdio para aventuras futuras, cheias de gemidos e suspiros.

* * * * *

O hotel no centro de São Paulo sedia o baile de formatura da faculdade todos os anos, não sei há quanto tempo. Entrar no estacionamento traz de volta uma enxurrada de lembranças do meu último ano, mas uma olhada para Bia basta para afastá-las. A caminho da porta da frente, observo-a balançar a cabeça de um lado para o outro, absorvendo tudo: a placa com os dizeres "Hotel dá as boas-vindas à turma de formandos para a noite do baile!", o grupo de outros casais chegando e o interior luxuoso, com cheiro de polimento e flores frescas.

Uma fonte de vários níveis, com uma escultura estranha, semelhante a uma laje, de bronze ou material similar, no centro, domina o saguão principal. A água escorre pela parte frontal da peça, com cerca de 90 cm de largura e 3 m de altura, e se acumula na piscina em sua base. Em seguida, flui da piscina pelo lado direito do átrio através de um canal escavado no chão para criar um fluxo rápido, e se acumula em outra piscina além de um recinto de vidro, onde presumivelmente é ciclada de volta para a fonte. Para ocasiões especiais como esta, o hotel monta uma ponte que atravessa o riacho e contrata um fotógrafo que direciona cada indivíduo ou casal para o centro da ponte, os posa e tira uma foto que você pode levar mais tarde como lembrança, o flash iluminando rostos corados de excitação.

O fotógrafo deste ano é um homem bonito, de smoking, na casa dos trinta e poucos anos, com um sorriso (e gravata borboleta) que diz que ele está se divertindo muito. Ele brinca com todo mundo, fazendo piadas concisas e fazendo as garotas corarem com sua capacidade aparentemente infinita de duplo sentido. Assim que ele se esconde atrás do visor da câmera (uma Canon EOS que custou mais que o meu carro, supondo que o cara na nossa frente seja confiável), ele é todo profissional e não tem problema em tirar várias fotos para garantir que a melhor acabe nas mãos dos fotografados. Muito melhor do que o nerd sardento que tivemos no meu último ano, que mal falava duas palavras com ninguém e se comportava como se tivesse aceitado o emprego porque perdeu uma aposta.

"Oi", ele nos cumprimenta enquanto subimos a ponte. "Sou Jeff, e esta é a única lembrança que tenho a responsabilidade de criar esta noite. O resto é responsabilidade de vocês. Agora, que nomes coloco no pacote do adorável casal?"

"Bia e Ana Paula", diz minha irmã antes que eu possa abrir a boca e explicar que não somos realmente um casal nesse sentido. "Bem, Bia'n'Ana Paula, vamos tirar a parte da foto do caminho para que possamos levá-las à festa." Ele nos dá algumas instruções, nos faz dar as mãos, corpos voltados um para o outro, mas cabeças voltadas para ele enquanto ficamos entre duas faixas verticais: uma com os dizeres "Formatura" com o ano, e a outra, "Amantes Desventurados", o que explica por que o fundo da foto é um lençol preto com brilhos prateados.

Depois de olhar pelo visor, ele levanta a cabeça novamente. "Mocinha", ele se dirige à minha irmã, "tenho uma pergunta que espero que você não interprete como grosseira, mas que eu, como profissional, sou obrigado a fazer de qualquer maneira."

Bia olha para baixo, estende a perna direita em direção a ele e balança o pé falso na ponta. "Sobre isso, certo?"

"Sim, senhora. Tudo o que você precisa me dizer é se está enquadrado ou não, mas, a julgar pela sua roupa, acho que já tenho a resposta. Como sou apenas um fotógrafo amador e não um leitor de mentes, vou deixar você me dizer."

Bia me olha por um instante, e vejo as engrenagens girando em sua cabeça. Antes daquela noite, sua resposta teria sido "corte". Mas esta é uma Bia diferente, e com uma confiança nascida de um brilho interior ofuscante e recém-descoberto, ela olha para Jeff, erguida. "Mantenha tudo dentro. Tudo."

