Eu acho que amo minha mãe
Meu nome é Alice, mas desde que me entendo por gente, todo mundo me chama de Kyoko. Foi minha mãe, Lila, quem deu esse apelido. Ela tinha dezenove anos quando eu nasci, obcecada por uma série de animação japonesa cuja heroína se chamava assim. "Kyoko era forte, determinada e tinha um coração puro", ela me dizia, alisando meus cabelos rebeldes. "Como você será." Eu me apeguei ao nome. "Alice" era a menina que existia em documentos escolares. "Kyoko" era quem eu era para a mamãe.
E a mamãe, Lila, tinha agora vinte e nove anos. Uma mulher jovem, cheia de uma energia que a vida não conseguira totalmente apagar. Trabalhava como designer de interiores, e nossos dias eram um balé de encontros e desencontros. Eu, com meus dezesseis anos carregados de todas as tempestades hormonais e filosóficas dessa idade, e ela, tentando equilibrar a criação de uma filha quase adulta com os resquícios de sua própria juventude.
Foi numa dessas noites, vendo um filme bobo no sofá, que o terremoto interno começou. Ela estava com os pés encolhidos sob o cobertor, com uma xícara de chá fumegante nas mãos. A luz da TV pintava seu rosto de azul e prata, e eu, de repente, notei coisas que nunca havia notado antes. A curva suave de seu pescoço, a maneira como seus olhos claros brilhavam mesmo na penumbra, a textura macia de sua voz quando ela ria de uma piada besta do filme. Um calor estranho, intenso e completamente novo subiu pelo meu peito, apertando minha garganta. Senti uma vontade inexplicável de tocar seu rosto, não com a inocência de uma criança, mas com uma reverência que me assustou.
Naquele momento, uma palavra ecoou na minha mente, nítida e aterrorizante: paixão.
A partir daí, foi como se um véu tivesse caído. Comecei a ver minha mãe não mais como apenas minha mãe, mas como Lila. Uma mulher. Jovem, bonita, com um jeito desengonçado de usar salto alto e uma determinação de aço por trás de um sorriso fácil. Observava as mãos dela, longas e capazes, e imaginava como seria tê-las acariciando meu rosto de uma maneira que não fosse maternal. Sentia ciúmes dos colegas de trabalho, dos poucos homens que a chamavam para sair e que ela, sempre gentilmente, recusava. "Tenho minha Kyoko", ela dizia, e meu coração se enchia de um triunfo doente e confuso.
Chorei no travesseiro por noites a fio. Pesquisava freneticamente na internet, envergonhada, por "sentir atração pela própria mãe". As respostas eram ou pornográficas ou clínicas demais, nada que capturasse o turbilhão de devoção, admiração e um desejo que eu nem sequer entendia que se alojava em mim. Era como amar uma estrela: uma adoração avassaladora, mas com a dor aguda de saber que você nunca poderia tocá-la da maneira que seu coração, traiçoeiro, insistia em desejar.
A confusão durou meses. Eu me afastei. Respondia com monossílabos, trancava-me no quarto. Mamãe, claro, percebeu. Um dia, ela bateu à minha porta e entrou sem esperar resposta. Seus olhos estavam vermelhos.
"Kyoko, o que eu fiz? Por favor, me fala. Eu não aguento mais essa distância."
E eu, num rompante de coragem e desespero, deixei escapar, com a voz embargada e os olhos fixos no chão: "É porque eu te amo de um jeito que não deveria."
O silêncio que se seguiu foi o mais pesado da minha vida. Eu esperava repulsa, nojo, um grito. Mas então, senti sua mão, quente e familiar, sob meu queixo, erguendo meu rosto.
"Kyoko", ela disse, sua voz era um fio, mas firme. "Não existe um jeito 'errado' de me amar. O amor é um oceano, querida. Tem marés, tem correntezas, tem partes calmas e tempestades. O que você está sentindo é real. E nós vamos navegar por isso juntas."
E navegamos. Foi ela quem, com uma paciência de sábia, começou a desembaraçar os fios dos meus sentimentos. Levou-me para passeios de carro, onde a privacidade do veículo em movimento nos permitia falar de coisas difíceis.
"Me conta o que você sente, Kyoko. Descreve para mim."
