A carta

Se esperam sexo...não leiam, para depois não criticarem, è uma história sem sexo.

Estacionei o carro, sim eu vou-te escrever uma carta, Inês...amanhã vou-me casar com a Teresa, a tua irmã. No fundo deves ter adivinhado que com a tua ausência eu e ela acabaríamos por nos juntar.
Já sabias que ela me amava, e sabias que eu acabaria por deixar de comparar ela contigo, e perderia o meu medo de a amar também.
Pronto amanhã ela não vai ocupar o teu lugar, vai apenas ocupar o lugar dela na minha...nossa vida, e deixar-se ser amada por mim e por aqueles que a rodeiam, quero fazer ela feliz, apenas isso.
Bem vamos lá escrever-te a carta que eu quero escrever.

Olá, Inês. Sou eu o Martim.
Pois...nem sei como te dizer... sabes como eu sou, muito desenrascado a conversar com qualquer pessoa deste planeta, mas quando é contigo... é diferente. Perdoa-me mas vou divagar um pouco... está um lindo dia de Verão, está calor... e aqui estou eu parado ao quilômetro 12 da A1, sentido Lisboa - Porto, quando eu trabalhava como médico no INEM, e tu eras bombeira socorrista.
Houve um acidente aparatoso, com alguns feridos, graças a deus não muito graves, e estava eu tratando da Mónica, aquela menina linda que partiu a perna, quando chegaste perto de mim e te ajoelhaste ao meu lado e perguntaste se eu precisava de ajuda...lembro-me de olhar para o lado e vi o teu rosto pela primeira vez, e fiquei sem saber o que falar... no meio daquele caos, de carros acidentados, ambulâncias, pessoas a serem evacuadas, apareceu um anjo...tu Inês.,
Perguntas-te outra vez:

- DOUTOR...PRECISA DA MINHA AJUDA???
- MEU DEUS ÉS TÃO BONITA...

Foi a minha resposta... olhaste para mim com uma cara de quem não entendeu a resposta, eu mesmo disse as palavras que estava a pensar naquele momento,, e quando em apercebi do que disse, atrapalhado disse:

- NÃO...ESTÁ TUDO CONTROLADO...PODE IR AJUDAR OUTRAS PESSOAS, OBRIGADO...