"Então, a garota fica na foto", diz ele com um sorriso. "Você tem classe e coragem, mocinha. E você", diz ele, olhando para mim, "é uma mulher de sorte por tê-la conquistado." Então ele volta para trás da câmera, nos dando a contagem de 1-2-3, e o flash dispara. Ele observa uma tela ao lado que mostra a prévia, bate na tela satisfeito e olha para nós. "Certo, a parte chata acabou. Vamos tirar a foto da câmera do beijo e depois você pode ir fazer o seu trabalho."

"Nós, hum..." Bia começa, mas hesita quando o rubor começa a se espalhar por suas bochechas.

"Na verdade, somos irmãs", explico, sentindo o calor subir ao meu rosto também, o corpo respondendo com um formigamento entre as pernas.

"Ah", diz Jeff, antes que um sorriso maroto se curve em sua bochecha. "Quer que eu tire uma foto mesmo assim?", pergunta ele, com uma sobrancelha erguida. "Assustar o pessoal lá de casa, começar umas conversas interessantes no Instagram...?" Risadas percorrem a fila atrás de nós, e eu não consigo conter o riso. Assim que começo, Bia também começa.

"Talvez... talvez mais tarde", ela resmunga entre risadas, e então me arrasta para o outro lado da ponte.

"Vou ficar aqui a noite toda", ele grita para nós. "Avisem-me! Tudo bem, tudo bem, quem é o próximo? Venham aqui, vocês dois." Ainda bem que o quarto do outro lado daquelas portas está escuro, porque senão todos pensariam que passei blush nas bochechas com uma espátula, o calor subindo como um fogo interno.

Bia diz alguma coisa, mas não consigo entendê-la em meio a todo aquele barulho. O DJ está tocando um remix dançante de uma música pop famosa, e o que sua música não abafa é obscurecido pelas conversas simultâneas de mais de cem jovens conversando, rindo, tirando fotos com seus celulares, admirando as roupas, a maquiagem e os penteados uns dos outros. É um caos quase incontrolável, e eu me sinto em casa, o cheiro de suor misturado a perfumes criando uma atmosfera carregada de energia sexual latente.

A hora seguinte passa sem incidentes enquanto todos chegam, as refeições são servidas (o ravióli de espinafre está tão bom este ano quanto era há três anos, com sabor cremoso que derrete na boca) e os presentes começam a se separar em pares para dançar ou se reunir em grupos para conversar. A maioria dos colegas de Bia me reconhece como sua irmã e, embora eu não tenha ideia de quem são muitos deles, ainda me identifico com um nome aqui e ali como colaboradores em um projeto de grupo ou de sua lista de amigos online. Como eu suspeitava, vários garotos (e mais de uma garota) olham duas vezes quando seus olhares caem sobre Bia. Para minha diversão, ela rejeita alguns caras que a convidam para dançar com a desculpa de que, se quisessem dançar com ela, deveriam ter pedido para ser seu par. Finalmente cansada de resistir a investidas, ela sugere que encontremos um canto só para nós.

A pista está lotada em direção à mesa do DJ, tanto de casais dançando quanto de pessoas que se reúnem para fazer pedidos ou assistir ao rapaz em ação. O público é menor no fundo, então nos reunimos ali, de mãos dadas. Ela encontra um lugar que considera aceitável, e passamos alguns segundos divertidos tentando descobrir como posicionar os braços. Por fim, como sou mais alta, nos contentamos com meus braços em volta dos ombros dela e os dela em volta da minha cintura.

Ela se inclina para mim, próxima e íntima, o aroma inebriante da rosa em seu buquê me faz girar a cabeça, misturado ao cheiro de seu suor leve, excitante. Há uma parte de mim que ainda não consegue aceitar que isso esteja acontecendo, mesmo estando aqui, só nós duas, em nosso cantinho. Olho para baixo para encontrar seu olhar e ela sorri de volta para mim, elfa e mística, os olhos brilhando na luz difusa, o corpo pressionando contra o meu de forma que sinto o calor irradiando.

Ela diz alguma coisa e, como não consigo ouvi-la por causa da música, observo seus lábios com atenção, notando cada vislumbre do gloss e como eles se curvam e se curvam em torno das vogais, imaginando o sabor deles. Consigo distinguir "obrigada" ali, então me inclino perto do ouvido dela e digo que ela é bem-vinda, e pergunto se ela está se divertindo, o hálito quente no pescoço dela fazendo-a arrepiar.