E eu, aos prantos, falava da admiração avassaladora, da necessidade de ser a pessoa mais importante da vida dela, do medo de perdê-la para alguém, daquela sensação física estranha que me assustava.
Ela ouvia. Sempre. E então, começou a devolver minhas palavras, mas reorganizadas por uma lente que apenas uma mãe, e uma mãe tão jovem, poderia ter.
"O que você chama de 'paixão', minha flor, eu acho que é o amor mais puro que existe, disfarçado. Você está crescendo, descobrindo o mundo dos adultos, e o primeiro e maior exemplo de amor que você tem sou eu. É natural que você se sinta confusa."
Num sábado à tarde, estávamos no quarto dela, e eu a observei enquanto ela tentava escolher uma cor para uma almofada. Ela pegava amostras de tecido, comparava, franzia a testa. De repente, ela pegou uma foto nossa, de quando eu tinha uns sete anos, pendurada na parede. Estávamos ambas com a boca cheia de bolo, rindo como loucas.
"Você vê esta foto, Kyoko? O amor que eu sinto por você está neste riso. Está em te dar banho quando você era bebê, em segurar seu cabelo quando você vomitava, em ficar acordada a noite toda com seus medos. É um amor que constrói. O que você está sentindo agora... talvez seja um amor que admira. Que venera. E não há nada de errado nisso. É lindo."
Foi como se uma porta pesada se abrisse dentro de mim. Eu não queria Lila de uma maneira romântica ou sexual. O que eu queria era a essência dela. Queria sua força, sua resiliência, sua capacidade de amar incondicionalmente. Aquele calor no peito não era desejo; era um reconhecimento profundo da mulher incrível que ela era, e um anseio desesperado de que um pedaço daquela grandeza habitasse em mim.
O ápice da minha compreensão veio no meu aniversário de dezessete anos. Ela me deu um diário em branco, com a capa forrada de tecido de uma das suas antigas blusas.
"Escreva", ela disse. "Escreva sobre o que você sente por mim, pelos seus amigos, pelos garotos da escola. Escreva sobre seus sonhos. O amor não é uma coisa só, Kyoko. É um espectro. O que você sente por mim é único. É a raiz de tudo. É o amor que te sustenta para que você possa, um dia, experimentar todos os outros."
Naquela noite, escrevi a primeira entrada no diário. Escrevi sobre o dia em que me senti confusa. E então, escrevi sobre o alívio de entender. Entendi que o que eu sentia era uma forma profunda, quase espiritual, de admiração e gratidão. Era o amor de uma filha que, ao se tornar mulher, via na sua mãe não uma rival, nem um objeto de desejo, mas um farol. Um ideal.
Hoje, olho para Lila, minha mãe de trinta anos, e meu coração se expande de um amor claro e tranquilo. Amo o som de sua risada, a textura da sua mão na minha testa quando estou doente, a luz teimosa em seus olhos. É um amor que não compete, não possui, não deseja. É um amor que simplesmente é. É o porto seguro que me permite sonhar em navegar para mares distantes.
E eu, Kyoko, finalmente entendi. O amor que habitava em mim por ela não era um desvio, era a base. A primeira e mais importante lição de como amar, em todas as suas formas complexas e belas. E era, acima de tudo, um amor que só uma filha poderia sentir por sua mãe. Puro, eterno e, finalmente, compreendido.
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Comentários (7)
Alex: Não esquece de postar a parte dois, moça, por favor. Ansiosíssimo para o próximo conto. :-)
Responder↴ • uid:ona32tuhrjKyoko sapatona: Eu fiz história das minhas amigas, vao ver
• uid:w72dg9m2Henrique: Surpreendente
Responder↴ • uid:1ebi6b6m4gl0PRC: Que coisa linha o seu texto. TB surpreso por encontrar essa sua história. Vc sabe colocar no papel o que sente, siga em frente não pare. O que vem depois, vem depois. Bjs para vcs duas.
Responder↴ • uid:y4zb6dbdfykKyoko sapatona: Aconteceu um monte de coisa, logo logo posto a parte dois;--;
• uid:w72dg9m2Alex: Estou sem palavras. Jamais imaginei encontrar algo assim nesse tipo de site. Estou tão surpreso quanto adimirado, e contente por ler esse conto. Meu parabéns!
Responder↴ • uid:ona32tuhrjKyoko lésbica: Obrigada<3
• uid:w72dg9m2