Tu rapidamente sais-te de perto de mim e foste socorrer outras vítimas do acidente, e eu encaminhei a Monica para o hospital, e fui ver se era necessário socorrer mais pessoas, e já só te vi ao longe, estavas a ir embora para um hospital numa ambulância.
Depois de tudo estar resolvido, andei á tua procura pelas cooperações de bombeiros que estiveram naquele acidente e finalmente encontrei-te.
Estavas fardada, conversando com os teus colegas no exterior do quartel...teus cabelos castanhos claros, teus olhos castanhos, um sorriso encantador...estavas sempre a sorrir, a tua silhueta espetacular, mesmo fardada, parecias uma deusa.
Passei a ir ao teu quartel quase diariamente, venci-te pela exaustão, LOL Aceitas-te sair comigo e 2 anos depois estávamos casados.
Eu fui tão feliz contigo...deixei o INEM e tornei-me médico de medicina familiar, para que nossos filhos, Paula, Tomé, e a Vanda estivessem mais acompanhados por nós... estava tudo tão perfeito...até que... morreste naquele maldito fogo... eu não acreditei, recusei-me terminantemente a aceitar a tua partida...só quando vi o teu corpo inerte...frio... sem o teu sorriso... tive de acreditar...aceitar jamais o farei.
O dia mais complicado da minha vida...bem foram vários naquela altura, mas quando reuni os nosso filhos na sala, e tive de lhes dizer que tu nunca mais lhes irias beijar, acarinhar...ralhar até...queria mentir a eles, mas não podia... chorámos horas agarrados uns aos outros, eu queria mitigar a dor que eu via neles, mas sabia que não iria conseguir...estava impotente, só podia abraça-los e chorar com eles.
O outro dia foi passado um dia, quando regressamos a casa do teu funeral.
Os dias que haveríamos de viver dali para a frente seriam sem ti...e durante muitos meses nós não vivemos...sobrevivemos apenas, apoiando-nos uns aos outros como podíamos, e graças aos teus pais, á Rosa a nossa empregada, e sobretudo graças á tua irmã Teresa, começamos a encarar a vida sem ti.
A Teresa... foi a mãe dos nosso filhos naquela altura, lutou a nosso lado, deu-me força para continuar a viver, e eu sabia que ela estava destroçada por dentro, pois a vossa cumplicidade de irmãs é enorme, são unidas.
E Inês... com o passar do tempo, comecei de novo a tentar recuperar a minha vida de volta, os nossos filhos foram crescendo, a Paula é uma adolescente chata de 14 anos, tudo que eu digo é só para a contrariar diz ela, enfim...adolescentes. Mas está cada dia que passa mais parecida contigo.
O Tomé esse só quer é estudar, por vezes quase tenho que o amarrar para ele sair de casa e ir-se divertir...é como eu era quando tinha a idade dele, e a nossa bebé a Vanda...meu deus tiveste apenas meses para estares com ela, e agora ela tem 6 anos, entra este ano para a escola.
Ela adora ver o álbum de fotos do nosso casamento, a coitadinha procura desesperadamente conhecer-te através de mim, dos teus pais, e da Teresa...ela tem uma ligação tão forte com a Teresa.
Bem, estou aqui parado no carro, no local onde te vi pela primeira vez, armado em lamechas, para te dizer que vou-me casar amanhã outra vez, e sim é com a Teresa.
Não foi como te conheci, que fiquei logo caidinho por ti... não. Conheço a Teresa desde que eu e tu namorávamos, e sempre tivemos uma boa relação, confesso-te que ela ajudou-me bastante durante o nosso namoro, por exemplo contou-me as flores que mais gostavas, a tua comida favorita, e claro que entre as duas ela contou-te tudo, eu sei.
Mas desde que partiste, comecei a ser mais próximo da Teresa, e ela de mim.
Começou por me ajudar bastante com as crianças, como já escrevi, procurando minimizar a tua ausência, com o amor dela pelos nossos filhos...ajuda-me bastante com a Paula, O bicho mais perigoso do mundo é uma adolescente cheia de personalidade, como é a nossa Paula, coma s hormonas todas alteradas, eu sinceramente ás vezes dá-me medo, LOL... e outras vezes lá vem ela aninhar-se ao meu lado, e ei abraço ela, e ela tem conversas adultas comigo...para mim foi tão estranho quando ela quis falar comigo sobre contraceptivos... não reagi como médico, mas sim como pai, e foi uma discussão daquelas bem grandes, e percebi o meu erro e pedi-lhe desculpas, depois de a ter mandado para o quarto de castigo. Sou por vezes um verdadeiro imbecil, mas custa-me olhar para a Paula e reconhecer que está uma mulher... ainda me recordo de a ver nos teus braços, chorando, depois de ela nascer, ou ver ela mamando nas tuas mamas, ou ver ela dar os primeiros passos...ela a cuidar dos irmãos de forma tão responsável...lembras-te de nós dois disfarçados, andando atrás dela e do Tomé, e al ensinando ele a atravessar a estrada só pelas passadeiras, olhando sempre atento para um lado e para o outro...isto depois de ela pedir para levar o irmão á escola, para nos aliviar um pouco.
A Teresa aos poucos, fui-me apercebendo de uma coisa... sabes eu sempre gostei dela, e quando morreste, e com o convívio com ela, fui-me apercebendo que ela é uma mulher extraordinária também, como tu és, e sem dar conta fui me apaixonando primeiro, e depois a paixão tornou-se amor.
Só que eu guardei para mim esse sentimento...sabes tive medo de estar a comparar ela contigo, e apenas o meu sentimento ser consequência da tua ausência.
Namorei com a Lurdes, aquela médica toda boazona, que tu tinhas tantos ciúmes... ela é uma boa mulher, e tu sabias disso, por isso os teus ciúmes.
Ainda estivemos noivos, eu sentia-me bem com ela, adorava fazer sexo com aquele mulherão, mas ... acabei com tudo, apercebi-me que ela era apenas uma tábua de salvação no meu de um mar revolto que era eu...eu não a amava como ela merecia.
Depois andei uns tempos sozinho até que um dia, aconteceu aquilo que iria acontecer de qualquer maneira, eu e a Teresa nos envolvemos.
Saímos juntos, fomos ao cinema, a mim estava a fazer falta sair com uma pessoa adulta, e ela convidou-me para irmos ver um filme e eu aceitei.
Depois fomos andar um pouco, já havia tempos que não estávamos a sós, e falarmos sobre as nossas vidas. Vimos um banco num jardim e sentámo-nos um pouco e falamos durante horas ali sentados, sempre rindo, por vezes recordando-te, e falando também sobre os meninos, e sou sincero...aconteceu um beijo.
Não foi planeado, foi apenas espontâneo... ambos quisemos dar aquele beijo, embora não falássemos sobre esse desejo.
E eu decidi naquele instante colocar as minhas dúvidas e medos de lado, e abri o meu coração a ela, confessei tudo o que sentia por ela, que a amava, que escondia esse sentimento por ter medo de a magoar, se eu não tivesse certeza do que sentia, enfim sabes como eu sou, Inês.
Nem sabes a alegria que fiquei quando ela me disse:

- EU AMO-TE. DESDE QUE TE CONHECI, DESDE O PRIMEIRO DIA.
- AMAS???
. SIM...AMO, MARTIM.
- QUER DIZER QUE NESTES ANOS TODOS EM QUE ESTIVE...
- SIM MESMO QUANDO ESTAVAS CASADO COM A MINHA MANA, EU JÁ TE AMAVA.
- NUNCA DESCONFIEI...EU...
- MARTIM, E ACHAS QUE EU DIRIA ALGUMA COISA??? TU E A INÊS ERAM TÃO IRRITANTEMENTE PERFEITOS UM PARA OUTRO, LOL... SABES ELA SABIA QUE EU TE AMAVA.
- SABIA????
- SIM...SABIA, EU CONFESSEI-LHE ISSO, JÁ DEPOIS DE VOCÊS TEREM SE CASADO E A PAULA TER NASCIDO...MAS ELA JÁ SABIA QUE EU TE AMAVA.
- E TU MANTIVES-TE SEGREDO ESTES ANOS TODOS...
- SIM...CLARO QUE SIM. NUNCA IRIA METER-ME ENTRE TU E ELA, E NÃO TERIA QUALQUER CHANCE, SE TENTA-SE, POIS NÃO?
- NÃO...NÃO TINHAS.
- EU SEI...É DURO ACEITAR ISSO, POR ISSO EU ME AUSENTEI AQUELES DOIS ANOS APÓS O VOSSO CASAMENTO, E CONSEGUI APRENDER A ACEITAR QUE NÃO TINHA HIPÓTESES, E APENAS DESEJAVA A VOSSA FELICIDADE.
- EU NEM DESCONFIAVA. TERESA...DESCULPA EU...
- NÃO SEJAS TONTO. DESCULPAS DE QUÊ???
- SEI LÁ...E A INÊS NUNCA ME CONTOU NADA...
- PEDI SEGREDO.
- ENFIM... AS COISAS FORAM COMO FORAM MAS AGORA TEMOS O FUTURO Á NOSSA FRENTE, TERESA. SABDS QUE AS COISAS ENTRE NÓS JAMAIS SERÃO AS MESMAS...
- EU SEI, MARTIM. E NÃO ME INETRPRETES MAL, MAS EU QUERO TENTAR SER FELIZ AO LADO DO HOMEM QUE EU AMO, TU.
- E EU AO LADO DA MULHER QUE EU AMO, TU TERESA.

E nos beijamos outra vez... e começamos a namorar, quando contámos aos nossos filhos eles ficaram radiantes, eles adoram a tia Teresa, os teus pais...bem foi um pouco estranho para o teu pai, já a tua mãe apenas sorriu e disse que já não era sem tempo.
Namorámos bastante, adoro beijar ela, fazer amor com ela, ela é a mulher que eu amo agora também, Inês.
Sei que tu estejas onde estiveres estás a rir de mim, e que abençoas o minha relação com a Teresa, sabes que ela é perfeita para mim e nossos filhos, não como se fosses tu, não, mas sim á maneira dela.
E isso está bem claro para mim...tu és tu e ela é ela, e quando entendi isso consegui admitir que a amava, e que não a via como se ela fosse uma cópia de ti, mas sim a Teresa que te ama tanto também.
E assim posso viver meu amor com ela, descansado e em paz.
Amanhã vou-me casar com ela...estou tão nervoso como estou em paz, LOL. Sempre fui assim, tu sabes disso.
Sabes que também estarás na igreja, ao nosso lado, abençoando a nossa união...o meu medo é perder ela um dia também...não sei se conseguiria passar por tudo outra vez, Inês.
Bom a carta já vai longa, só tenho apenas mais uma novidade a dar-te, a Teresa contou-nos ontem, que a bebé que espera, vai-se chamar...Inês, pois ontem teve a confirmação de que é uma menina.

Do teu marido, com amor...Martim.

Acabei de escrever a carta, para a Inês, e olhei mais uma vez para aquele sítio, e depois liguei a ignição e conduzi até á escola para ir buscar a Paula e o Tomé, e depois fomos para casa, a Rosa tinha feito um belo jantar... antes fui guardar a carta na caixa que tenho guardada no roupeiro.
Quando regressei a Tersa estava lá em casa, ultimando os pormenores do casamento, ela ontem foi dormir na casa dos pais dela, para lá se vestir de noiva hoje.
Eu hoje acordei nervoso, a Paula já ralhou comigo, LOL, parece mais minha mãe que minha filha.
Daqui a minutos vamos para a igreja, estou já com o smoking de gala vestido, a Paula parece uma princesa, como a Vandinha também, são as nossas madrinhas de casamento e o Tomé o padrinho.
Vou recomeçar a minha vida com a Teresa, não sei o que o futuro me reserva, mas viver ele sem a Teresa é impossível para mim. E viver ele sem de vez em quando escrever uma carta á Inês também é impossível. Um dia daqui a muitos anos espero eu darei as cartas aos nossos filhos, para eles as lerem, Inês e nos conhecerem aos dois um pouco melhor, apenas como um homem apaixonado por uma mulher e não apenas como pai e mãe.