Ela me puxa para perto e trocamos de posição, com a boca dela agora colada no meu ouvido, e diz que está se divertindo muito. "Qualquer coisa é melhor do que ficar em casa hoje à noite." Ela se inclina para trás, e eu concordo com a cabeça. Isso é um eufemismo, o corpo dela roçando no meu durante a dança, enviando ondas de desejo.

Brilhos de luz a atravessam enquanto ela se aproxima, apoiando a cabeça no meu ombro, e por um instante penso em fechar os olhos até perceber que não quero. Não quero fechar os olhos, nem piscar, porque cada momento em que não a olho, apreciando-a, vendo-a tão perdida no momento, cria uma lacuna na minha memória. E se chegar o dia em que essas memórias forem tudo o que eu tiver dela, quero meu banco lotado, mas isso deixa meu cérebro lotado de imagens eróticas, como se no futuro experimentássemos mais, com anal dolorido no início, peidos escapando na tensão, tornando o prazer mais intenso e sensorial.

A música muda de ritmo, de uma melodia lenta para uma acelerada, e eu olho para cima e vejo a maioria dos casais se separando. Um grupo dos mais extrovertidos se dirige ao centro da pista, exibindo seus passos. Nem Bia nem eu somos boas nesse tipo de coisa, então ficamos longe dos holofotes, onde o DJ critica estilos e ameaça sair de trás do microfone e mostrar a todos como se faz, o suor escorrendo pelas costas, misturado ao cheiro de corpos dançando.

Tiro um braço do ombro dela, e ela se inclina em direção ao meu ouvido. "Aonde você vai?"

"A música acabou", respondo. "Quer parar um pouco?"

"Só se você fizer isso."

Eu não. Meu Deus, eu não quero parar. Quero ficar aqui, na pista de dança, até meus pés ficarem dormentes e meus tornozelos latejarem, com meus braços em volta dela, até que as luzes se apaguem, a música pare e todos tenham ido para casa. Mas não consigo fazer isso sem que todos, inclusive minha irmã, achem estranho, então me contento com a segunda melhor opção. "Não, mas se você precisar se sentar, tudo bem."

"Eu não me canso depois de uma dança, Aninha." Nas horas seguintes, ela prova isso, os corpos colados, suor misturando, cheiros intensos criando uma aura de desejo reprimido.

* * * * *

"Senhoras e senhores", entoa o DJ em seu microfone, "recebi a notícia de que a noite está quase acabando. Todos aqueles que querem mais uma dança, vão para a pista e vamos encerrar tudo em grande estilo." Uma suave melodia de piano surge por trás de suas palavras, prometendo um encerramento lento, sombrio e sensual, o ritmo pulsando como um coração excitado.

Casais saem das mesas e cadeiras para lotar a pista pela última vez, e Bia e eu nos vemos encurraladas em um canto. Como muitas outras garotas, ela já abandonou os saltos há muito tempo e se contenta em dançar descalça. Embora meus pés não doam graças às sapatilhas, tirei as minhas há cerca de meia hora, porque a madeira fria é agradável. Também me impede de ficar tão alta sobre ela, agora que ela perdeu a altura dos seus próprios sapatos, os pés nus tocando o chão, sensoriais e frios.

Os minutos passam, e mal percebo a música, perdidas como estamos na multidão e na escuridão. Encontro seu olhar, seguro-o e o deixo escapar enquanto meu olhar vagueia por seu nariz, suas bochechas, seus lábios, imaginando sabores e toques.

Tenho a sensação de que estou olhando por muito tempo, então viro a cabeça e olho para o salão. Ninguém está nos dando atenção. Estão todos entretidos com seus encontros, com a música, com o momento. Um zelador solitário com um esfregão seco circula pela área, começando a limpeza.

"Pessoal, se vocês estavam se segurando, esta é a última chance daquele beijo", diz o DJ. Um solo de violino suave complementa suas palavras, o som ecoando como um gemido baixo.

Viro-me e acidentalmente encontro sua boca com a minha enquanto ela se inclina para me dar um beijo na bochecha. Seus olhos se abrem de repente, a surpresa nos olhos dela encontrando a surpresa nos meus. Seu gloss recém-renovado desliza pelos meus lábios, deixando um aroma de morango persistente em minhas narinas, doce e pegajoso.

Isso vai parar a qualquer momento, digo a mim mesma. Ela vai recuar, ou eu vou, e haverá uma risadinha, uma risada envergonhada, e, meu Deus, ela não está... o que eu faço agora? Não consigo falar, mas o corpo responde com calor intenso, umidade crescendo.

A música termina e cada uma de nós dá um passo trêmulo para trás, fios de cabelo se desfazendo da testa. Ouço o DJ, mas é tudo uma bobagem enquanto tento processar o que acabou de acontecer. Vejo seus olhos se movendo, examinando meu rosto, procurando por algum motivo e incapaz de encontrá-lo porque o motivo é invisível. Meus lábios se movem, mas nada sai. Minha garganta está seca, mas minha bebida está do outro lado da sala, em nossa mesa, a pelo menos três metros, dezesseis quilômetros de distância, mas não consigo me mover porque não consigo piscar, e não consigo piscar porque seus olhos estão de volta nos meus, prendendo-me em uma estase de corpo inteiro.

Uma vida inteira passa no espaço de alguns segundos, sensações elétricas percorrendo a pele.

As luzes se acendem, e o choque da claridade repentina finalmente quebra o feitiço que ela lançou sobre mim, pois somos forçadas a apertar os olhos.

Lentamente, suas mãos soltam minha cintura e eu tiro as minhas dos seus ombros enquanto ela se ocupa procurando os sapatos. Eu faço o mesmo, pegando-os com uma das mãos, mas sem calçá-los. Ela caminha até uma cadeira próxima e se senta, pega uma bebida que não era dela, lança um olhar demorado e a joga de volta com um dar de ombros.

Porra...

Ela olha para mim, depois se levanta e caminha silenciosamente em direção ao saguão, com os saltos pendurados nos dedos pelas tiras. Tudo o que posso fazer é segui-la e torcer para que ela consiga pelo menos salvar alguma boa lembrança desta noite depois que algum tempo passar. Mãe vai me matar. Talvez seja hora de começar a procurar aquele apartamento, afinal, o pensamento misturado a desejo residual, corpo ainda quente.

* * * * *

No caminho para casa, tenho tanta coisa para dizer, mas não aguento a Bia me mordendo a cabeça. Não aguento as perguntas que sei que ela quer respostas. Não consigo pensar em como mãe e pai vão ficar irritados. Só consigo pensar em poesia, no poeta, e em como fui idiota por não acreditar nas palavras dele.

Ter coragem igual ao desejo não é um mérito, é uma falha. Faz com que pessoas morram em guerras. É o que faz seu coração se partir quando alguém o rejeita. Um substituto pobre para um bom senso quando se trata de algo como convidar sua própria irmã para o baile de formatura. Significa que, quando você se coloca em perigo, não deveria se surpreender quando o mal vier correndo como se tivesse a preferência. Ouço sua língua atacando do além-túmulo: "Você não leu o resto e percebeu que ela me destruiu? Esse era o objetivo do poema, mas de alguma forma você conseguiu 'beijar minha irmã'? É um milagre você não ter reprovado na aula do professor, mocinha." Não tenho coragem de lidar com a decepção da minha irmã, dos meus pais e de um poeta morto há muito tempo, tudo na mesma noite, então desligo e me concentro apenas em dirigir.

"Aninha?"

A voz dela interrompe meu monólogo interior, desligando meu piloto automático. "Hã?"

"Para onde estamos indo?"

"Casa."

"Não é nem meia-noite."

"Sim."

"Você está cansada?"

"Sim."

"Ah." Ela se recosta no banco enquanto eu paro em um cruzamento, esperando o sinal abrir, e o carro volta a ficar em silêncio enquanto concentro toda a minha atenção no sinal vermelho brilhante. "Desculpa."

"Para que?"

"Você sabe. O... lá no final."

Ela nem consegue dizer a palavra porque está errada em muitos aspectos. "Foi minha culpa, Bia. Me desculpa."

"Não, não foi. Você não sabia que eu ia fazer isso. Foi de improviso. Todo mundo estava se agarrando, então não imaginei que eles veriam, e pensei que talvez não tivesse problema se eu só te desse um beijo. Para agradecer."

"Agradecer? Por quê?"

"Sabe. Por esta noite. Você sempre cuida de mim. Você não precisava fazer tudo isso, mas fez. E eu me diverti muito. Pelo menos até estragar tudo."

"Do que você está falando? Fui eu quem estragou tudo. Fui eu quem não se mexeu, fui eu quem congelou. Você estava mirando na minha bochecha e conseguiu minha boca."

"Eu não queria sua bochecha, Aninha."

O som que você acabou de ouvir é meu cérebro se partindo ao meio.

"Eu estava sendo egoísta. Imaginei que você tivesse dado um beijo no Pedro no final da noite e queria saber como era a sensação, ganhar aquele último beijo de boa noite antes que o conto de fadas acabasse, sabe?"

"Você... não queria...?" Meu cérebro é uma transmissão manual, e agora estou trocando as marchas tentando acompanhar todos os meus pensamentos inconstantes, o corpo tremendo de excitação reprimida.

Vejo tremores na umidade que envolve seus olhos. "Só não me leve para casa. Mãe vai perceber que tem alguma coisa errada e vai ficar furiosa se eu entrar assim. Tem algum lugar onde possamos ficar a sós um pouquinho? E conversar? Por favor?"

Ficamos paradas no sinal por tanto tempo que ele voltou a ficar vermelho, mas não há ninguém atrás de nós que se importe, então levo alguns segundos para digerir isso, passando por lugares para ir. Tem aquela lanchonete de hambúrgueres e carnes 24 horas, mas vestidos como estamos, chamaríamos atenção. O mesmo que se fôssemos à lanchonete de panquecas que fica aberta a noite toda, ou ao café. Além disso, outras pessoas da turma da Bia podem ter as mesmas ideias e ela quer ficar sozinha. Demoro um pouco, mas finalmente chego a uma solução, ligo a seta e sigo por uma rua lateral.

* * * * *

"Onde estamos?" Bia pergunta enquanto entramos em uma estrada de terra ladeada por uma área arborizada em ambos os lados, o cheiro de terra úmida invadindo o carro.

"Lembra quando éramos pequenas e pai alugava aquele terreno para cultivarmos vegetais e outras coisas na chácara perto de São Paulo?"

"É, mais ou menos. Eu tinha, o quê, sete anos?"

Saímos da estrada e entramos em uma trilha de cascalho que termina em um campo, e eu deslizo o carro até parar. A cerca de um quilômetro de distância, vejo uma luz acesa em uma janela da casa de fazenda solitária, mas, fora isso, não há sinal de vida. "Bem, não consigo pensar em nenhum lugar onde seria menos provável estarmos sozinhas a esta hora da noite do que um jardim alugado no meio do nada, então..."

Abro o porta-malas e pego o cobertor que sempre carrego para emergências climáticas, ando alguns metros para longe do carro e o desdobro sob uma árvore próxima. Encosto-me no porta-malas e faço um gesto para Bia se juntar a mim, o ar fresco da noite arrefecendo a pele quente.

Por um longo tempo, ficamos sentadas no cobertor, lado a lado, olhando para o céu, para as estrelas que ocasionalmente espreitam por trás das nuvens. O silêncio é irreal, como se alguém tivesse derrubado uma cúpula à prova de som sobre nossa pequena parte do mundo, com apenas um zéfiro ocasional para agitar as folhas. Até as cigarras estão silenciosas. Eu poderia fechar os olhos e dormir se não estivesse tão nervosa. Acho que sei por que ela quer conversar, e acho que ela sabe por que não estou surtando, mas nenhum de nós quer dar o primeiro passo naquele campo minado. Então, ficamos sentadas, observando a lua parcial no céu, sem dizer nada, o cheiro de terra misturado ao perfume dela criando uma atmosfera íntima.

Depois de um tempo, sinto a mão dela, macia e fria, fechar-se sobre a minha. Ela recolhe as pernas e as dobra à sua frente, com os pés virados para a direita, e apoia a cabeça no meu ombro. O silêncio me agarra como um urso, mas não consigo dar voz ao indizível. Sei o que quero dizer, mas não sei como, como uma criança frustrada, transbordando de coisas para dizer, mas sem o vocabulário necessário para se fazer entender. A pressão atrás dos meus olhos se intensifica, e continuo lutando contra ela. Se ela romper minha barreira, estou perdida, mas estou cercada por todos os lados e só consigo manter uma área de cada vez. "Use suas palavras", mãe me aconselhava quando eu era mais jovem e agitada demais para falar. Um bom conselho na época, agora é tão útil quanto dizer "Use suas ferramentas" para um operário da construção civil que perdeu seu chicote elétrico.

"Ela me disse para levar a vida com calma, como a grama cresce nas represas / Mas eu era jovem e tola, e agora estou cheia de lágrimas", Bia recita para o céu, e por dentro eu grito de felicidade. Posso não ter minhas palavras, mas ela tem as dela.

"O poeta", digo, reconhecendo os versos de um dos poemas que li em sua coletânea. "O que eu ganho?"

Ela olha para mim, surpresa, depois sorri para si mesma e se encosta em mim novamente. "Não sei. Nunca pensei em um prêmio. Imaginei que levaria meses até você acertar. Mas nunca pensei que o que você adivinhou seria o meu favorito."

"Você quer dizer o poeta?"

"Hum-hum."

"Que sorte. Li isso no meu livro há alguns dias. Curto, fácil de entender. Gostei. Faz um sentido universal, eu acho."

"Sim."

Outro longo período de silêncio se passa como um iceberg em um oceano negro como tinta. Com um dedo, traço distraidamente o desenho de um pássaro impresso no cobertor.

Ela encosta a cabeça no meu ombro. "Aninha... há quanto tempo você quer me beijar?"

Engulo em seco. "Não sei. Umas duas horas, eu acho?"

"Seja honesta."

"Eu sou."

"Não, não é." Ela se senta e se afasta de mim. "Eu te conheço a vida toda e já te disse antes: consigo te ler como um livro."

"Eu não sei o que você-"

"Droga, Aninha, você é uma péssima mentirosa e eu não sou tão idiota assim, então, se você tem o mínimo de respeito por mim, pare com essa farsa. Chega de fingir." Sua exigência perfura o ar entre seus lábios e minhas orelhas. "Quanto. Quanto tempo."

Tudo dentro de mim trava, e ainda bem, porque, se não travasse, tenho quase certeza de que o ravióli de antes voltaria. Presa em ponto morto como está, meu cérebro não consegue inventar uma boa mentira, então não há como escapar. Fecho os olhos, não consigo acalmar o coração e decido descer da prancha com toda a dignidade que me resta. "Não sei, e essa é a verdade. Não posso te dar uma resposta exata. Faz... faz anos." O pássaro no cobertor me encara, sem piscar. "Estou ferrada assim há anos. Simplesmente não sei."

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmurio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

"É, eu também não..." Seus ombros tremem enquanto ela coloca as palmas das mãos sobre os olhos e as palavras irrompem dela como um vulcão de fluxo de consciência. "Eu só... eu não consigo evitar, Aninha. Eu não queria... Mas você... Tudo o que você fez, que você desistiu, e você me levantou quando eu caí, e colocou sua vida em espera por mim, e eu deito na cama à noite e tudo o que consigo pensar é no que você me disse naquela vez, e me pergunto onde no mundo eu encontraria alguém que, que, jogaria tudo de lado daquele jeito por mim, e a única resposta que eu conseguia ver não importava para onde eu olhasse... Eu só... Você tem ideia de como é estar tão confusa? Carregar uma pergunta dentro de mim por anos que eu queria te fazer e esperava que você quisesse me perguntar, mas as consequências são tão ruins se eu estiver errada que é melhor não fazer nada?

"Então, chegamos à noite e, mesmo sabendo que é isso, tenho que fazer isso hoje à noite ou será tarde demais. Não consigo imaginar abrir mão do que tenho com você. Não posso jogar tudo fora como um bêbado em um cassino, mas o ponto sem volta está cada vez mais perto, e o DJ diz que é minha última chance de um beijo, então é claro que vou aproveitá-la, e você, você congela. Tudo o que consigo pensar é em como estraguei a noite, mas como foi boa, em como você deve estar brava, mas como não posso voltar atrás, e não posso deixar o momento escapar de mim, então ou estrago tudo ou ganho tudo quando o cara ou coroa parece fraudado! Eu estou tão... tão...!"

Ela passa alguns segundos respirando, o peito arfando, lutando para soltar a última palavra, e eu percebo que não soltei o ar que estava prendendo o tempo todo. Dou um chute nos pulmões e eles se contraem. Há um milhão de coisas que eu poderia dizer, um bilhão de pensamentos passando pela minha cabeça, mas não consigo dizer tudo, então estendo a mão, pego o maior e mais fácil de entender e deixo escapar. "Senti vontade de viver para sempre e morrer ali mesmo, ao mesmo tempo. Eu também estava com medo, Bia. Eu também estava com medo."

O cerco acabou; minha cidade jaz em ruínas. Tudo o que me resta agora são lágrimas. Curiosamente, a admissão, arrancada das sombras e forçada à luz, parece menos ameaçadora do que antes. Ela existe, foi reconhecida e, apesar da terrível verdade, inclino a cabeça para trás e giro o pescoço como se sentisse o alívio de uma pressão há muito contida. O peso, como diz o clichê, sai dos meus ombros. Não é mais minha âncora, e não me afogo mais sob seu poder.

As palavras "sim" escapam de seus lábios como um murmúrio.

Fungo, lutando contra os seios nasais que se fecharam por algum motivo. "O quê?"

"Eu disse que sim. Eu não estava dormindo naquela noite."

O hospital. O quarto dela. Deitada ao lado dela na cama, tão certa de que ela estava inconsciente. Inclinada, sussurrando: "Eu sempre a amaria e faria qualquer coisa por ela". Ela ouviu. Ela sabia. Ela sempre soube. O segredo mais importante que já guardei na minha vida, aquele que jurei que ninguém jamais descobriria, a última maneira de proteger Bia, e eu estraguei tudo anos atrás.

Ela balança a cabeça. "Eu tentei te dar dicas, sabe? Coisinhas, aqui e ali, para te sondar, ver se eu entendia alguma coisa. Versos de poemas com tema parecido. Eu suspeitava, mas você sempre foi tão cuidadosa que eu não consegui provar."

Lentamente, o quebra-cabeça começa a se encaixar. A imagem fica mais clara. Passar aquela noite na minha cama. Nunca me preocupar em ficar nua na minha frente. Nunca me envergonhar quando a ajudei a sair da banheira. Será que ela precisava da minha ajuda depois dos últimos anos? Será que tudo o que aconteceu com aquele beijo aconteceu porque ela também tinha sentimentos, como eu? Há quanto tempo eles estavam reprimidos? Quanto tempo passei com ela, tão perto que eu conseguia sentir sua pele na minha só de fechar os olhos, tão absorta em nunca tornar meus desejos óbvios que eu estava ignorando cada sinal que ela transmitia?

"Achei que tinha a resposta quando você perguntou se podia me levar hoje à noite, mas eu queria que tudo fosse uma surpresa, então não pude dizer mais nada. Quando você e eu estávamos na sala, antes da mãe começar a se preocupar com as fotos, você me olhou bem nos olhos e eu pensei que talvez tivesse visto um vislumbre. Aí, quando o fotógrafo tocou no assunto, você ignorou tão rápido que pensei que eu devia estar enganada." "O que eu deveria fazer? Te dar um boquete na frente deles?"

"Não! Quer dizer, não foi isso que eu... Os sinais se cruzaram, só isso. E depois, quando aconteceu, eu não queria impedir, mas você parecia tão brava, e..."

"Eu parecia brava? Você não disse nada, e a sua expressão era de 'Não quero falar com você agora'. Não foi como eu imaginei, só isso."

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